
Perto de completar um ano do período de testes, a empresa Whoosh já alugou seus patinetes para mais de 400 mil usuários. A prefeitura tem acesso a todos os dados da operação e avalia se o Rio vai ou não ter o serviço de forma definitiva e em quais regiões. Rio testa modelo de patinete elétrico antes de liberar expansão do serviço para além da Zona Sul e Centro
Raoni Alves / g1 Rio
No próximo mês de junho a empresa Whoosh, que comanda a operação de patinetes compartilhados no Rio, vai completar um ano de atuação e finalizar seu período de testes na cidade. Com acesso a todos os dados do serviço, a Prefeitura do Rio avalia se vale a pena expandir a oferta para além da Zona Sul e do Centro de forma definitiva.
A iniciativa faz parte do programa Sandbox.Rio, desenvolvido pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, com o objetivo de testar com clientes reais, sob autorização temporária, produtos, serviços ou processos inovadores que não se enquadram na regulação existente.
Segundo o secretário Osmar Lima, a ideia do programa é incentivar o empreendedorismo e gerar dados para aprimorar políticas públicas e a regulação de leis que possam atender as empresas que desenvolvem novas tecnologias e, principalmente, o cidadão carioca.
“O projeto tem gerado insights fundamentais para aprimorar a regulamentação dos patinetes, garantir maior segurança para usuários e pedestres e viabilizar um ordenamento urbano mais adequado. A decisão sobre a ampliação do serviço será tomada a partir da análise dos dados coletados, sempre priorizando a segurança dos usuários e a organização do espaço urbano”, explicou Osmar Lima.
Mais de 400 mil usuários
Até o início de abril, a Whoosh já havia ultrapassado a marca de 400 mil usuários, 1 milhão de viagens e 3,5 milhões de km percorridos na cidade, atuando principalmente na Zona Sul, mas também em algumas regiões do Centro.
A empresa Whoosh já alugou seus patinetes para mais de 400 mil usuários no Rio de Janeiro.
Raoni Alves / g1 Rio
De acordo com o diretor de operações Cadu Souza, a empresa presta um serviço de transporte, através da micromobilidade. Ele define o negócio como uma oferta de mobilidade para a última milha do percurso do usuário, seja para o trabalho, para casa ou qualquer outro destino.
“Somos uma empresa de mobilidade e não de lazer. Não que o turista ou as pessoas que queiram dar um passeio no domingo para curtir não possam alugar o patinete. É claro que podem. Mas a vocação da Whoosh é uma empresa de transporte”, ressaltou Cadu.
O diretor afirmou ao g1 que apesar do grande volume de patinetes vistos pelos bairros da Zona Sul, o principal ponto de locação é na Praça XV, aproveitando o grande fluxo de pessoas que chegam à cidade pelas barcas e precisam de uma maneira rápida de se deslocar até o local de trabalho no Centro.
“É o pessoal que vem para trabalhar. A pessoa desembarca, pega o patinete e vem para o Centro. É fácil, simples e com um custo-benefício muito bom. É a última milha, ou o último ponto que você chega com outro meio de transporte e ali você pega o patinete para o seu destino. Esse último trecho é que a maioria das pessoas usa”, explicou.
Próximo passo é a Barra da Tijuca
A operação da empresa atualmente vai da região da Praça Mauá, no Centro, até o final do Leblon. Passado o período de testes, a Whoosh espera conseguir ampliar seu serviço e poder levar seus patinetes à Barra da Tijuca, na Zona Oeste.
“Nós temos um alinhamento com a prefeitura nesse momento para uma operação que envolve Zona Sul e Centro. Nossa pretensão é, uma vez estabelecida a sequência, é Barra da Tijuca e depois Zona Norte. E depois outros bairros do entorno”.
“Por ser um meio de transporte, não temos uma restrição de atuação. Essa é a intenção, poder atender a cidade inteira”, definiu Cadu Souza.
Ryan Tedder, vocalista da banda OneRepublic, anda de Patinete na orla da praia de Copacabana, durante o período do Rock in Rio 2024
Dilson Silva / AgNews
O controle do percurso do usuário é feito utilizando a tecnologia de GPS. Segundo Cadu, por conta do período de testes, o usuário que sai da zona de atuação pré-definida pela prefeitura, vê seu patinete desligar sozinho.
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Apesar da avaliação positiva do período de testes, a empresa entende que a cidade também precisa se preparar para expandir o serviço. Cadu lembrou da importância de reforçar as conexões cicloviárias e um modelo claro para o estacionamento dos veículos.
“Pra gente poder expandir nossa área de atuação um dos fatores que a gente leva em consideração é a estrutura viária. Não adianta nada eu ir para um bairro cujo acesso só se dá por uma avenida de alta velocidade e sem ciclovia. As pessoas não podem circular por lá”, ponderou o diretor da Whoosh.
Preocupação com a segurança
O g1 mostrou na última semana que os hospitais da rede municipal do Rio registraram um aumento de 702% no total de atendimentos de pacientes envolvidos em acidentes com veículos de micromobilidade, como patinetes elétricos, autopropelidos, ciclomotores e outros veículos urbanos leves.
Os dados são da Comissão de Segurança no Ciclismo do RJ, com informações da Secretaria Municipal de Saúde do Rio via Lei de Acesso à Informação (LAI). O total de acidentes passou de 274 em 2023 para 2.199 em 2024.
Mulher é atropelada por patinete elétrico na contramão, fratura o cotovelo e tem despesa de R$ 13 mil no hospital
Reprodução
Parte desses acidentes envolvem usuários de patinetes, como ocorreu com a aposentada Valéria Beato, de 61 anos. Ela foi atropelada por um patinete elétrico que levava 2 pessoas e trafegava na contramão.
O acidente ocorreu no dia 5 de março, em Ipanema, Zona Sul do Rio, e desde então ela diz não ter recuperado a autonomia — e a cirurgia de reparação custou R$ 13 mil.
Segundo Cadu Souza, todo usuário que aluga um patinete da Whoosh sabe das regras de segurança. O veículo não é permitido para menores de idade e pessoas que consumiram bebidas alcoólicas. Outra regra importante é que o patinete é de uso individual. O transporte de mais de uma pessoa é proibido.
Contudo, essa é uma infração de trânsito bastante comum na cidade. E a própria prefeitura tenta buscar maneiras de fiscalizar e punir quem não segue as regras.
“É fundamental que o usuário seja consciente de como ele tem que usar essa ferramenta. A pedra fundamental da utilização de qualquer ferramenta de micromobilidade, patinete elétrico, bicicleta elétrica, bicicleta, é a educação do usuário. A gente não consegue fiscalizar 24 horas por dia”, comentou Cadu Souza.
Na orla é comum ver duas pessoas em um único patinete. Crianças também foram flagradas conduzindo o veículo.
Raoni Alves / g1 Rio
Durante um evento na Praça Mauá, onde a empresa deu treinamento gratuito para cariocas e turistas sobre as regras para a operação segura dos veículos, além de informar as normas de trânsito, Cadu reforçou que a grande preocupação da empresa é com a segurança de usuários e pedestres.
“Nós temos regras muito claras de utilização. Quando a gente identifica alguém usando o patinete acompanhado, a gente emite uma advertência no próprio aplicativo. Na 3ª vez, ele perde o acesso ao aplicativo. O usuário é bloqueado e não pode mais alugar o patinete”, explicou o representante da Whoosh.
“A gente tem hoje no Brasil mais de 20 mil usuários bloqueados. Para nós é muito mais importante bloquear um usuário para evitar um problema de segurança do que se preocupar em perder a receita de um usuário”, reforçou Cadu.
Recentemente, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico abriu uma consulta pública para receber contribuições da sociedade sobre os patinetes que circulam pela cidade e uma das perguntas aos usuários é sobre como evitar a utilização de duas pessoas por veículo.
Quem quiser responder e colaborar com a iniciativa, basta responder o formulário até o dia 3 de maio, no link: https://bit.ly/sandboxriopatinetes.
Projetos inovadores serão testados
Além do patinete elétrico o Sandbox.Rio selecionou mais cinco projetos que poderão ser testados no dia a dia da cidade antes de uma eventual liberação. Entre os serviços estão:
carros compartilhados;
transporte aéreo autônomo;
uma estação pública de carregamento de bicicleta elétrica;
um modelo de fazenda vertical dentro de containers;
e um projeto de delivery para favelas.
Segundo o secretário Osmar Lima, o município pretende desenvolver um ambiente favorável à inovação e ao desenvolvimento sustentável da mobilidade urbana.
“No contexto da micromobilidade, isso inclui a promoção de projetos como o Sandbox.Rio, que permite testar novos modelos de transporte de forma regulada e segura, e a articulação com diferentes setores para aprimorar a infraestrutura da cidade”, explicou Lima.
O secretario citou como exemplo o projeto Boos Bike, que prevê a instalação de estações públicas de estacionamento e carregamento de bicicletas elétricas. A inciativa pode pintar nas ruas da cidade em breve.
“É mais um incentivo à micromobilidade sustentável e à redução da emissão de gases de efeito estufa, o que se alinha com o Plano de Desenvolvimento Sustentável do Município. Os hubs de carregamento promovem ainda a integração multimodal, permitindo a combinação conveniente de diferentes modos de transporte e libera o espaço urbano para outras finalidades. E a prefeitura está aberta a novas iniciativas que possam contribuir para esse ecossistema”, reforçou o secretário Osmar Lima.