Colégios agrícolas ‘plantam’ conhecimento e colhem mão de obra especializada na produção regional


As 25 cooperativas-escolas estaduais aproximam alunos das novas tecnologias e viabilizam entrada no mercado de trabalho. Especialistas detalham perfil profissional procurado pelo agronegócio. Centro Estadual de Educação Profissional Agrícola Getúlio Vargas, de Palmeira, nos Campos Gerais
Reprodução/CEEPAGV
Espalhados em todas as regiões do Paraná, os colégios agrícolas e florestais da rede estadual de ensino têm como principal objetivo capacitar mão de obra para o agronegócio.
O trabalho nas 25 unidades do estado (veja lista a seguir) busca trazer a tecnologia para dentro das escolas, formando profissionais capazes de acompanhar – e alavancar – os avanços do setor.
“A escola tem que ser o ponto focal de inovação, dali tem que sair a tecnologia para os produtores, e não o contrário”, defende o coordenador dos Colégios Agrícolas da Secretaria de Estado da Educação (Seed-PR), Renato Hey Gondin.
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Nessas instituições, os alunos fazer o Ensino Médio integrado em que, além das disciplinas de formação geral básica, têm disciplinas técnicas. Entre os diferenciais do trabalho dos colégios agrícolas estão as atividades práticas realizadas nas unidades didático produtivas (UDP), conhecidas como Fazenda Escola.
Além disso, cada colégio funciona de forma regionalizada, focada no arranjo produtivo local.
“Quando pegamos o exemplo de Castro, que é uma referência em leite, os alunos têm uma oportunidade maior de lidar com animais em lactação. Então a escola tem a maior leiteria entre todos os colégios. São 87 animais monitorados por microchip. O sistema avisa se a vaca está doente ou vai parir”, explica o coordenador.
Desde julho do ano passado, os colégios agrícolas passaram a funcionar como cooperativas-escola.
A mudança, proposta pelo Executivo e aprovada pela Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), abriu a possibilidade de comércio do que os alunos plantam nas fazendas escola. Toda a receita deve reinvestida na própria instituição.
“O colégio que sonha em ter um drone, por exemplo, pode vender a soja que ele mesmo produziu e aí vai conseguir adquirir esse drone. O resultado é uma escola sustentável, não do ponto de vista ambiental, mas financeiramente. Além disso, os alunos fazem parte da gestão da cooperativa, vão estar inseridos no ambiente cooperativista e verão os frutos disso com a aplicação dos recursos na escola”, cita Renato Hey Gondin.
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Lucas Femin/Seed-PR
Parte do Sistema S, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) no Paraná encontrou uma forma de aproximar as inovações tecnológicas do trabalho feito com os alunos dos colégios agrícolas.
O Programa Agricultura 2030 começou no segundo semestre do ano passado e prosseguirá por cinco anos. A iniciativa apresenta aos estudantes conceitos e ferramentas com as quais eles ainda não estavam familiarizados e que serão cada vez mais necessários ao desenvolvimento do agronegócio, como: drones agrícolas, mecanização agrícola, pecuária e agricultura de precisão.
João Carlos Hoffmann é diretor auxiliar da Fazenda Escola do Centro Estadual de Educação Profissional Agrícola Getúlio Vargas, em Palmeira. De acordo com ele, o modelo de parceria público-privada para formar força de trabalho, muito usado em países visitados por ele como o Canadá.
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“Todos os formandos dos colégios do Paraná terão esse aperfeiçoamento para o mercado do trabalho, com tecnologias avançadas. Nossa escola não tinha por que era muito caro, por isso as parcerias são tão importantes”, afirma.
Ex-aluno de colégio agrícola ressalta a importância da formação que teve para a atuação profissional
Arquivo pessoal
Ramon Jacomel de Souza foi um dos alunos do colégio agrícola de Palmeira que pôde atestar a importância dessa profissionalização.
Atualmente ele trabalha em um escritório que oferece planejamentos, análise de solo, assessoria rural, projeto agrícola e pecuário. Os projetos viabilizam parcerias com bancos para que o produtor tenha uma ampla visão da janela de plantio e facilidade para ter financiamentos aprovados.
“O colégio permitiu a minha entrada nesse ramo por conta dos cursos, como mecanização agrícola e agricultura de precisão”, conta.
Além da parceria com a Secretaria de Educação do Paraná, o Senar leva conhecimento aos trabalhadores rurais por meio de quase 250 cursos presenciais gratuitos.
A definição dos locais em que os cursos serão ofertados é feita por intermédio dos sindicatos rurais, que recebem a demanda local dos produtores e organizam os treinamentos.
Em 2023, foram mais de 100 mil certificados emitidos. Além dos cursos que abordam normas regulamentadoras, a capacitação em operação de drones está entre as mais demandadas desde o lançamento.
Bagagem técnica e socioemocional
Além da familiaridade com novas tecnologias e do conhecimento técnico apurado, que outras competências serão cada vez mais essenciais aos profissionais do futuro?
O coordenador da graduação 4D em Agrodigital da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), Edilberto Nunes, e Orcial Ceolin Bortolotto, professor do departamento de Agronomia e Diretor Administrativo da Fazenda Escola Capão da Onça da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) batem na mesma tecla: habilidades socioemocionais.
“Nas reuniões de que participo com diretores de cooperativas e um público bem ligado ao mercado, os profissionais afirmam que estão cheios de vagas, mas não conseguem preenchê-las, principalmente porque percebem problemas de relacionamento, falta de iniciativa e dificuldade para trabalhar em equipe entre os novos profissionais que chegam ao mercado”, afirma Edilberto Nunes.
De acordo com ele, na universidade essa é uma preocupação diária e que motiva reflexões sobre como a formação dos futuros profissionais pode crescer nesse sentido.
O professor da UEPG complementa: “Cada vez mais percebemos a grande relevância da comunicação. Embora existam ferramentas, é essencial ter uma boa comunicação para fazer a ponte com o produtor e conseguir transmitir as informações”.
Além do ensino superior, habilidades comportamentais, chamadas de soft skills, também são trabalhadas no ensino médio e técnico nos colégios agrícolas.
“Temos procurado na nova matriz trabalhar bastante a comunicação e ensinamentos que trabalham a formação cidadã para além da parte técnica. Uma disciplina muito interessante é a ‘Projetos de Vida’, que busca inspirar o aluno a planejar o que fará como cidadão”, conta João Carlos Hoffmann, diretor auxiliar da Fazenda Escola do colégio agrícola de Palmeira.
Roberth Corrêa Anhaia se formou em 2021 no colégio agrícola Centro Estadual de Educação Profissional Olegario Macedo, em Castro, nos Campos Gerais do Paraná. Além da parte técnica e de conhecimento teórico, ele destaca a contribuição da escola na formação socioemocional.
“O colégio dá um leque de oportunidades enorme, visão de mundo, você fica muito a frente de outras pessoas que não tiveram essa formação. Mas, o grande ‘pulo do gato’ foi a vivência com as pessoas. Quando se é aluno interno, você sai de casa com 14 anos de idade e vai morar 3 anos com pessoas de culturas e realidades distintas, então, acaba aprendendo a lidar com pessoas muito diferentes. Você pode trabalhar em qualquer área, mas todas elas vão depender de relacionamento interpessoal”, reflete.
Roberth afirma que colégio agrícola de Castro também contribuiu para formação socioemocional
Arquivo pessoal
Direto para o mercado de trabalho
O diretor João Carlos Hoffmann reitera que o principal foco do colégio agrícola é o mercado de trabalho. Um dos exemplos de como essa mão de obra vem sendo absorvida pelo mercado de trabalho é o Centro Estadual de Educação Profissional (CEEP) de Arapoti, também nos Campos Gerais.
Considerando o perfil da cidade, que, além de se destacar na produção de leite também é referência na indústria papeleira, desde 2009 a escola oferece o Curso Técnico em Celulose e Papel – único do Paraná entre os colégios agrícolas.
Curso técnico em Celulose e Papel: capacitação se reflete em alta empregabilidade na região
Redes sociais CEEP
Com unidades em Arapoti e Jaguariaíva, o Grupo BO Paper está entre os principais beneficiados pela mão de obra formada no curso técnico.
A diretora do centro de ensino, Dayane de Andrade Oliveira Paulino, explica que, antes mesmo da abertura da turma de 2024 ser autorizada, a empresa já solicitou a indicação de 20 nomes para começarem a atuar no estágio remunerado não obrigatório dentro da fabricante de papéis.
Duarte Gonçalves Silva é gerente geral de produção do grupo e afirma que de 75% a 80% dos alunos que se formam no colégio são contratados pela empresa.
Pela carência de mão de obra especializada, há cerca de 3 anos foi aberta uma exceção no processo de contratação, que até então exigia formação no curso técnico.
“Nossa linha operacional exige capacitação técnica em celulose e papel, então, há 2 ou 3 anos abrimos a exceção da exigência de já ter cursado, abrimos a possibilidade de estar cursando. Isso abriu uma possibilidade para muitos candidatos que ainda estavam cursando serem contratados. Existem alunos que ainda não se formaram que no segundo ou terceiro período do curso já foram contratados por nós, temos funcionários que se formaram depois da contratação. Somos os maiores ‘clientes’ do CEEP”, frisa Duarte.
O gerente geral explica que os formandos do colégio agrícola são inseridos em um programa interno de capacitação que permite agregar a teoria com a prática, em um sistema que passa por diversos setores fabris.
“Os alunos ou ex-alunos que ficam e se dedicam estão evoluindo no mercado e galgando posições. Eles já vêm com formação teórica e nesse um ano que se capacitam na empresa vão agregar os conhecimentos teóricos com a prática real dentro do setor fabril. Temos alunos que são diferenciados e têm uma evolução muito grande, já ocupando 2, 3 ou 4 cargos acima após a capacitação interna. E o que baliza isso? A formação que tiveram, o interesse”, complementa Duarte.
Encontre o colégio agrícola da sua região
Apucarana – Centro Estadual de Educação Profissional Agrícola Manoel Ribas
Arapoti – Centro Estadual de Educação Profissional de Arapoti
Cambará – Centro Estadual de Educação Profissional Agrícola Mohamad Ali Hamzé
Campo Mourão – Centro Estadual de Educação Profissional Agrícola de Campo Mourão
Cascavel – Centro Estadual de Educação Profissional de Agroinovação Professor Moacir Benedito Leme da Silva
Castro – Centro Estadual de Educação Profissional Olegario Macedo
Clevelândia – Centro Estadual de Educação Profissional Assis Brasil
Cruz Machado – Centro Estadual de Educação Profissional Agrícola de Cruz Machado
Diamante do Norte – Centro Estadual de Educação Profissional do Noroeste
Foz do Iguaçu – Centro Estadual de Educação Profissional Manoel Moreira Pena
Francisco Beltrão – Centro Estadual de Educação Profissional do Sudoeste do Paraná
Guarapuava – Centro Estadual de Educação Profissional Arlindo Ribeiro
Irati – Centro Estadual Florestal de Educação Profissional Presidente Costa e Silva
Lapa – Centro Estadual de Educação Profissional Agrícola da Lapa
Manoel Ribas – Centro Estadual de Educação Profissional Agrícola Manoel Ribas
Ortigueira – Centro Estadual de Educação Profissional Florestal e Agrícola de Ortigueira
Palmeira – Centro Estadual de Educação Profissional Agrícola Getúlio Vargas
Palotina – Colégio Agrícola Estadual Adroaldo Augusto Colombo
Pinhais – Centro Estadual de Educação Profissional Newton Freire Maia
Ponta Grossa – Centro Estadual de Educação Profissional Agrícola Augusto Ribas
Rio Negro – Centro Estadual de Educação Profissional Lysímaco Ferreira da Costa
Santa Mariana – Centro Estadual de Educação Profissional Agrícola Fernando Costa
São Mateus do Sul – Centro Estadual de Educação Profissional Agrícola de São Mateus do Sul
Toledo – Colégio Agrícola Estadual de Toledo
Umuarama – Colégio Estadual Agrícola de Umuarama
VÍDEO: Os mais assistidos do g1 PR
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