Jovem autista arrecada chocolates para adoçar a Páscoa de crianças indígenas no litoral de SP


Gabriel aceita doações de todo tipo de chocolate, desde barras até ovos. Há 12 anos, ele se dedica ao voluntariado às causas indígenas e pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Gabriel (de óculos, à esq.) tem projeto que ajuda aldeias indígenas na Baixada Santista
Arquivo pessoal
Um morador de Praia Grande, no litoral de São Paulo, está arrecadando chocolates para alegrar a Páscoa de crianças indígenas de toda a Baixada Santista. Aos 24 anos, Gabriel José Lemos da Silva, que tem Transtorno do Espectro Autista (TEA), divide a rotina como garçom em uma pizzaria e como voluntário em aldeias, dedicando-se também à causa autista.
✅Clique aqui para seguir o canal do g1 Santos no WhatsApp.
“Eu estou arrecadando todos os tipos de chocolate. Barra de chocolate, ovo, caixa de Bis. Tudo que a pessoa puder doar vai ser bem-vindo, porque um chocolate vai fazer uma criança muito feliz”, disse ele ao g1.
Ajudar está na essência de Gabriel desde 2012, quando ele tinha apenas 13 anos. Ainda adolescente e sem muitos recursos dentro de casa, ele entrou em contato com uma Organização Não Governamental (ONG) para ser um voluntário. Sem parar desde então, Gabriel passou a mobilizar amigos e familiares e, em toda data comemorativa, procura alegrar um pouco a rotina das famílias.
Atualmente, ele atende cerca de 20 aldeias, nas cidades de Peruíbe, Mongaguá, Itanhaém, Praia Grande e São Vicente, além de outros municípios no litoral Norte. Para esta Páscoa, por enquanto, ainda não conseguiu chocolate suficiente para todas as comunidades.
“Por enquanto, eu só consegui para duas aldeias. Então, está bem difícil, mas todo ano eu faço alguma coisa porque eles não têm nada. É uma realidade muito diferente”, destacou.
Motivação
Jovem ajuda indígenas da região com o Projeto Biel Silva
Gabriel conta que sempre foi alvo de bullying. Pouco antes de entrar para o voluntariado, uma professora teria o desencorajado dizendo: “tudo que você não conseguir na sua vida, você desiste, porque você nunca vai conseguir nada mesmo”. Essa época foi difícil para o garoto, que ficou uma semana sem ir para a escola.
Na época, uma amiga o apresentou uma ONG que realizava trabalhos de voluntariado em aldeias locais. Sem saber o que esperar, ele embarcou na ideia e ajudou a arrecadar caixas de bombons em um mercado. Os doces foram levados à Aldeia de Paranapuã, em São Vicente. Lá, Gabriel conheceu conheceu uma criança que o comoveu.
“Eu vejo essa criança saindo correndo lá do fundo da aldeia chorando, me agacho com uma caixa de bombom e ela, chorando muito, fala: ‘tio, eu não quero uma caixa de bombom. Eu estou com fome de comida, eu estou há 3 dias sem comer’”, relembrou Gabriel.
O relato da pequena abriu os olhos do jovem. Ele passou a noite na aldeia e, no dia seguinte, conversou com os pais e conseguiu entregar uma cesta básica para a família carente. “A gente não tinha nada em casa. O que a gente tinha eram alguns alimentos, um pouco de roupas e um saco de brinquedo. E eu tirei tudo que a gente tinha”, explicou.
Gabriel arrecada roupas, alimentos e brinquedos com destino a aldeias indígenas na região
Arquivo pessoal
‘O que eu gosto de fazer’
Em pouco tempo, Gabriel passou a ser procurado por outras comunidades indígenas e, atualmente, atende aproximadamente 20 na região.
“As comunidades indígenas são comunidades muito grandes, então eu faço arrecadação de tudo que eles precisam. Cesta básica, roupa, material escolar, porque as escolas indígenas estão dentro da aldeia. É muito precária a situação deles, é muito difícil”, destacou.
A causa autista é outra coisa comove e dá sentido para a vida de Gabriel. “Eu sou autista, e por eu ser autista, por ter sofrido bullying, eu ajudo muitas ONGs aqui de Praia Grande”, explicou. “E é o que eu gosto de fazer. São duas causas que eu amo”.
VÍDEOS: g1 em 1 Minuto Santos
Adicionar aos favoritos o Link permanente.