Economistas divergem sobre críticas do Wall Street Journal ao protecionismo brasileiro

Brasil protecionismo

Uma publicação recente do Wall Street Journal colocou o Brasil no centro do debate global sobre políticas protecionistas. Segundo o jornal, o país seria um exemplo negativo de modelo econômico fechado, baseado em tarifas elevadas, controles cambiais e entraves burocráticos. De acordo com a reportagem, esse conjunto de fatores comprometeu a produtividade nacional, resultou na perda de competitividade e elevou os preços ao consumidor.

O WSJ lembra que, nos anos 1980, a indústria de transformação representava 36% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Hoje, esse número caiu para 14%. O jornal também critica a estratégia de usar o consumo doméstico como motor artificial durante períodos de crise, além de apontar o chamado “Custo Brasil” como um dos principais entraves ao crescimento econômico sustentado.

Alexandre Espírito Santo: “Concordo 100% com a crítica”

O economista e comentarista Alexandre Espírito Santo afirmou que concorda integralmente com a análise do Wall Street Journal. Para ele, o Brasil adotou, ao longo de décadas, um modelo que priorizou a substituição de importações, inspirado em diretrizes da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), e isso teve consequências severas.

“O produto no Brasil custa muito mais caro do que nos nossos concorrentes”, disse. Segundo ele, a elevada carga tributária e os incentivos mal calibrados afetaram a produtividade e dificultaram a inserção do país nas cadeias globais de valor.

Alexandre defende que o Brasil aproveite o atual momento de reorganização geoeconômica para buscar maior abertura comercial. No entanto, reconhece que o ambiente político não favorece esse tipo de avanço:
“A gente vive um ambiente de Fla-Flu, Corinthians x Palmeiras. Ninguém quer conversar. Isso atrapalha muito o debate econômico.”

Felipe Salto: “Haja paciência, né”

Já o economista Felipe Salto discorda da avaliação feita pelo WSJ. Para ele, a crítica ignora os movimentos de abertura que o Brasil realizou ao longo dos anos, especialmente nos anos 1990, com os governos Collor e Fernando Henrique Cardoso.

“Nos anos 90, ainda no governo Collor e depois no governo Fernando Henrique, houve uma abertura importante”, afirmou. No entanto, ele explica que essa abertura ocorreu “sobretudo na conta de capital e financeira”, enquanto a conta comercial permaneceu mais fechada — o que ajuda a entender a volatilidade cambial que o país ainda enfrenta.

Salto também destaca que o protecionismo não é exclusividade brasileira. “O protecionismo é uma prática histórica nos Estados Unidos”, disse, mencionando os subsídios e incentivos sistemáticos adotados por governos de ambos os partidos. Segundo ele, o atual modelo americano se aproxima de uma lógica “mercantilista”, focada em eliminar déficits comerciais — algo que contradiz o próprio modelo de crescimento dos EUA, tradicionalmente sustentado por déficits e entrada de capital externo.

Apesar de reconhecer que o Brasil ainda mantém “subsídios tributários muito elevados”, ele rejeita a tentativa de pintar o país como vilão: “Haja paciência, né.”

Protecionismo no curto e longo prazo

A reportagem do Wall Street Journal alerta ainda que políticas protecionistas podem preservar empregos no curto prazo, mas tendem a comprometer o crescimento econômico no longo prazo. O jornal faz um paralelo com os Estados Unidos, argumentando que, ao seguir um caminho semelhante ao brasileiro, o país pode repetir os mesmos erros históricos.

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