
Ações realizadas através de recursos de organização garantiram projetos e levantamentos importantes para o cuidado da área. Registro de sagui (Callithrix sp.) utilizando a Passagem Superior de Fauna instalada no Horto Florestal
Fábio Ferrão
Quando se fala em conservação, a união de esforços é o que promove grandes resultados. Prova disso é um projeto desenvolvido a partir de investimentos do Rotary Internacional, uma organização internacional de clubes de serviço, formada por líderes comunitários que se reúnem para prestar serviços humanitários.
Com recursos disponibilizados depois de alguns estudos, foram realizados diversos projetos de na conservação da fauna e da flora na região da Serra da Cantareira, mais especificamente no Parque Estadual da Cantareira e no Horto Florestal. Isso graças a um despertar que começou no Rotary Club de São Paulo, na região do Tremembé.
Várias visitas foram realizadas na região, a fim de levantar as necessidades do lugar. O biólogo Fábio Ferrão Videira, especialista em Gestão e Tecnologias Ambientais participou do projeto.
“Propus duas frentes, sendo a instalação de ninhos artificiais e a construção de Passagens Superiores de Fauna, considerando que na época eu era o presidente do Centro de Estudos Ornitológicos (CEO) e também o coordenador da Comissão do Verde e Meio Ambiente do Centro Médico da Polícia Militar e já possuía grande experiência em construção, instalação e monitoramento de passagens superiores de fauna, totalizando quatorze já instaladas com sucesso no Estado de São Paulo”, explica.
Os gestores dos parques removem árvores comprometidas e mortas para evitar acidentes aos frequentadores. No entanto, como essas árvores contém cavidades que são usadas por algumas espécies, foi proposta a instalação de caixas-ninho, para ajudar na nidificação das aves e reprodução da fauna silvestre de vida livre
Durante mais de um ano, entre 2023 e 2024, uma equipe de voluntários realizou o monitoramento dessas caixas. “Das dezenove caixas-ninho do projeto, somente quatro não foram usadas pela fauna selvagem de vida livre. Em porcentagem, podemos afirmar que 79% das caixas-ninho foram utilizadas com sucesso, inclusive mais de uma vez por aves, abelhas, marimbondos, vespas, formigas, entre outros insetos e também por mamíferos, como o saruê”, complementa Fábio. Entre as espécies de aves que utilizaram as caixas-ninho estão o bem-te-vi-rajado (Myiodynastes maculatus) e a corruíra (Troglodytes musculus).
Caixa-ninho nº 6 sendo utilizada por bem-te-vi-rajado (Myiodynastes maculatus)
Fábio Ferrão
Já em relação às passagens superiores de fauna, a equipe de biólogos fez a instalação de três delas. A primeira em junho de 2023 no interior do Horto Florestal de São Paulo, com 100 metros de comprimento e autorizada pela Urbia (concessionária que administra o local).
A segunda com 60 metros foi instalada no fim de 2023 sobre a Estrada Santa Inês, ligando o maciço florestal do Parque Municipal Linear Córrego do Bispo com o do Guaraú, pertencente à SABESP. A última passagem superior de fauna, com 19 metros de comprimento foi instalada em junho do ano passado.
“Na passagem superior de fauna do Horto Florestal, registramos a utilização com grande frequência de grupos de macaco-prego e de saguis”, destaca Ferrão.
Registro de macaco-prego (Sapajus sp.) utilizando a Passagem Superior de Fauna instalada no Horto Florestal
Fábio Ferrão
Documentário
O trabalho de conservação se transformou num vídeo chamado de “Help and Protect the Enviroment of Cantareira Parks”, em português: Ajude e Proteja o Meio Ambiente dos Parques da Cantareira. O documentário está disponível no YouTube.
Em quinze minutos, os biólogos, representantes dos parques e do Rotary mostram como a união de forças podem fazer a diferença na defesa do planeta. O filme mostra em detalhes toda a ideia, execução e monitoramento do projeto.
Recursos Internacionais
Bruno Pattini, tesoureiro do Rotary Club de São Paulo Tremembé que os recursos internacionais da organização foram o que tornou possível todo esse trabalho. “Em meados de 2021 recebemos o contato de Renato Rosseto associado do Rotary Club de Saronno/Itália e sócio honorário do Tremembé sobre a possibilidade de apresentarmos uma proposta de um Projeto Global para apreciação do comitê de clubes”, conta.
No entanto, para a liberação do recurso é preciso atender critérios rigorosos entre eles ser desenvolvido por dois ou mais clubes de países diferentes e estar enquadrado em uma da seis áreas de enfoque do Rotary Internacional.
Caixa-ninho nº 8 sendo utilizada pela corruíra (Troglodytes musculus), onde encontraram 4 ovos
Fábio Ferrão
Em conjunto com a administração pública foi desenhada a proposta inicial de projeto que viria a ser aprovada pelos clubes europeus.
“Este tipo de subsídio costuma ter uma maior relevância financeira pois utiliza além dos fundos dos clubes, os Fundos da Fundação Rotária, a instituição de caridade do Rotary International que apoia projetos humanitários em todo o mundo, um fundo mantido desde 1928 pelos mais de 1,2 milhão de rotarianos no mundo”, detalha.
Em junho de 2020 o projeto foi aprovado, sendo um dos primeiros a ser aprovados e realizados no Brasil, um dos cinco primeiros aprovados no mundo.
O estudo de necessidade teve início em julho de 2021, a aprovação final pela Fundação Rotária se deu no ano seguinte. Os trabalhos foram desenvolvidos entre 2023, 2024. A previsão de encerramento é maio deste ano.
Processo de conclusão
Bruno Pattini explica que os recursos do Rotary também ajudaram na compra de colares GPS para monitoramento de primatas, além de novos rádios em viaturas e aquisição de placas de orientações que foram instaladas nas áreas e soltura de bugios, animal símbolo do Parque da Cantareira.
O trabalho do reforço de reintrodução dos bugios deve ser mantido pela equipe de Divisão de Fauna Silvestre da Secretaria do Meio Ambiente da Prefeitura de São Paulo com o apoio da Fundação Florestal do Estado. As estruturas de passagem de Fauna serão mantidas pela Fundação Florestal.
Passagem superior de fauna permite a passagem segura da fauna arborícola entre fragmentos de floresta
Fábio Ferrão
“Estamos muito satisfeitos com o resultado, o projeto foi muito desafiador pois envolveu pesquisadores do Estado, da Prefeitura, aprovações de órgãos federais, entre outros, mas o resultado final compensou muito e até superou nossas expectativas. Esperamos que estimule outros clubes e entidades a realizar ações semelhantes”, conclui Bruno.
“Foi uma ação extraordinária, pois uma entidade com recursos internacionais como a Fundação Rotária providenciou por conta própria e com maestria, ações ambientais que deveriam ser realizadas pelo poder público Estadual e Municipal, mostrando à sociedade que quando há mobilização e vontade conseguimos mudar o andamento das coisas”, finaliza o biólogo Fábio Ferrão.
VÍDEOS: Destaques Terra da Gente
Veja mais conteúdos sobre a natureza no Terra da Gente