
Nessa semana que, por força dos feriados, se encerra hoje (17), uma cena chamou a atenção e causou rebuliço no mercado político: o encontro do prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo (sem partido), com o presidente estadual do Republicanos, Erick Musso, registrado em foto e eternizado nas redes sociais.
A imagem do encontro – que incluiu também o deputado federal Victor Linhalis (Podemos) – por si só já seria emblemática. Mas a legenda da foto, escrita pelo prefeito, foi a responsável por gerar todo e qualquer tipo de especulação possível (e impossível também, no cenário de hoje).
Recebendo Erick Musso, ex-presidente da Ales, e o deputado federal Victor Linhalis. Conversamos sobre os desafios das grandes cidades e o futuro do Espírito Santo!”, escreveu Arnaldinho, em seu perfil no Instagram.
O prefeito faz parte da base aliada do governo do Estado, é aliadíssimo de Casagrande. Em 2022 não mediu esforços para pedir votos na reeleição do governador que, por sua vez, também empenhou todo seu prestígio na campanha à reeleição do prefeito, ano passado.
Casagrande executou e tem executado muitos investimentos em Vila Velha – há quem diga até que as obras do governo do Estado no município, principalmente as de drenagem, tiveram um peso significativo no resultado maiúsculo que Arnaldinho teve nas urnas no ano passado, sendo reeleito no 1º turno com 79% dos votos.
Fora isso, Arnaldinho é cotado para disputar o governo do Estado. Foi citado pelo próprio governador Renato Casagrande (PSB) como um de seus possíveis sucessores no Palácio Anchieta.
Sendo assim, o que explica essa aproximação e exposição de Arnaldinho com o presidente do partido que deverá ter, como candidato, o principal adversário do grupo de Casagrande na eleição para o governo do Estado? Algumas hipóteses e especulações foram criadas no mercado político, já que o prefeito não deu entrevistas sobre o assunto.
Recado para o Palácio Anchieta?
Há quem tenha lido esse episódio como um recado do prefeito ao Palácio Anchieta.
Arnaldinho saiu muito bem das urnas no ano passado, com uma vitória que o credencia a dar voos maiores. Tem uma avaliação positiva de sua gestão – há quem diga até que Arnaldinho não tem só eleitores, tem fãs – e seu nome aparece como competitivo em pesquisas de intenção de votos.
Acontece que, embora tenha sido citado por Casagrande como possível sucessor, Arnaldinho não é o “plano A” do projeto do governo.
A prioridade, o primeiro da fila para concorrer pelo grupo de Casagrande ao Palácio Anchieta no ano que vem é o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB). E isso é de conhecimento público, já foi tratado inúmeras vezes até pelo próprio prefeito, em entrevista a essa coluna.
Somente no caso de Ricardo não conseguir se viabilizar – o governo está empenhando todas as suas forças para o vice ser o candidato –, é que o “plano B” seria colocado em ação. E, mesmo assim, não é garantia que Arnaldinho seja o escolhido.
Além de citar o nome do prefeito de Vila Velha, Casagrande também citou o prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio (MDB), o ex-prefeito da Serra Sergio Vidigal (PDT), além dos deputados federais Josias da Vitória (PP) e Gilson Daniel (Podemos).
Ou seja, pelo menos naquilo que está posto na arena pública, Arnaldinho não tem garantia de nada, por parte do grupo em que faz parte, de que terá apoio para disputar o governo do Estado.
Diante de um cenário assim, caberia a Arnaldinho ou aguardar resignado, contando com a sorte e com as circunstâncias, ou então provocar uma situação para chamar a atenção e tentar “fazer acontecer” – isso é o que muitos acreditam que ocorreu no episódio do encontro com Erick Musso.
Seria uma forma do prefeito mostrar que seu passe está cobiçado, que há quem tenha interesse em tê-lo como aliado, filiado e candidato, um jeito de passar a mensagem: “Vocês me esnobam, mas há quem me valorize” – ainda que essa opção seja no campo oposto ao que ele faz parte hoje.
Segundo a coluna apurou, nesses dias que se seguiram ao encontro, essa seria a explicação mais aventada. Mas há outras.
Recado para o Podemos e para o PSB?
O encontro de Arnaldinho e Erick Musso ocorreu quatro dias após o Podemos, com sua cúpula e seus prefeitos, fechar apoio à candidatura de Ricardo Ferraço ao governo (veja aqui mais detalhes).

O Podemos era o antigo partido de Arnaldinho. O prefeito pediu sua desfiliação da legenda no último dia 21 e atualmente está sem abrigo partidário.
Ele saiu após muitas divergências internas com o presidente estadual, Gilson Daniel, e também depois de uma tentativa frustrada de tomar o comando do partido no Espírito Santo.
O encontro com o presidente de uma outra sigla passaria a mensagem para o Podemos de que o prefeito tem onde se abrigar, se ele quiser.
Mas a reunião com o presidente do Republicanos veio também um dia após a Executiva estadual do PSB (partido do governador) declarar o mesmo apoio à candidatura de Ricardo.
Não que isso seja uma surpresa, uma vez que o governo está realmente empenhado em fazer Ricardo candidato. Mas o PSB tem o vice-prefeito em Vila Velha e seria o principal beneficiado se Arnaldinho fosse o candidato do Palácio.
Isso porque, para disputar o governo, Arnaldinho teria de renunciar ao cargo de prefeito em abril do ano que vem – assim como Pazolini em Vitória se for concorrer – o que daria para o vice-prefeito Cael Linhalis, quadro histórico do PSB, a possibilidade de governar o segundo maior município do Estado por mais de dois anos e meio.
Não à toa que o deputado Victor Linhalis esteve presente no encontro e é um dos maiores entusiastas de Arnaldinho candidato ao governo. Primeiro por lealdade, já que ele deve muito ao prefeito por sua eleição à Câmara Federal.
Segundo porque tudo que Victor mais deseja, por óbvio, é ver o pai, Cael, no comando do município. E, só para constar, Victor não participou do almoço do Podemos em apoio a Ricardo Ferraço.
Mas, voltando a Arnaldinho, há quem aposte que o encontro também seria uma forma de enviar um recado ao PSB que trava, nos bastidores, uma guerra pela filiação de prefeitos do interior.
Dos oito prefeitos eleitos do Republicanos, três já deixaram o partido para se alinharem ao governo do Estado. Uma aproximação do Republicanos com o prefeito de Vila Velha seria um contra-ataque.
As perguntas sem respostas
Mas, ainda que Arnaldinho esteja chateado com o governo do Estado, magoado com o fato de não ser prioridade na sucessão de Casagrande, ele teria disposição em mudar totalmente de lado e se aliar a um palanque de oposição ao governador?
Ainda que tenha uma boa relação com Erick Musso, ele se filiaria ao Republicanos, que já está trabalhando na pré-candidatura ao governo do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini?
Arnaldinho renunciaria no ano que vem para ser candidato ao Palácio Anchieta a todo custo, mesmo que isso signifique caminhar sozinho?
No cenário atual, essas decisões parecem um tanto improváveis.
Um detalhe que chama a atenção na publicação de Arnaldinho sobre o encontro é a forma como ele se referiu a Erick Musso. Em vez de mencionar os cargos que ele ocupa atualmente – presidente estadual do Republicanos e secretário de Governo da gestão Pazolini –, Arnaldinho optou por citá-lo apenas como ex-presidente da Assembleia.
A escolha das palavras pode não ter sido por acaso: ao evitar destacar o elo de Erick com a atual gestão da Capital, Arnaldinho ameniza o peso político da reunião com figuras da oposição, destacando, ao menos na narrativa pública, um encontro institucional pautado pelo diálogo.
Qualquer que tenha sido a intenção do prefeito ao divulgar sua agenda da última terça-feira, uma coisa ele conseguiu: chamar a atenção do mercado político e do governo do Estado para além da Terceira Ponte e mostrar que não será um mero espectador nas decisões de 2026.
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