Berço da vida na Terra pode ter sido um lago como este, no Canadá

Berço da vida na Terra pode ter sido um lago como este, no CanadáAugusto Dala Costa

Cientistas fizeram mais uma descoberta relacionada à questão do local onde a vida na Terra teria se iniciado. Em um lago no Canadá, o ambiente é quente e cheio de fosfato, justamente o que seria necessário para o início da transformação de moléculas “mortas” em “vivas”. Isso prova, de maneira mais direta, que o nosso planeta teria sido capaz de realizar as conversões que só conseguimos teorizar e, no máximo, reproduzir em laboratório.

Em 1871, Charles Darwin propôs que a vida teria começado em uma poça morna na superfície do planeta, a chamada sopa primordial. Hoje, sabemos que as moléculas complexas da vida podem, sim, vir de materiais inorgânicos presentes em alguns corpos d’água — contanto que as condições sejam ideais. E é nos lagos alcalinos do oeste canadense que ao menos o básico para tal foi encontrado pela ciência.

Buscando a origem da vida

Um dos primeiros experimentos para provar como a vida poderia se originar foi feito pelo químico estadunidense Stanley Miller, em 1952, supervisionado por Harold C. Urey, o que gerou o nome de “experimento de Miller-Urey”. Eles descobriram que os aminoácidos, que formam as proteínas e outras moléculas orgânicas podiam ser criados a partir das condições ambientais da sopa primitiva.

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Foi assim que eles mostraram que substâncias complexas podiam vir das simples. Depois, foi descoberto de que a base do RNA (essencial para a reprodução da vida) também podia ser criada dessa forma. O problema é que, para isso, concentrações muito altas de fosfato eram necessárias.

A saber: o fosfato é a “coluna vertebral” tanto do RNA quanto do DNA, e ainda é componente essencial das membranas celulares.

Para criar biomoléculas em laboratório, cientistas tinham que usar concentrações de fosfato de 100 a um milhão de vezes maior que o nível encontrado naturalmente em rios, lagos ou oceanos, complicando a teoria da origem da vida. Isso até a aparição dos lagos alcalinos, ou lagos de sal e soda.

O que é lago alcalino?

O nome vem do fato de que esses lagos contêm altas doses de sódio (sal) e carbonato (soda) dissolvidos. Esses elementos vêm da interação entre a água e as rochas vulcânicas abaixo da superfície, bem como seu fosfato, deixando o pH da água bem mais elevado. Em laboratório, um estudo da Universidade de Washington provou, em 2019, que níveis altos de fosfato podiam ser obtidos naturalmente, chegando a até um milhão de vezes o natural.

Já neste ano, um estudo foi publicado mostrando que um lugar assim foi encontrado entre 2021 e 2022: é o Lago Last Chance, no Canadá, com apenas 30 cm de profundidade, mas com diversas seções turvas que podem fazer dele um lago de sal e soda perfeito.

Uma sopa primordial atual

O corpo d’água canadense fica sobre basalto, uma rocha vulcânica, e é cercado por uma atmosfera seca e com muito vento. Essas condições ajudam a manter seu nível baixo e permitem a concentração de seus compostos.

Na maioria dos lagos, o fosfato se liga ao cálcio rapidamente e resulta em fosfato de cálcio, mesma substância do esmalte dos dentes, eliminando fosfato puro na reação. No Lago Last Chance, o cálcio se liga ao carbonato e ao magnésio, formando dolomita, uma espécie de calcário, e permitindo que o fosfato se acumule livremente.

Em outros lagos, o excesso de fosfato acaba sendo usado por outras formas de vida, como as cianobactérias, que o consomem. Já no lago canadense, há tanto sal que poucos organismos sobrevivem, deixando o ambiente muito parecido com a Terra primitiva. Isso é importante tanto por mostrar aos cientistas como seria uma réplica ideal de tais reações em laboratório quanto para mostrar como poderia ser um ambiente bom para procurar por vida em outros planetas.

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