Jovens torturados por policiais relataram choque na garganta, asfixia e socos: ‘Por que não mata de uma vez?’


Agressões aconteceram dentro de batalhão de Matelândia, no Paraná, em 2017. Policiais envolvidos foram excluídos da corporação e condenados. PM agride jovem dentro de batalhão da polícia em Matelândia
Os jovens torturados por policiais militares dentro de um batalhão da Polícia Militar (PM) em Matelândia, no oeste do Paraná, relataram que foram submetidos a choques na garganta, asfixia com uma luva de látex, socos, entre outras agressões.
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A RPC teve acesso nesta segunda-feira (22) as detalhes da sessão de tortura descritos na denúncia oferecida em 2020 pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR) contra dois policiais identificados como Rafael Stefano Lauersdorf de Souza e Marlon Luiz dos Santos.
“Teve vários hematomas, o céu de sua boca ficou cortado, porque ele colocou maquininha de choque em sua garganta; seu peito ficou arranhado do soco que levou, algumas bicudas também. Questionado pelo Ministério Público se nesse choque houve o acionamento da máquina elétrica ou ele só machucou com o atrito da máquina, respondeu que foi acionada a descarga elétrica”, diz a denúncia.
De acordo com o documento, as agressões aconteceram em abril de 2017 e foram filmadas. O vídeo repercutiu na internet no último domingo (22). Assista acima.
Nas imagens dois jovens aparecem algemados, com as mãos para trás, encostados em uma parede. Um deles está com uma luva cirúrgica na cabeça. Enquanto isso, Marlon segura a cabeça dele erguida e o observa. Em seguida, ele dá um tapa no menino e tira a luva.
Rafael Stefano, que segundo a denúncia estava gravando, questiona ao jovem se ele “gostou do saco”. O rosto das vítimas foi borrado para protegê-las.
Vídeo de tortura dentro de batalhão em Matelândia repercutiu na internet
Reprodução
Segundo a denúncia, o soldado Marlon Luiz do Santos submeteu o rapaz “a intenso sofrimento físico e psicológico”. O documento indica que a ação foi feita em conluio com Rafael Stefano Lauersdorf.
“Não obstante o seu dever de impedir a ação criminosa, imposto-lhe pelo exercício da função policial militar, omitiu-se quando devia e podia agir para evitar o resultado, além de, ciente da ilicitude e reprovabilidade do comportamento próprio e de seu companheiro de farda, proferiu os seguintes dizeres: ‘Gostou do saco?'”, afirma a denúncia.
Policiais foram condenados
Em nota, a Polícia Militar afirmou que, na época, foram instaurados processos administrativo e criminal, que resultaram na exclusão dos militares da corporação e na condenação dos envolvidos.
Conforme o órgão, Marlon pediu baixa em 2019, respondeu a um inquérito e foi condenado a três anos e oito meses de cadeia por tortura. Rafael Stefano foi expulso e condenado a um ano e seis meses pelo mesmo crime.
Elyézer Rodrigues, responsável pela defesa de Stefano, afirmou que o ex-soldado está cumprindo a pena imposta e que, na época, prestou todos os esclarecimentos necessários.
O advogado Jefferson da Silveira Menezes, que representa Marlon, disse que o então soldado “participou ativamente do processo”, colaborando e prestando informações.
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‘Desperdício de bala se o matassem’
Conforme o relato trazido na denúncia, uma das vítimas perguntou o motivo das agressões.
“Bateram no [nome da vítima] e o [nome da vítima] falou ‘o piá é trabalhador, não precisa fazer isso não’; ficou com raiva e falou para os policiais ‘por que vocês ficam judiando da gente? Eu sou trabalhador, se quiser, por que não mata de uma vez?’, mas eles falaram que ia ser um desperdício de bala se o matassem”
Novo vídeo veio à tona
PM é afastado após vídeo de tortura dentro de batalhão repercutir na internet
No domingo (21), um soldado da Policia Militar foi afastado após outro vídeo de agressões policiais no mesmo batalhão repercutir nas redes sociais. O nome dele não foi divulgado.
No registro, o então policial Marlon Luiz dos Santos aparece também participando da tortura. Assista acima.
Nas imagens é possível observar quatro rapazes encostados em uma parede com as mãos para trás. Junto com eles está Marlon, com uma espécie de vara na mão. O policial bate com o objeto nas pernas e na sola do pé de um dos jovens.
O menino tenta se desvencilhar, mas Marlon o manda não tirar o pé do lugar. Em seguida, outro policial aparece na imagem, dá uma risada para a câmera e segura o pé do rapaz para cima. Com isso, Marlon continua a bater com o bastão no menino, que chora.
Novamente, o rosto das vítimas foi borrado para protegê-las.
PM é afastado após vídeo de tortura dentro de batalhão em Matelândia repercutir na internet
Reprodução
De acordo com a corporação, o policial afastado neste domingo é o que aparece sorrindo para a câmera.
O órgão afirmou que não tinha conhecimento destas imagens. Segundo a PM, o policial deverá responder a um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) e a um Inquérito Policial Militar (IPM).
Em relação ao vídeo, a defesa de Marlon Luiz do Santos afirmou que ele não tem conhecimento desses fatos e que, caso seja formalmente chamado ao processo, Marlon estará à disposição para qualquer declaração as autoridades.
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