Dia da Visibilidade Trans: Conheça a história de pessoas que superaram barreiras e inspiram outras a ocuparem lugares de destaque no MA


No Dia Nacional da Visibilidade Trans, o g1 mostra histórias de duas mulheres trans maranhenses que se contrapuseram as expectativas das pessoas e hoje, ocupam amplos espaços dentro da sociedade. .
Conheça a história de pessoas que superaram barreiras e inspiram outras a ocuparem lugares de destaque no MA
Arquivo pessoal/Redes Sociais
Esta segunda-feira, 29 de janeiro, é o Dia Nacional da Visibilidade Trans e Travesti, data que relembra os esforços que a comunidade trans no Brasil protagoniza na luta por igualdade de direitos. E no Maranhão, milhares de pessoas trans e travestis lutam, diariamente, por espaços e por mais respeito.
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No Brasil, essas lutas tendem a se intensificar. Por 14 anos seguidos, o país é o que mais mata e agride pessoas trans e travestis no mundo, de acordo com relatório da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) divulgado em 2023. Mas a comunidade não se resume a isso.
Inspirado pela data, o g1 trouxe histórias de duas mulheres maranhenses que conseguiram transpor as barreiras de preconceitos enfrentados na sociedade e conseguiram se consolidar nos espaços de poder que ocupam.
O início de tudo e os desafios enfrentados
Como a maioria das pessoas trans, a psicóloga maranhense Dávila Jucá, nascida em São Luís e para quem idade não passa de um dado numérico, recebeu um nome masculino ao nascer, mas desde muito jovem nunca achou que pertencesse àquele gênero determinado em sua certidão de nascimento.
Ao g1, a psicóloga compartilhou partes de sua vivência enquanto uma mulher trans e como foi passar pelo início da transição até se afirmar como o gênero que se identifica. Ela pontuou que, embora não tenha escolhido ser trans, essa etapa inicial teve de ser pensada e refletida juntamente com pessoas que demonstraram respeito e afeto.
“Eu me organizei para que eu pudesse fazer a transição com espontaneidade. Eu esperei o tempo certo, acredito que tudo tem seu tempo. Não é que antes eu não era mulher, eu era, eu só não sabia dar nome às minhas percepções pessoais sobre eu mesma”, disse Dávila.
Dávila Jucá tem uma carreira sólida na área da saúde e como palestrante de conscientização sexual
Arquivo pessoal/Redes sociais
Quando perguntada sobre os desafios que precisou enfrentar no início, ela lembra da fase de abandono dos amigos próximos ao assumir sua identidade, mas que isso não foi um grande problema, pelo fato dela priorizar a qualidade dos relacionamentos e não apenas a quantidade.
Hoje, com uma carreira sólida na área da saúde e como palestrante de conscientização sexual, ela conta que a resiliência sempre esteve presente em sua vida e que isso ajudou a enxergar a si mesma como alguém forte o bastante para superar a rejeição e atingir seus objetivos profissionais
“Às vezes, realizados os melhores e mais louváveis trabalhos na minha carreira, eu passei por preconceitos muito graves vindo de pessoas que eram só para me abalar. Eu tive que ser muito resiliente para continuar focando no que eu deveria focar porque os preconceitos vão sempre existir e vão tá direcionados a mim, mas não só a mim”, declarou a psicóloga.
Acolhimento e aceitação familiar
A psicóloga relata que o preconceito veio antes mesmo de se apresentar como uma pessoa trans. Apesar dos percalços, ela diz que se sente privilegiada por ter começado a transição cercada por um ambiente de muita aceitação e apoio familiar.
“A minha família me recebeu super bem, eu sempre fui muito bem acolhida e eu me sinto amada. Eu realmente entro em contato com o amor familiar. O fato de eu ser amada também não me blinda do sofrimento. Eu sofri muito e continuo sofrendo. Só que quando eu tenho alguém pra me ajudar a passar por isso eu consigo elaborar melhor ainda o meu sofrimento”, finalizou a Dávila Jucá.
A artista Jeniffer Fróes enfrentou muitos desafios para conseguir fazer sua transição.
Arquivo pessoal/Redes sociais
Infelizmente, em grande parte das famílias onde as pessoas transexuais e travestis crescem, essa rede de apoio e amparo familiar não é encontrada, como é o caso da atriz e estudante de teatro Jennifer Fróes. Nascida no interior do Maranhão, ao longo dos seus 23 anos, ela convive com os preconceitos dentro e fora de casa.
Ao g1, Jeniffer conta que sua transição começou há cerca de um ano e meio. Nascida em uma família conservadora, ela diz que já sabia que era uma pessoa trans desde criança e que precisou lidar com o rompimento de laços familiares, além da falta de aceitação.
“Lembro da minha mãe me mandar um monte de áudio transfóbico desde às 9h da manhã até as 19h da noite, dizendo que eu tô acabando com meu corpo, que meu corpo era morada do Espírito Santo de Jesus Cristo. Mamãe nem é religiosa, mas é todo um fundamentalismo que se tem na nossa sociedade brasileira, sabe?”, disse Jeniffer.
A arte como válvula de escape
Além disso, os entraves do preconceito também a acompanham em sua vida profissional. Segundo a atriz, é sempre um desafio fazer uma audição para participar de um espetáculo como personagem feminino por causa da relutância de ser reconhecida como mulher pelos avaliadores.
Apesar das dificuldades, ela se alegra ao dizer que pôde encontrar na arte uma maneira de se refugiar das opressões que sofre no dia a dia e compartilhar sua vivência de maneira que possa atingir públicos diferentes. Quando tocado no assunto, ela se diz abençoada ao poder se expressar de diversas formas artísticas.
“Eu sempre pedia pra Deus pra eu fazer muitas coisas e ele acabou me realizando. Eu faço faculdade de teatro, participo da cena ballroom de São Luís de vogue, faço dança contemporânea, stiletto, sou funkeira e fazia balé também. A arte me possibilita esse espaço de poder exercer a maneira como eu quero expressar meu corpo de acordo com o gênero que eu me identifico”, complementou a multiartista.
Para conseguir vencer os obstáculos e se consolidar ainda mais como profissional, Jeniffer diz que só conseguiu avançar porque se manteve resistente e priorizou os estudos. Para ela, tudo o que passou pode servir de inspiração para outras meninas trans e travestis conquistarem cada vez mais espaços.
“Eu saí de uma cidade pequena, vim morar sozinha em São Luís, tive que me virar mil vezes para não desistir do curso; eu venho de família pobre, eu literalmente lutei para estar aqui e quando eu olho pra mim, vendo a mulher que eu me tornei, os espaços que eu já cheguei, como eu sou convidada para dar palestras e dar aulas, então eu fico muito honrada. Eu percebo que sirvo de representatividade para outras pessoas”, finalizou.
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