
A determinação do governo dos Estados Unidos para que a Nvidia obtenha uma licença especial de exportação antes de vender seu chip H20 à China marca mais do que uma medida pontual de controle: representa um movimento coordenado de reconfiguração da ordem econômica digital. A avaliação é de Fabio Fares, especialista em análise macro, em entrevista à BM&C News.
“Essa exigência marca mais um capítulo no que eu costumo chamar de desglobalização tecnológica”, afirma Fares. O especialista afirma que “estamos falando de uma fragmentação real da cadeia global de semicondutores“. Ele explica que a cadeia global de semicondutores, antes baseada em uma integração entre design nos EUA, manufatura em Taiwan e consumo na China, agora dá lugar a uma nova configuração mais fragmentada e nacionalista. “Cada país quer garantir seu suprimento estratégico. Isso afeta não só a logística, mas também o valuation das empresas envolvidas.”
Gigantes como Apple e Amazon também sentem o baque
A guerra tecnológica, segundo Fares, não atinge apenas fabricantes de chips. As grandes empresas de tecnologia com atuação global, como Apple, Meta e Amazon, também são impactadas pela escalada de tensões entre EUA e China. “Essas empresas são globais em receita, mas cada vez mais locais em operação”, destaca o economista.
Ele cita o exemplo da Apple, que tem enfrentado pressões crescentes na China, tanto por ações governamentais quanto por movimentos silenciosos de consumidores que passam a privilegiar marcas nacionais, como a Huawei.
“A guerra tecnológica impõe novos custos: redesenho das cadeias de produção, reconfiguração de produtos para mercados distintos e risco de represálias comerciais. Isso tudo pesa nas margens e limita a previsibilidade dos lucros — algo fundamental para investidores”, analisa Fares.
Perda de US$ 5,5 bi da Nvidia é alerta para investidores
A Nvidia anunciou que deve registrar um impacto de US$ 5,5 bilhões no trimestre encerrado em 27 de abril, relacionado a estoques, compromissos de compra e reservas ligadas ao modelo H20. Para Fares, o número é relevante, mas o que mais preocupa é o sinal de instabilidade regulatória.
“Não é só o tamanho da perda — que é expressiva —, mas o que ela representa: incerteza regulatória e limitação de acesso a mercados estratégicos. Mesmo uma gigante que lidera o movimento global da inteligência artificial não está imune aos choques geopolíticos.”
O especialista pondera, porém, que a tese estrutural da inteligência artificial segue sólida. “Apesar do baque, a Nvidia mantém uma linha de produção robusta com a nova geração de chips, os Blackwell. O gargalo está na oferta, não na demanda.”
Ele afirma que, para investidores com visão global, o episódio reforça a necessidade de considerar riscos geopolíticos ao construir carteiras alinhadas com megatendências tecnológicas. “É um alerta sobre a importância de entender não apenas os fundamentos das empresas, mas também os fatores externos que podem afetar seu desempenho.”
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O post EUA travam venda de chips da Nvidia à China: “desglobalização digital”, diz analista apareceu primeiro em BM&C NEWS.