A chilena Arauco lançou oficialmente, na última semana, a pedra fundamental do Projeto Sucuriú, em Inocência (MS). Com investimento estimado em US$ 4,6 bilhões, o empreendimento representa a maior aposta da história da companhia. Embora as obras tenham sido iniciadas no ano passado, a cerimônia simbólica foi realizada na última quarta-feira, 9, e contou com a presença do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, que expressou o apoio do Brasil à iniciativa: “Contem conosco”, declarou. “A indústria está na vanguarda da inovação. E paga melhores salários, agrega valor e dá um grande impulso à economia”, completou.
O gerente-geral da Arauco Chile, Cristián Infante, agradeceu o apoio das autoridades brasileiras, da comunidade local e dos fornecedores, e discursou em português. “Para nós, como equipe, isso nos marcou muito”, afirmou.
Em 2023, a companhia registrou receita de US$ 6,546 bilhões, com a celulose respondendo por 52% do total e por 64% do Ebitda. Atualmente, a Arauco ocupa a terceira posição no ranking global do setor, atrás da brasileira Suzano e do grupo asiático April-Bracell. A nova planta brasileira adicionará 3,5 milhões de toneladas à capacidade atual de 5,3 milhões, elevando o volume total para 8,5 milhões de toneladas por ano e colocando a Arauco na vice-liderança mundial.
Infante estima que a produção no Brasil começará no último trimestre de 2027. Segundo ele, “hoje, 62% dos ativos da empresa estão no Chile, mas a operação brasileira tornará esse percentual inferior à metade”. A companhia já conta com 250 mil hectares disponíveis no Brasil e prevê o plantio anual de mais 65 mil hectares para abastecer a nova fábrica.
Na Arauco desde 1996 e gerente-geral desde 2011, Infante completará 30 anos na empresa em 2026. Ele reflete que a companhia mudou “em muitos aspectos” ao longo das últimas três décadas. Sobre o processo de internacionalização, iniciado com a aquisição da Alto Paraná, na Argentina, no fim de 1996, afirmou: “Seguimos crescendo nos EUA, México, Canadá, Brasil, Uruguai e Europa. Também mudamos nossa forma de gestão, com foco em melhoria contínua. Antes, o diferencial da Arauco eram os equipamentos e o crescimento rápido das árvores no Chile. Hoje, a força da Arauco é sua gente, sua cultura, na qual buscamos espaços para poder trabalhar na melhoria contínua”.
Ao comentar a força do Brasil no setor florestal global, Infante ressaltou que o país oferece “condições naturais muito atrativas: árvores que crescem rápido, disponibilidade de terra, forte cultura industrial. Foi um passo natural”. E acrescentou: “No Chile, não há madeira suficiente para um projeto desse porte”.
Sobre a possibilidade de novas unidades em solo chileno, o executivo acredita que a situação é reversível: “A atividade florestal recupera solos degradados, evita erosão, captura carbono e gera atividade econômica renovável. O Chile tem terra disponível, mas precisa de uma política para ampliar sua base florestal”. No entanto, ele admite que “hoje, estamos apostando todas as nossas fichas no Brasil, mas temos um patrimônio florestal importante no Chile”.
Questionado sobre a estratégia de crescimento, Infante explicou que no setor de painéis a expansão se deu por meio de aquisições nos EUA, Europa, Brasil e México, mas que, em celulose, “a tecnologia tornou mais eficiente construir novas plantas de maior escala. Por isso, investimos em unidades próprias, como no Mapa e em Montes del Plata, no Uruguai”. Ele garantiu que o Projeto Sucuriú “terá tecnologia de ponta e será o mais moderno”.

Sobre possíveis novos projetos antes da conclusão de Sucuriú, ele comentou: “Toda nossa energia e recursos estão em Sucuriú. A licença foi solicitada para 5 milhões de toneladas. Existe potencial de crescimento futuro no Brasil, mas é algo a ser avaliado mais adiante. Nosso papel é oferecer alternativas de crescimento para a empresa”.
Apesar de a nova unidade elevar a Arauco à vice-liderança mundial em produção de celulose, Infante afirma que o objetivo da companhia não é liderar em volume: “Ser o primeiro não é uma aspiração. Nossa aspiração, e não se trata apenas de palavras, é ser uma empresa que proporciona benefícios e contribui para seus acionistas, para seus funcionários e para suas comunidades”.
O gerente também comentou o impacto financeiro do megaprojeto: “Fizemos um aumento de capital, que está sendo feito de forma parcelada. Praticamente garantimos as finanças. Quando você faz um projeto dessa magnitude, é claro que os indicadores sobem um pouco, especialmente a dívida, mas está totalmente de acordo com o que é uma empresa investment grade como nós. E são projetos muito curiosos, porque é um investimento muito grande e, no dia em que a produção começa, eles começam a gerar uma quantidade muito grande de caixa, de modo que a desalavancagem que ocorre é muito rápida e todo o mercado entende isso.”.
Sobre os efeitos da atual guerra comercial entre Estados Unidos e China, Infante admitiu que “hoje estamos, o mundo, em uma turbulência que é muito difícil poder predizer”. A madeira exportada aos EUA ainda está isenta de tarifas extras, mas a celulose enfrenta uma “zona cinzenta”, segundo ele. O impacto, no entanto, é pequeno: apenas 2% da celulose da Arauco tem como destino os EUA. Já no setor de painéis, o mercado norte-americano e o canadense respondem por 47% das vendas da companhia, sustentadas por operações locais — 8 das 20 fábricas estão nesses dois países.
Infante conclui com um alerta para o futuro do comércio internacional: “Somos uma empresa global e, na medida em que haja restrições ao comércio internacional, isso a longo ou curto prazo afetará a atividade”.
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