Educação financeira: reportagem especial mostra como receber ajuda para quitar dívidas


O acúmulo de dívidas impacta a qualidade de vida do brasileiro. Uma pesquisa mostrou que 60% das pessoas com problemas financeiros sofrem de ansiedade. Confira a segunda reportagem da série sobre Educação Financeira
A decisão de contrair uma dívida é um momento importantíssimo para qualquer pessoa. Quando a conta não fecha, isso se reflete diretamente na qualidade de vida de uma família inteira. A reportagem desta terça-feira (15) da série especial sobre educação financeira mostra que com ajuda e comprometimento, é possível organizar as contas.
A facilidade do PIX está substituindo a jato o velho dinheiro na mão. Mas sem foco, conhecimento e sem disciplina, o risco continua o mesmo: não importa se papel ou digital, o real pode escorrer pelos dedos como água. A aposentada Sandra Leone fala com franqueza. Logo no primeiro emprego, ela começou a se enrolar com pedidos de adiantamento de salário.
“Antes de ter 18 anos, eu já tinha me endividado porque tinha caixinha da empresa, era empréstimo que eu pegava na caixinha e quando ia pagar, nem recebia, só pagava”, conta.
O custo desse desequilíbrio não é apenas financeiro.
Repórter: Como ficou seu psicológico, seu emocional? Como você se sentia?
Sandra Leone: Muito abalada. Tinha dia que eu acordava e não tinha vontade de sair da cama, porque é muito ruim você não ter perspectiva. A realidade é essa.
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Educação financeira: reportagem especial mostra como receber ajuda para quitar dívidas
Jornal Nacional/ Reprodução
As consequências do endividamento vão muito além das questões práticas, da conta bloqueada no banco, do chamado nome sujo na praça. A paz de espírito vai embora. E, para muita gente, essa agonia pode ter um efeito devastador sobre a saúde da mente e do corpo.
Uma pesquisa mostra que dificuldades financeiras provocam ansiedade em 60% dos entrevistados, além de problemas de autoestima, qualidade do sono e humor. A psicóloga Valéria Meirelles, que participou da pesquisa, estudou o tema a fundo: fez doutorado sobre a relação das pessoas com o dinheiro. Mas o interesse pelo assunto surgiu ainda antes, a partir de uma experiência pessoal, duas décadas atrás.
“Eu falo, eu vivo, estudo daquilo que eu vivi. Fiquei um bom tempo endividada em uma época que ninguém falava disso. Tive que procurar médico porque também tive depressão. Então, eu senti tudo isso que a gente fala, que a gente não quer que as pessoas sintam, eu também já senti”, conta Valéria Meirelles.
Pressão alta, dor de cabeça, perda ou aumento de peso. O corpo sente. O corpo sofre.
“O endividamento é extremamente nocivo, ele destrói famílias, ele destrói casais e ele pode destruir pessoas também”, afirma a psicóloga Valéria Meirelles.
Quem está com a vida parada por causa de dívidas, a cada dia que passa, tem mais e mais dificuldade para encontrar uma solução. Mas a saída pode estar logo ali na frente. Agora, para chegar até ela, é preciso reconhecer que o problema existe, caminhar para sair do isolamento e buscar ajuda de quem entende do assunto.
“Essa luta, eu sempre tive comigo mesma, entendeu? Mas, na realidade, eu não sabia a receita certa. É igual fazer um bolo. Pega três ovos… Mas tem uma sequência. Essa sequência que eu não tinha”, conta Sandra Leone.
É isso. Sandra buscou a receita do bolo. Foi pela internet que ela ficou sabendo que a Defensoria Pública do Rio de Janeiro tem o Núcleo de Defesa do Consumidor. O Nudecon ajuda pessoas super endividadas a reorganizar as contas.
O Bernardo de Souza Santos é psicólogo do núcleo e se especializou em finanças. Ele tem sido o anjo da guarda da Sandra. Em sete meses de inadimplência, ela já pagou R$ 3,8 mil só de juros. O valor principal da dívida está lá, integral, sem nenhuma redução. E não tem mágica. Tem que começar pela velha e boa planilha. No computador ou no papel mesmo.
“A gente começou na planilha. Eu preenchi junto com ela, ela tem essa dificuldade. A partir daí, a gente fez esse desenho geral do que estava acontecendo na vida financeira dela”, diz Bernardo de Souza Santos, planejador financeiro pessoal CFP.
Tudo anotado: o dinheiro que entra todo mês, as despesas fixas – que não mudam de valor, como aluguel -, as variáveis – que podem aumentar ou diminuir – como água e luz -, aquele gasto extra com barzinho ou roupa e, claro, as dívidas. Próximo passo: traçar uma estratégia.
“Sandra, suas dívidas são essas, suas despesas são essas. E aí a gente tem que entender agora o que pode reduzir momentaneamente para conseguir fazer sobrar alguma coisa para que a gente consiga negociar o pagamento dessas dívidas de uma forma mais interessante”, diz Bernardo de Souza Santos.
Nathália Rodrigues se formou em administração e hoje dá orientação para quem está com problema nas contas.
“Em vez de comprar aquele hambúrguer lindo e maravilhoso, e você simplesmente gastar aquele dinheiro que você às vezes não tem, você simplesmente: vamos fazer comida em casa hoje? Fazer esses passos de pegar comida congelada, se organizar financeira ali para ‘vamos diminuir a saída agora, nesse momento’. Não é cortar”, afirma a educadora financeira Nathália Rodrigues, CEO Nath Finanças e Nath Play.
Educação financeira: reportagem especial mostra como receber ajuda para quitar dívidas
Jornal Nacional/ Reprodução
Mas se você se complicar não dê as costas para a dívida.
“Eu sei que o banco pode negociar 100% da dívida. Só que você tem que falar e ligar, não esperar virar uma bola de neve. Se você não vai conseguir pagar agora, às vezes pode ser interessante inclusive pegar um empréstimo pessoal para quitar a dívida. Com os juros menores do que o do cartão”, explica Nathália Rodrigues.
A Sandra abraçou a causa e já está perto de organizar as contas. Ela ajustou os gastos no mercado, leva só o que é realmente importante, e fechou o grande ralo dos gastos pessoais.
“Eu estava tão viciada em comprar para pagar depois que, assim, eu devia na moça do frango assado, devia na moça do churrasquinho, devia na padaria, na farmácia. Eu preciso disso para quê? Isso vai me trazer o quê? Eu não estou comprando mais nada de besteira”, conta Sandra Leone.
“Salvo algumas exceções, ninguém fica endividado porque quer. Vamos procurar um consultor, tem vários lugares que oferecem orientação financeira gratuita. Então, dependendo da demanda, tem que ver que tipo de ajuda, mas ninguém sai da dívida sem ajuda”, diz a psicóloga Valéria Meirelles.
Repórter: A gente pode dizer que tem uma nova Sandra chegando aí?
Sandra Leone: Com certeza, com certeza. Já chegou.
Na próxima reportagem, você vai ver a importância da educação financeira na vida de todos nós. O boleto dos sonhos criado pelo Matheus, e as crianças que estão aprendendo na escola a economizar.
Aqui, você encontra uma página do g1 que apresenta uma lista de serviços gratuitos para ajudar pessoas endividadas a organizar as contas em vários estados do Brasil.
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