
Se você já vive com um gato, certamente notou uma cena curiosa: diante de uma cama macia ou um brinquedo caro, o animal ignora tudo e escolhe uma simples caixa de papelão abandonada no chão. Esse comportamento, tão comum quanto intrigante, não é aleatório. Por trás da atração felina por caixas de papelão estão motivos que combinam instinto, conforto e até necessidades emocionais. Vamos entender por que esse objeto tão simples se transforma no paraíso dos gatos.
O primeiro segredo está na temperatura. Os gatos têm o corpo ligeiramente mais quente que o nosso, em média 37 °C, e adoram ambientes que conservem esse calor. O papelão, por sua estrutura porosa, age como um isolante térmico natural. Nas estações frias, mantém o calor do animal, e no verão, ajuda a dissipá-lo, criando um microclima ideal para sonecas. Além disso, a textura áspera do material é perfeita para deitar — nem muito lisa, nem muito fofa —, permitindo que o gato se acomode sem escorregar ou afundar. É como um colchão térmico que também serve de playground.

O papelão atua como um isolante térmico natural que ajuda a manter a temperatura corporal do felino próxima a 37 °C
Falando em brincadeiras, o papelão é um verdadeiro curinga. Enquanto muitos arranhadores comerciais são feitos de materiais difíceis de arranhar, como plástico ou corda muito resistente, o papelão cede com facilidade às unhas afiadas. Isso permite que o gato libere energia, desgaste as unhas naturalmente e, de quebra, marque território através do cheiro deixado pelas glândulas em suas patas. É uma atividade tripla: exercício, manutenção física e demarcação de espaço. E quando o objeto já está todo arranhado? Aí entra a diversão de morder, rasgar e até “redesenhar” a caixa, algo que brinquedos tradicionais não permitem.
Mas não é só sobre diversão. Esconder-se dentro de caixas é um comportamento ligado à sobrevivência. Na natureza, felinos selvagens buscam tocas ou espaços apertados para se proteger de predadores e surpreender presas. Mesmo domesticados, os gatos mantêm esse instinto. Uma caixa com apenas uma entrada oferece sensação de segurança: o animal pode observar o ambiente sem ser visto, reduzindo a ansiedade em situações novas ou barulhentas. Um estudo da Universidade de Utrecht, na Holanda, comprovou isso. Ao analisar 19 gatos em um abrigo, os que tinham acesso a caixas se adaptaram 30% mais rápido ao ambiente, mostrando menos estresse já no terceiro dia.

Arranhar, morder e destruir papelão é uma maneira de liberar a tensão e canalizar o tédio.
A altura também é um fator. Embora muitas caixas fiquem no chão, algumas são posicionadas em prateleiras ou móveis, atendendo a outro instinto: a preferência por pontos elevados para vigiar o território. Se a caixa estiver em um local alto, melhor ainda — o gato ganha um esconderijo estratégico com vista privilegiada.
Porém, é preciso atenção se o animal começar a comer pedaços de papelão. Morder é normal, mas engolir pode indicar problemas como estresse extremo, tédio ou até deficiências nutricionais. A ingestão frequente de materiais não alimentares, chamada de pica, exige acompanhamento veterinário. Para evitar isso, especialistas sugerem enriquecer o ambiente com brinquedos interativos e oferecer alternativas seguras para morder, como ossos de borracha específicos para felinos.
E os outros materiais? Almofadas, bolsas de papel e túneis de tecido até divertem os gatos, mas nenhum rivaliza com o papelão. Tecidos são menos resistentes para arranhar, e superfícies lisas não retêm calor. Além disso, caixas são gratuitas (ou quase) e fáceis de substituir. Quando uma fica destruída, basta outra para renovar a diversão. Veterinários como Juan Enrique Romero destacam que a versatilidade do papelão é imbatível: funciona como cama, brinquedo, esconderijo e ferramenta de relaxamento.
Um detalhe interessante é que o tamanho da caixa importa. Espaços um pouco apertados, onde o gato precisa se “espremer” levemente, são mais atraentes. Isso simula a sensação de estar envolto em um abraço, aumentando a sensação de proteção. Por outro lado, caixas muito grandes podem não despertar o mesmo interesse, já que não oferecem a mesma contenção física.
Até a cor do papelão pode influenciar. Embora os gatos não enxerguem todas as cores como nós, tons mais escuros absorvem mais calor, tornando-se opções preferidas no inverno. Já caixas claras, que refletem luz, são mais buscadas em dias quentes. É um ajuste fino entre comportamento instintivo e adaptação ao ambiente.
Para os tutores, essa preferência felina é uma vantagem. Além de econômico, o papelão é reciclável e pode ser transformado em brinquedos personalizados — basta cortar janelas, amarrar caixas umas às outras ou pendurar pedaços com cordas. E quando o objeto perde a graça, é só substituí-lo sem culpa. Como resumiu a veterinária Helen Crofts em uma entrevista: “Enquanto humanos se preocupam em comprar o último modelo de arranhador, os gatos só querem o que funciona. E o que funciona, muitas vezes, veio dentro de uma embalagem de delivery”.
Esse Por que os gatos amam as caixas de papelão? foi publicado primeiro no Misterios do Mundo. Cópias não são autorizadas.