
Em Jardim Camburi (Vitória) o clima já é de eleição. E não se trata do pleito de 2026. O bairro mais populoso do Estado – com seus quase 50 mil habitantes – se prepara para uma disputa, que promete ser acirrada, pelo comando da Associação Comunitária (Acjac), no mês que vem.
Quatro chapas são cotadas para entrar na corrida, numa eleição que ultrapassa os limites do bairro, envolvendo lideranças da Câmara e da Prefeitura de Vitória e da Assembleia Legislativa. Cada um dos pré-candidatos tem, nos bastidores, o apoio de um ou mais grupos políticos.
São cotados para a disputa, até o momento: a atual presidente da Acjac, Arlete Pereira; o ex-presidente Enock Sampaio; Tercelino Leite e Jomas Barbosa (veja o perfil de cada um ao final da coluna).
Entre as bandeiras, estão: mais segurança para o bairro; a construção de um novo posto de saúde e a instalação de uma base do Samu, entre outros temas (veja também as bandeiras de cada um ao final do texto).
A pedido da coluna De Olho no Poder, os pré-candidatos também se posicionaram com relação ao prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos) e de como será o relacionamento, caso alcancem a presidência da associação.
Em jogo nessa disputa, não está só o comando do “bairro-cidade”, que acaba sendo uma vitrine e um palco para quem tem pretensões eleitorais, mas também a possibilidade de influenciar no tabuleiro político de 2026.
Comissão Eleitoral será formada hoje
Foi marcada para esta terça-feira (15), às 19 horas, uma assembleia extraordinária para a formação da Comissão Eleitoral, que terá cinco membros e será responsável pelo processo de escolha do novo presidente da Acjac.
A eleição ainda não tem data marcada, mas a previsão é que ocorra no último domingo deste mês (25), já que o mandato da atual administração se encerra no dia 30 de maio.
Como o mandato é de três anos, o próximo presidente da Acjac ficará no comando da instituição até 2028. O cargo é voluntário e a Acjac não tem patrimônio a ser gerido – como é o caso, por exemplo, da Associação de Moradores de Laranjeiras, na Serra.
Mas, como já dito anteriormente, o principal atrativo do cargo de presidente da associação comunitária é o poder político adquirido.
Abaixo um perfil de cada um dos pré-candidatos:
Arlete Pereira

Professora, de 62 anos, Arlete é a atual presidente da Associação Comunitária de Jardim Camburi (Acjac) e pré-candidata à reeleição. Está no cargo há sete meses – desde que o então presidente, Bruno Malias, foi eleito vereador de Vitória e ela, que era vice, assumiu a associação.
É filiada ao PT e militante de movimentos populares há mais de 40 anos. Segundo Arlete, sua chapa conta com o apoio de lideranças do Partido dos Trabalhadores e do Psol, como os deputados João Coser (PT), Iriny Lopes (PT) e Camila Valadão (Psol), e os vereadores Professor Jocelino (PT) e Karla Coser (PT).
Sua principal bandeira é o “Fora, Mergulhão!” – obra de mobilidade de grande porte da Prefeitura de Vitória a ser realizada entre a orla de Camburi e a avenida Norte-Sul.
“Essa obra milionária não foi discutida com a comunidade. Não teve audiência pública com os moradores. É uma obra cara e demorada, que vai beneficiar a Serra, mas prejudicar e muito a qualidade de vida dos moradores de Jardim Camburi. Além do que, se é uma obra metropolitana porque só Vitória tem que arcar com esse custo?”, alegou Arlete.
Ela encampa um abaixo-assinado com a assinatura de moradores contrários à obra e pede diálogo à Prefeitura de Vitória, além do estudo de uma outra proposta que já teria sido apresentada pela associação.
Única mulher na disputa, defende a presença feminina no comando da Acjac: “Desde 1986, sou a segunda mulher a presidir a associação”. Já disputou cargo de vereadora em 2020, mas garante que não disputará mais a vereança.
Questionada sobre sua posição com relação a Pazolini, se é ou será apoiadora, opositora ou indiferente, respondeu: “Não tenho nada contra Pazolini, mas a partir do momento que ele não ouve, não discute, não dialoga com a gente, aí eu sou contra”.
Enock Sampaio

Advogado e empresário, Enock, 66, já foi presidente da Acjac entre os anos de 2016 e 2019, e vice-presidente também (2013-2016).
É filiado ao Democracia Cristã (DC) e chegou a ser candidato a vereador no ano passado. Porém, garantiu aos grupos que o apoiam que não será candidato, nem em 2026 e nem em 2028.
Nos bastidores, Enock é o que mais agrega em termos de grupos políticos. Ele contaria com a simpatia da maior parte das lideranças com influência no bairro. Segundo a coluna apurou, ele teria o apoio de Juninho Barbarioli e Evandro Figueiredo – que são lideranças e já foram candidatos a vereador –, do vereador Bruno Malias (PSB) e dos deputados Fabrício Gandini (PSD) e Capitão Assumção (PL).
Questionado pela coluna se teria realmente conseguido juntar todos esses grupos, Enock respondeu: “Estamos em processo de construção de chapa, conversando com vários segmentos políticos, comunitários, religiosos. Estamos conversando com todas essas pessoas, mas apenas conversando”.
Sobre a principal bandeira a ser encampada durante a campanha eleitoral à presidência da Acjac, não quis antecipar: “Não posso falar por mim. Quando formar a chapa, vou conversar com os integrantes e construir uma bandeira em nome da chapa”, justificou.
E com relação ao prefeito, admitiu que será aliado. “Eu sou a favor de quem trabalha para a comunidade, não importa a denominação, nem se é ‘A’ ou ‘B’. Eu caminhei com o prefeito, durante a campanha, e vejo que ele faz um excelente trabalho”.
Tercelino Leite

Militar do Corpo de Bombeiros, Tercelino tem 41 anos e é filho do vereador de Vitória Maurício Leite (PRD). É o que anunciou ter a chapa mais definida. Segundo ele, o vice-presidente será o Alexandre Testinha – cantor, liderança comunitária e servidor público na Prefeitura de Vitória.
Até por ser militar, não tem filiação partidária, e nunca foi candidato. Mas tem aspirações políticas. Ele é cotado para dar continuidade ao mandato do pai e ser candidato a vereador em 2028.
“Tudo depende do que o nosso grupo concordar. Lógico que o sucessor natural de Maurício Leite pode ser eu, porque desde o início estou ao seu lado e coordenando suas campanhas. Muitos moradores de Jardim Camburi acham que chegou a minha hora”, disse Tercelino.
Questionado sobre o grupo que o apoia, respondeu: “Temos o reconhecimento de nosso trabalho e apoio da Prefeitura de Vitória, deputado estadual Denninho Silva, deputado estadual Bispo Alves, vereador Maurício Leite e outros vereadores que têm em seu quadro de colaboradores moradores de Jardim Camburi, como Davi Esmael e Dalto Neves”.
Entre as principais bandeiras, Tercelino citou: cobrar transparência no acesso às vagas das escolas municipais do bairro: “Vamos cobrar que as vagas sejam ocupadas por moradores do bairro”; ampliação de linhas de ônibus; aumento do efetivo policial da 12ª Companhia da PM; instalação de uma base do Samu e do Corpo de Bombeiros; construção de mais um posto de saúde e de um Pronto Atendimento (PA) em Jardim Camburi.
Politicamente, defende o diálogo com o Poder Executivo e apoia o prefeito Pazolini. “Sou apoiador do governo Pazolini, pois em sua gestão ele fez muito pela nossa comunidade. Não acho certo que o reconhecimento seja deixado de lado em virtude da ideologia política”. Tercelino também apoia a obra do Mergulhão.
Jomas Barbosa

Advogado e assessor parlamentar da Assembleia, Jomas, 46, também está se movimentando para montar, segundo ele, uma “chapa independente”. “O bairro já vem, há bastante tempo, com as mesmas lideranças, então estamos propondo uma renovação”, disse Jomas.
O pré-candidato, que também faz parte do Conselho de Segurança do bairro, disse que já está com a equipe completa para formar a chapa faltando, apenas, definir os postos.
É filiado ao Partido Novo, foi candidato a vereador em 2020 e não revelou se será candidato novamente em 2028. “Hoje, minha prioridade é a associação. Não posso dizer se vou disputar, porque está muito longe. Vai depender do cenário. No ano passado eu tinha pretensão de disputar, mas não me candidatei”.
Jomas disse que não conta com o apoio de nenhum grupo político, embora seja bem próximo do deputado estadual Adilson Espíndula (PSD).
Questionado sobre qual seria sua principal bandeira, respondeu à coluna De Olho no Poder: “Atuar pela prioridade e relevância dos interesses do morador, renovação na gestão da associação, mais trabalho pelo bairro e atuar para que a associação não fique refém de um único grupo político”.
Com relação a Pazolini, disse ser “a favor do cidadão”. “Eu me posiciono a favor do cidadão. Vitória tem se desenvolvido com Pazolini, mas é obrigação dele fazer. Ele está fazendo entregas e embora tenha falhas, vejo que são falhas menores que os gestores anteriores”.
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