

Nos EUA, 98,9% dos participantes do ensaio clínico desenvolveram anticorpos neutralizantes – Foto: Divulgação/Instituto Butantan/ND
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou o registro da vacina contra chikungunya nesta segunda-feira (14). Desenvolvido pela farmacêutica franco-austríaca Valneva, em parceria com o Instituto Butantan, o imunizante é o primeiro autorizado para a doença.
A vacina contra chikungunya tem dose única e será indicada para maiores de 18 anos em risco aumentado de exposição ao vírus. O imunizante, chamado de Ixchiq, é contraindicado para mulheres grávidas, pessoas imunodeficientes ou imunossuprimidas.
A Anvisa estabeleceu um termo de compromisso com o Instituto Butantan para a realização de estudos de efetividade e segurança da vacina, além de atividades de farmacovigilância ativa para ampliar o conhecimento sobre o perfil de eficácia.
A vacina contra chikungunya já havia sido aprovada em 2023 pela FDA (Food and Drug Administration), agência reguladora dos Estados Unidos, e pela EMA (European Medicines Agency), da União Europeia.
Conheça a eficácia e os efeitos adversos da vacina contra chikungunya, pioneira no mundo
A vacina contra chikungunya é considerada inovadora por ser a primeira inicialmente aprovada com base em dados de produção de anticorpos. A eficácia dos imunizantes costuma ser avaliada pela comparação da incidência de casos entre pessoas vacinadas e não vacinadas.
“Como a circulação do vírus da chikungunya não é tão frequente, as agências reguladoras decidiram pela aprovação a partir do percentual de anticorpos neutralizantes”, explica o Butantan.

Vacina contra chikungunya não é indicada para menores de 18 anos, mulheres grávidas, pessoas imunodeficientes ou imunossuprimidas – Foto: Divulgação/Instituto Butantan/ND
O imunizante foi avaliado nos Estados Unidos em 4 mil voluntários de 18 a 65 anos. Os resultados publicados na revista científica The Lancet, em junho de 2023, mostraram que 98,9% dos participantes produziram anticorpos neutralizantes, com níveis que se mantiveram robustos durante pelo menos seis meses.
Outro estudo, realizado com adolescentes brasileiros e publicado na The Lancet em setembro de 2024, constatou a presença de anticorpos neutralizantes em 100% dos voluntários com infecção prévia e em 98,8% daqueles sem contato anterior com o vírus.
A proteção foi mantida em 99,1% dos adolescentes após seis meses. O Butantan destaca que a maioria dos efeitos adversos registrados após a vacinação foi leve ou moderada. Os mais frequentes foram dor de cabeça, dor no corpo, fadiga e febre.
Quais os próximos passos para a vacina contra chikungunya ser distribuída no Brasil?
Há alguns procedimentos a serem cumpridos antes da aplicação da vacina contra chikungunya no país. O Instituto Butantan está elaborando uma versão a ser produzida em solo brasileiro. O imunizante tem a mesma composição da Valneva e já está sob análise da Anvisa.

A doença viral é transmitida pelo Aedes aegypti, mesmo mosquito da dengue – Foto: Divulgação/Decom/ND
Com componentes nacionais, a versão seria mais adequada à incorporação pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Contudo, a aprovação ainda depende do parecer da Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde), Programa Nacional de Imunizações e demais autoridades da área.
“A partir da aprovação pelo Conitec, a vacina poderá ser fornecida estrategicamente. No caso da chikungunya, é possível que o plano do ministério seja vacinar primeiro os residentes de regiões endêmicas, ou seja, que concentram mais casos”, aponta o diretor do Instituto Butantan, Esper Kallás.

Um dos principais sintomas é a febre de início repentino, acima de 38,5°C – Foto: Freepik/Internet/ND
O vírus da chikungunya é transmitido pela picada de fêmeas infectadas do Aedes aegypti, mesmo mosquito da dengue e zika. A transmissão também ocorre por meio de transfusão de sangue ou da gestante para o bebê.
A doença pode levar à morte. Os principais sintomas incluem febre alta, dor intensa e inchaço nas articulações, dor atrás dos olhos, manchas vermelhas na pele, dor de cabeça, dor muscular, cansaço, calafrios, vômitos e diarreia.
Em 2024, a infecção afetou 620 mil pessoas ao redor do mundo, segundo pesquisa do Centro Europeu de Prevenção e Controle das Doenças. Os países com maior incidência são Brasil, Paraguai, Argentina e Bolívia.