Abril Marrom: Caminhada de Bengala reforça apelo por inclusão e visibilidade das pessoas com deficiência visual

Caminhada de Bengala
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Em uma sociedade que ainda aprende a enxergar além das aparências, é preciso caminhar para ser visto. Foi com esse espírito que, na manhã deste sábado (12), um grupo de pessoas com deficiência visual, familiares, ativistas e voluntários se reuniu em frente à Prefeitura Municipal de Feira de Santana para a “Caminhada de Bengala”. Organizado pelas instituições Retina Bahia, ADAV e Bengala Verde, o ato teve como objetivo promover conscientização, respeito e empatia.

Caminhada de Bengala
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

A iniciativa integra a Campanha Abril Marrom, voltada à prevenção e combate à cegueira, além da valorização da diversidade visual, um chamado coletivo para que a sociedade reconheça os direitos e os desafios enfrentados por quem vive com baixa visão ou cegueira. Mais do que um instrumento de locomoção, a bengala segue sendo símbolo de autonomia, dignidade e resistência.

Além da caminhada, o evento contou com uma palestra sobre Orientação e Mobilidade, promovida pela ONG Bengala Verde, e uma aula de alongamento com educador físico.

Caminhada de Bengala
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“A Bengala Verde vem para conscientizar à sociedade que existem pessoas que veem e enxergam de forma diferente”, disse a presidente da Retina Brasil, Angela Maria de Souza Bezerra.

Ao Acorda Cidade, Angela destacou que há vários tipos de deficiência visual e que, muitas vezes, não é visível aos olhos da sociedade.

Caminhada de Bengala
Angela Maria | Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“Tem pessoas que conseguem ver um pouco melhor à noite, outros durante o dia. Outros têm visão central, outros periférica”, explicou. O movimento, segundo ela, quer mostrar que essas pessoas estão nas ruas, são cidadã, produtivas, independente de possuírem uma deficiência. “A maioria aqui tem graduação, mestrado, doutorado, tem várias profissões, que eles saibam, se conscientizem de que a pessoa com baixa visão existe para fazer a diferença”, afirmou.

“Já me disseram que eu estava fingindo”

Cecília Cabral de Vasconcelos, de 30 anos, veio de São Paulo para participar da caminhada e trouxe um depoimento potente sobre sua vivência com a baixa visão. “Eu uso leitor de tela, que é uma voz que fala com o computador e com o celular, porque eu não enxergo tela de celular, de computador, eu não consigo ler uma carta. Então eu tenho que usar uma adaptação tecnológica. E na rua eu uso bengala porque eu também às vezes tropeço”, contou.

Caminhada de Bengala
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Cecília convive com uma doença degenerativa na retina (a última parte do olho) desde o primeiro ano de vida. Ao longo dos anos, sua visão foi se agravando. Há nove anos ela usa bengala. Antes de adquirir o equipamento, ela já se machucou bastante, caindo, tropeçando; também não reconhecia as pessoas a uma longa distância e nem enxergava com luz baixa.

Caminhada de Bengala
Cecília Cabral | Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“Eu gosto muito da bengala. Ela dá autonomia e independência para a pessoa com deficiência visual. Quando eu não usava a bengala, as pessoas achavam que eu estava fingindo. Eu era mais nova ainda. Diziam, ‘ela está fingindo, está exagerando’. Achavam que era impossível, que eu estava exagerando. Já me disseram: ‘Ah, ela olha dentro do olho das pessoas, não usa óculos escuros’”, desabafou Cecília, destacando que a falta de informação é um problema gigantesco que reforça violências e estereótipos para as pessoas com deficiência visual.

Inclusão é um dever da cidade

A presidente da Retina Bahia, Marinalva Batista da Cruz, de Itabuna, também ajudou a organizar a Caminhada de Bengala. Ela, que também tem baixa visão, reforçou o papel da bengala verde na identificação das pessoas que vivem com essa condição.

Caminhada de Bengala
Marinalva Batista da Cruz | Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“A gente está conscientizando as pessoas sobre o uso da bengala verde, que é uma identidade da pessoa com baixa visão. […] A deficiência está muito atrás das aparências. A gente precisa ser vistos, compreendidos e não vistos como charlatões que querem usufruir de direitos ou benefícios”, alertou.

Para Rosilene Costa, presidente do Conselho da Pessoa com Deficiência de Feira de Santana, os obstáculos enfrentados por pessoas com deficiência começam na estrutura da cidade. “A cidade ainda não está preparada para que eles tenham todos os seus direitos garantidos, ou seja, não são as pessoas com deficiência que têm que se modificar para estar no ambiente, é a cidade que tem que se modificar para que eles tenham acesso a tudo”, afirmou.

Caminhada de Bengala
Rosilene Costa | Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Ela também destacou atitudes simples que fazem toda a diferença. “Tem um piso tátil, que é uma marcação no chão para orientar a pessoa com deficiência visual. A pessoa que não tem deficiência visual, não fique no local do piso. Tem que estar livre para que eles possam passar a bengala. Quando vê alguém de bengala, abre o caminho para que ele possa passar e não tropeçar. Então, acho que se as pessoas respeitarem as pessoas com deficiência, vamos ter uma vida melhor, uma sociedade mais justa”, completou.

Caminhada de Bengala
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade

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