

Testemunhas disseram que candidatos faziam distribuição de vale-gasolina em troca de votos – Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/ND
Três ex-candidatos à Câmara de Vereadores nas eleições municipais de 2024 em Porto Belo, no Litoral Norte catarinense, foram condenados por abuso de poder econômico e captação ilícita de sufrágio. Eles teriam trocado voto por gasolina durante o período eleitoral.
A decisão do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina foi publicada nesta quinta-feira (10) em primeira instância e define que os investigados ficarão inelegíveis por oito anos (até 2032).
A AIJE (Investigação Judicial Eleitoral) foi movida pelo Ministério Público Eleitoral contra Juliano Zandonai, Maurício Gomes e Silvana Nunes Stadler.
Como provas, além dos depoimentos de testemunhas, o processo cita que existem áudios, conversas de WhatsApp e fotos dos vales de combustível oferecidos e que circulavam pela cidade.

Voto por gasolina: ex-candidatos foram condenados em primeira instância – Foto: Reprodução/ND
Voto por gasolina: acusações
Várias testemunhas são citadas no processo, mas uma delas é considerada a peça-chave para a investigação, já que recebeu a “ajuda” de formas mais diretas. Sob pretexto para fazer um curso na cidade de Joinville, a pessoa teria pedido os vales aos três candidatos.
De acordo com relatos, o então candidato pelo PP (Partido Progressista) Juliano Zandonai, o “Preto”, por meio de seu pai, teria lhe entregue quatro vales de combustível no valor de R$ 50. No momento da entrega, ocorrida na residência da pessoa, o voto teria sido solicitado.
Outro ex-candidato presente no processo é Maurício Gomes (MDB). A mesma testemunha, em depoimento, disse que pediu a o auxílio por meio de um aplicativo de mensagens.
O candidato teria comparecido pessoalmente em sua casa e lhe entregue os vales, que totalizavam cerca de R$ 150. Na ocasião, o depoimento cita que o candidato também lhe pediu o voto e solicitou que fosse afixado um adesivo de campanha em seu veículo.

Candidatos que teriam trocado voto por gasolina pleiteavam vaga na Câmara de Vereadores de Porto Belo – Foto: Street View/ND
A mesma testemunha sigilosa disse que fez uma abordagem idêntica com a candidata Silvana Stadler, do PL (Partido Liberal).
Segundo o depoimento, ela também foi até a sua casa para entregar vales que também totalizaram R$ 150 em gasolina. Além disso, as acusações no processo dão conta de que Silvana já teria oferecido cestas básicas em troca de votos.
A testemunha sigilosa acrescentou que os vales passaram a circular como forma de pagamento por serviços (moeda de troca) pelo município, tendo relatado o caso de uma cliente que quitou um serviço no valor de R$ 85 com um vale-combustível de R$ 100.
Apesar de não terem sido eleitos, os três são suplentes de seus partidos. Hoje, Silvana ocupa o cargo de secretária de Assistência Social da cidade.
O que dizem os citados
O ND Mais entrou em contato com as defesas dos três ex-candidatos acusados por trocarem voto por gasolina.
A defesa de Juliano Zandonai, representada pelo advogado Daniel Luz, informou que trabalha em na confecção de um recurso e que seu cliente recebeu com “serenidade a decisão e confia plenamente na reversão do julgamento nas instâncias superiores”.
“Nossa equipe jurídica destaca que os autos do processo demonstram de forma clara que Juliano Zandonai não teve qualquer participação nos fatos narrados”, diz a nota.
A defesa diz, ainda, que Zandonai “sempre pautou sua vida particular e pública pela legalidade, pelo respeito às normas eleitorais e pela transparência com a população de Porto Belo e região”.
Além disso, que o ex-candidato “não compactua com qualquer prática que desvirtue o processo democrático e está confiante de que a Justiça e a verdade será restabelecida”.
A defesa de Maurício Gomes e Silvana Nunes Stadler, representada pelo advogado Alesson Cardozo, também respondeu ao portal por meio de nota.
“Respeitam a decisão proferida em primeira instância, mas reafirmam com veemência a sua inocência e esclarecem que irão apresentar recurso no momento oportuno, confiando plenamente na reversão da sentença”, diz.
O advogado conclui dizendo que, ao longo de toda a campanha, “ambos sempre pautaram sua conduta pela legalidade, pela ética e pelo respeito à legislação eleitoral, sem jamais praticar os atos que lhes foram indevidamente imputados”.
A Prefeitura de Porto Belo informou que a secretária Silvana Stadler possui formação em Assistência Social e, antes de ser vereadora, já atuou na área, possuindo experiência. Sobre o caso, o Município não se manifestará por “se tratar de questões eleitorais”.