

Jardins de chuva em espaços públicos aumentam a infiltração da água – Foto: Turenscape/Reprodução/ND
Com o aumento das enchentes e a carência de novos sistemas de drenagem, cidades brasileiras começam a olhar para um modelo urbano que se baseia na natureza: as “cidades-esponja“.
Baseado em soluções naturais, o conceito já mostrou bons resultados em países como China e Alemanha, e surge como alternativa realista para os municípios brasileiros.
O modelo brasileiro de enfrentamento às enchentes tem se baseado em “expulsar a água” o mais rápido possível com obras como muros de contenção, bombas de drenagem e canais.
O problema? Essas soluções não acompanham a intensidade atual das chuvas nem o crescimento desordenado das cidades, com ruas cada vez mais asfaltadas e menos estruturadas para fortes chuvas.
O resultado? Ruas alagadas, cidades devastadas e milhares de pessoas desabrigadas a cada temporada de chuvas fortes.
Como funciona uma cidade-esponja na prática?
O modelo de cidade-esponja busca o oposto: em vez de combater a água, ele a acolhe. Confira algumas estruturas que fazem parte dessa transformação:
- Jardins de chuva: pequenos canteiros que captam e filtram a água da chuva diretamente no solo;
- Parques alagáveis: áreas verdes que podem ser inundadas temporariamente sem prejuízo, servindo como bacias naturais;
- Pavimentos permeáveis: calçadas e ruas que absorvem parte da água, evitando enxurradas;
- Telhados verdes: coberturas com vegetação que ajudam a reter água da chuva e reduzem o calor urbano;
- Rios naturalizados: margens sem concreto e com vegetação que permitem a infiltração da água.
Como o conceito pode ajudar a enfrentar enchentes no Brasil?
O arquiteto chinês Kongjian Yu, idealizador do modelo e fundador do escritório Turenscape, afirma que a ideia é transformar as cidades em “florestas urbanas”, capazes de lidar com a água como florestas fazem.
Em entrevista, Yu disse que o modelo pode funcionar perfeitamente no Brasil, desde que adaptado ao contexto de cada região.
“As cidades brasileiras geralmente enfrentam problemas como assentamentos informais, infraestrutura inadequada e condições climáticas variáveis. […] Em áreas propensas a inundações, pode ser necessário priorizar a restauração de planícies de inundação naturais e a criação de bacias de retenção”, afirma o arquiteto.

A cidade-esponja valoriza o convívio entre pessoas e natureza – Foto: Turenscape/Reprodução/ND
O Brasil vive uma escalada de enchentes – como a tragédia recente no Rio Grande do Sul, que deixou mais de 100 mortos e 70 mil desabrigados. Além disso:
- Quase 2 mil municípios são altamente suscetíveis a inundações;
- Em Salvador, mais de 1,2 milhão de pessoas vivem em áreas de risco;
- Grandes centros como São Paulo e Recife enfrentam enchentes recorrentes.
A adaptação do modelo à realidade brasileira pode incluir:
- Recuperação de rios urbanos, como o Tietê;
- Criação de parques públicos alagáveis nas periferias;
- Inserção de jardins de chuva em bairros vulneráveis.
Ademais, a cidade-esponja não exige grandes obras imediatas. É possível começar com projetos de baixo custo e alto impacto.
O que mudou nas cidades que adotaram o modelo?
Na China, o conceito já foi aplicado em mais de 70 cidades. Um dos exemplos mais emblemáticos é Jinhua.
Antes da adaptação:
- Enchentes frequentes durante o verão;
- Ruas tomadas por água;
- Prejuízos econômicos e deslocamentos de moradores.
Depois da adaptação:
- Implementação de parques alagáveis, pavimentos permeáveis e sistemas de captação;
- Redução drástica na frequência e intensidade das enchentes;
- Melhor qualidade de vida, novos espaços de lazer.
Cidades-esponja mostram que é possível conviver com as fortes chuvas, não lutar contra ela. Com soluções naturais, o Brasil pode enfrentar as enchentes e tornar suas cidades mais verdes e resilientes.