Novo vídeo mostra dono de mansão em SP atirando em dois policiais ao confundi-los com assaltantes


Investigadora Milene Estevam foi morta por Rogério Saladino em dezembro de 2023. Outro investigador reagiu e matou empresário e funcionário dele. Laudo apontou que dono da residência consumiu álcool e remédios antes de atirar. Novo vídeo mostra momento em que dono de mansão atirou em policiais em SP
Um novo vídeo mostra o momento em que o dono de uma mansão em São Paulo atira na direção de dois policiais civis ao confundi-los com assaltantes, no final do ano passado (veja acima). O caso ocorreu em 16 de dezembro de 2023 entre as ruas Guadelupe e Venezuela, nos Jardins, área nobre da capital, e repercutiu na imprensa e nas redes sociais.
Outras imagens do crime já haviam sido divulgadas anteriormente. Nesta semana, g1 e TV Globo tiveram acesso a mais uma filmagem do tiroteio que deixou três pessoas mortas. Todas as cenas estão sendo analisadas pela Polícia Civil.
No novo vídeo, gravado pela câmera de segurança de um imóvel vizinho, o portão eletrônico da mansão abre, e o dono, o empresário Rogério Saladino dos Santos, de 56 anos, aparece atirando contra os investigadores Milene Bagalho Estevam, de 39, e Felipe Wilson da Costa, de 44, que estavam na calçada do outro lado da rua.
Milene, que nem chegou a reagir, tenta correr e cai morta ao ser atingida por três disparos. Felipe vai na direção do portão e reage, atirando contra Rogério, que é baleado e morre na garagem. O funcionário dele, o vigilante Alex James Gomes Mury, de 49 anos, tenta pegar a arma do patrão e atirar no agente, mas também é atingido pelo investigador e é morto.
O empresário Rogério Saladino tinha 56 anos
Reprodução/Redes sociais/Abramed
Felipe não se feriu. Ele e sua colega tinham ido ao local em busca de câmeras de segurança que pudessem ter gravado ladrões que haviam furtado um imóvel próximo alguns dias antes. Para isso, tocavam as campainhas dos casarões e mostravam os distintivos pendurados no pescoço, se identificando como policiais.
Antes dos disparos, Milene chegou a conversar com o vigilante, quando ele saía da mansão. Segundo a polícia, ela havia se identificado como investigadora para Alex, que depois retornou à residência e avisou Rogério. Mas o empresário não acreditou. E quando abriu o portão, saiu disparando contra os dois agentes.
O carro prata que aparece acelerando para fugir dos disparos é de um motorista de aplicativo que estava na rua esperando uma mulher sair da mesma mansão. O veículo dele foi atingido por ao menos um disparo feito pelo empresário. O condutor não foi atingido.
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De acordo com o laudo do Instituto Médico Legal (IML) da Polícia Técnico-Científica, Rogério estava sob efeito de bebidas alcoólicas e de remédios quando cometeu o crime.
Segundo o Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), o empresário achou que Milene e Felipe eram criminosos e por isso atirou neles.
Bebidas encontradas na mansão de Rogério Saladino; segundo a perícia, empresário estava sob efeito de álcool quando atirou em policiais ao confundi-los com assaltantes
Reprodução/Polícia Técnico-Científica
O DHPP investiga o tiroteio nos Jardins como “homicídio” e “morte decorrente de intervenção policial”. Agora com o laudo, o departamento quer saber dos peritos se as substâncias encontradas no corpo de Rogério podem ter feito ele ter tido alucinações ou confusão mental para achar que policiais fossem bandidos.
O Instituto Médico Legal (IML) encontrou 13 dg/L de álcool etílico no sangue do empresário. Os efeitos dessa dosagem variam de acordo com o peso, sexo, idade e metabolismo, mas, segundo dados do Cisa (Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool), a partir de 8 dg/L a pessoa pode apresentar sintomas como falha de coordenação motora, visão dupla e desconexão da realidade.
Também foram encontradas substâncias químicas no organismo de Rogério. Elas estão presentes em remédios para depressão e distúrbios do sono. Esses medicamentos, associados a álcool, também poderiam contribuir ou agravar um estado de alucinação, segundo policiais.
Foto a partir de vídeo analisado pela perícia mostra momento em que dono da mansão atira nos policiais ao confundi-los com assaltantes
Reprodução/Polícia Técnico-Científica
O DHPP voltará a questionar o IML sobre quais são os efeitos que essas substâncias podem ter causado no empresário. Independentemente das respostas, o inquérito policial deverá ser arquivado pela Justiça já que o autor do crime morreu no tiroteio.
A polícia informou ter encontrado “porções de maconha” e outras drogas, como haxixe e substâncias sintéticas, na residência de Rogério. Apesar disso, os peritos não encontraram vestígios delas no corpo de Rogério.
Milene estava há sete anos na Polícia Civil. Ela deixou uma filha de 5 anos. A mulher foi enterrada num cemitério da Zona Leste da capital paulista. Na cerimônia de despedida, diversas viaturas da Polícia Civil ligaram suas sirenes em sua homenagem.
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CAC, laboratório e namorada
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Segundo a Polícia Civil, Rogério tinha autorização para ter armas em sua casa, já que era CAC (sigla para Caçador, Atirador e Colecionador de Armas). Apesar de policiais terem dito que as duas armas do empresário estavam regularizadas, o boletim de ocorrência do caso informa que uma delas estaria irregular: uma pistola calibre .45. A outra pistola: a .380 está legalizada.
Rogério era sócio-presidente do Grupo Biofast, empresa brasileira que desde 2004 atua no mercado de medicina diagnóstica, entregando resultados de exames médicos para os setores público e privado. Entre as análises realizadas estão as clínicas, anatomia patológica e biologia molecular.
O empresário namorava a modelo e arquiteta Bianca Klamt, de 37 anos. Ela chegou a postar vídeos e fotos do casal nas suas redes sociais com mensagens como “muita saudade”. Rogério deixa um filho, de 15 anos, fruto de um relacionamento anterior.
“Muita saudade”, escreveu a namorada de Rogério, a modelo e arquiteta Bianca Klamt, em seu Instagram
Reprodução/Arquivo pessoal
Homicídio, agressão e crime ambiental
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que Rogério tinha passagens criminais anteriores pela polícia por “homicídio, lesão corporal e crime ambiental”.
Por meio de nota, enviada ao g1 pela assessoria de imprensa da família de Rogério, os parentes do empresário lamentaram as mortes dele e das outras duas pessoas. E rebateram as acusações de crimes atribuídos ao empresário no passado. Ele foi enterrado num cemitério da capital.
“Nós não sabemos ao certo qual informação ele [Rogério] recebeu, não temos noção de qual informação ele recebeu que explicasse essa reação que ele teve [de atirar nos policiais]. De maneira que, com a impossibilidade de ele pode explicar o que aconteceu, é muito dificil discutirmos sobre os fatos”, falou o advogado da família de Rogério, Marcelo Martins Oliveira.
A reportagem não localizou representantes ou parentes do vigilante para comentarem o assunto. Segundo o DHPP, ele “não ostentava antecedentes criminais”.
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Guilherme Luiz Pinheiro/g1 Design
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