
‘A vida nunca mais será a mesma depois dessas tarifas’, afirma o professor de economia e políticas públicas da Universidade do Michigan Justin Wolfers. Ele explica que a política econômica do presidente americano gera novos custos em cascata. A política comercial de Donald Trump ameaça distorcer os preços de praticamente todos os produtos nos Estados Unidos e causar impactos negativos por muito tempo para as famílias.
“A vida nunca mais será a mesma depois dessas tarifas”.
Esta é a opinião do professor de economia e políticas públicas da Universidade do Michigan Justin Wolfers e o título do artigo que ele escreveu para o jornal “The New York Times”. O professor avalia que as tarifas impostas agora por Donald Trump podem ser 50 vezes mais dolorosas do que aquelas que ele impôs no primeiro mandato presidencial, de 2016 a 2020.
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A questão vai muito além de números, argumenta o professor. É sobre não ter opção, a não ser repensar escolhas diárias. Pai e mãe obrigados a adaptar as atividades dos filhos. Um custo imensurável na qualidade de vida e até na saúde mental.
Em entrevista ao Jornal Nacional, o professor citou o próprio exemplo. A família dele planejava comprar um segundo carro, mas ele desistiu porque os automóveis devem ficar, em média, US$ 4 mil mais caros. Quase metade dos carros vendidos nos Estados Unidos é importada. Montadoras americanas usam peças e motores importados em até 40% da produção.
“Temos duas carreiras que demandam muito, duas crianças com uma série de atividades. A gente só tem um carro. Isso quer dizer mais gastos com táxis, pedir carona para amigos. Estes custos vão redesenhar significativamente nossa vida”, afirma Justin Wolfers.
Política comercial de Trump ameaça distorcer preços de produtos nos EUA e impactar negativamente as famílias
Jornal Nacional/ Reprodução
As tarifas vão ter um impacto em praticamente todas as compras feitas nos Estados Unidos. Em um apartamento, pode-se dar alguns exemplos. O cacho de banana veio da Guatemala e custava US$ 1,20 o quilo. A partir de agora, deve custar US$ 1,32. O americano consome boa parte do café do Vietnã. O quilo custava US$ 14. A partir de agora, pode ultrapassar US$ 20. A máquina de lavar que hoje custa cerca de US$ 1 mil, agora pode ultrapassar os US$ 1,3 mil. Frutas como morango, manga, abacate, abacaxi – praticamente não são produzidas nos Estados Unidos, precisam ser importadas do México – vão ficar 25% mais caras.
Pouco antes da primeira eleição de Trump, em 2016, a tarifa média de importação americana era de 1,5%. Na época, Trump impôs um tarifaço a produtos como aço e alumínio, mas deixou a média sem alteração. Até 2019, quando ele dobrou a tarifa média sobre os importados para 3%. Agora, eles chegarão a 22,5%, as mais altas desde 1909.
Política comercial de Trump ameaça distorcer preços de produtos nos EUA e impactar negativamente as famílias
Jornal Nacional/ Reprodução
O professor explica que a política econômica do presidente americano gera novos custos em cascata. Equipamentos ultrapassados consomem mais água e mais energia e dão mais defeito – isso afeta a qualidade de vida e a conta no fim do mês. Se frutas e vegetais ficarem mais caros, uma família pode optar por congelados – que são menos saudáveis.
“Vai ser mais difícil viver só com o salário. Haverá consequências em todo lugar, incluindo na saúde. Quando eu tenho liberdade, posso escolher os vegetais mais saudáveis para minha família. O problema é que estas tarifas criam um abismo entre a decisão certa e a decisão com a qual eu posso arcar. Se muitas outras famílias deixarem de comprar produtos que antes eram amplamente consumidos, pode causar um efeito dominó. O que vai acontecer com a indústria automotiva? Vai começar a demitir trabalhadores. O que vai acontecer com a indústria de alimentos? É assim que começa uma recessão”, afirma o professor.
“Vai ficar muito difícil para a gente importar. Estamos saindo de um mundo com 8 bilhões de consumidores, fornecedores e amigos para um mundo com 340 milhões de americanos que vão ter que se virar sozinhos. Isso é uma dor real, eu e você vamos nos lembrar disso”, diz Justin Wolfers.
Real e sentida principalmente pelo americano que encaixa a peça do carro na fábrica, pelo motorista de caminhão que vai transportar menos produtos no mês, pelo feirante que vai vender menos no domingo.
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