Paula Toller recicla a fórmula pop do Kid Abelha ao gravar show ‘Amorosa’


Fernanda Abreu, Luísa Sonza e Roberto Menescal participam do registro audiovisual da turnê, cujo roteiro retrospectivo incluiu tributo a Rita Lee em duas apresentações na casa Vivo Rio, no Rio de Janeiro. Paula Toller na gravação do show ‘Amorosa’ na casa Vivo Rio, no Rio de Janeiro, em 26 de janeiro
Ricardo Nunes / Divulgação Vivo Rio
Resenha de show – Gravação de álbum audiovisual
Título: Amorosa
Artista: Paula Toller (com participação de Fernanda Abreu)
Local: Vivo Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 26 de janeiro de 2024
Cotação: ★ ★ ★ 1/2
♪ Quando ainda estava no Kid Abelha, Paula Toller iniciou paralela discografia solo que rendeu ao menos um grande álbum, SóNós (2007). Curiosamente, após o encerramento das atividades do grupo carioca em 2013 (fim anunciado oficialmente apenas em 2016), a artista nunca mais lançou disco ou ao menos um single relevante.
A rigor, Paula Toller segue em cena com sucesso porque lança mão do manancial de irresistíveis sucessos do Kid Abelha. Essa dependência ficou evidente quando a cantora e compositora caiu na estrada e percorreu o Brasil com a turnê Como eu quero! entre 2017 e 2019, reeditando as boas vibrações das apresentações do Kid.
Feito sob direção musical de Liminha, o corrente show da artista, Amorosa (2023 / 2024), também segue a fórmula pop dos hits da banda formada em 1981 e impulsionada a partir de 1983.
Com Liminha ao violão, nos arranjos e na liderança da banda formada por Gustavo Camardella (violão e vocal), Pedro Dias (baixo e vocal), Gê Fonseca (teclados e vocal) e Adal Fonseca (bateria), Paula Toller voltou com a turnê Amorosa à cidade natal do Rio de Janeiro (RJ) neste fim de semana para fazer o registro audiovisual do show em duas apresentações na casa Vivo Rio.
Paula Toller canta música de Hyldon com Fernanda Abreu na gravação do show ‘Amorosa’ na casa Vivo Rio na sexta-feira, 26 de janeiro
Ricardo Nunes / Divulgação Vivo Rio
Na sexta-feira, 26 de janeiro, a convidada de Paula foi a contemporânea Fernanda Abreu, com quem a anfitriã reviveu a canção soul Na rua, na chuva, na fazenda (Hyldon, 1973) – regravada pelo Kid Abelha no álbum Meu mundo gira em torno de você (1996) – em abordagem pop que tangenciou a cadência do reggae.
Na noite de ontem, 27 de janeiro, Paula recebeu no palco do Vivo Rio Roberto Menescal e uma das cantoras mais populares dos atuais anos 2020, Luísa Sonza, com quem cantou Nada sei (Apneia) (Paula Toller e George Israel, 2002).
O roteiro do show Amorosa se escorou no repertório do Kid Abelha e todo o efeito surtido na plateia foi com os hits dessa banda injustamente minimizada pela crítica dos anos 1980 por fazer o pop perfeito. Isso ficou claro desde a abertura do show com Fixação (Beni Borja, Leoni e Paula Toller, 1984) até o bloco final que culminou em momento festivo com os dois hits seminais do Kid Abelha – Por que não eu? (Leoni, Paula Toller e Herbert Vianna, 1983) e Pintura íntima (Leoni e Paula Toller, 1983) – após as lembranças acústicas e menos óbvias de Todo meu ouro (Paula Toller e George Israel, 1989) e Maio (Paula Toller e George Israel, 1998).
Nem a justa e legítima homenagem a Rita Lee (1947 – 2023) – com Agora só falta você (Rita Lee e Luiz Carlini, 1975), rock da fase Tutti Frutti da Ovelha Negra – entusiasmou tanto quanto aquelas músicas eternamente deliciosas e adolescentes como A fórmula do amor (Leoni e Leo Jaime, 1985) e Educação sentimental II (Leoni, Paula Toller e Herbert Vianna, 1985), petardos infalíveis do cancioneiro de Leoni, integrante da formação original do Kid Abelha e compositor fundamental na fase inicial da banda.
O que mudou eventualmente foi a pegada de uma ou outra música. Lágrimas e chuva (Leoni, George Israel e Bruno Fortunato, 1985), por exemplo, caiu em tom mais folk, com violões em primeiro plano.
Paula Toller canta com Luísa Sonza na apresentação de sábado, 27 de janeiro, no segundo dia da gravação ao vivo do show ‘Amorosa’
Ricardo Nunes / Divulgação Vivo Rio
Aos 61 anos, Paula Toller pareceu cada vez mais bonita em cena. E também reiterou a evolução vocal ao longo desses 40 anos de sucesso. Sim, o show Amorosa foi criado para celebrar as quatro décadas de carreira de Paula Toller – efeméride enfatizada pela artista no palco da casa Vivo Rio.
Esse propósito legitimou o roteiro retrospectivo, sem ousadias ou avanços, e recheado com os mesmos hits da turnê anterior Como eu quero! – casos de Nada por mim (Paula Toller e Herbert Vianna, 1985) e No seu lugar (Paula Toller, George Israel e Lui Faria, 1991), entre muitos outros possíveis exemplos.
Houve, sim, charme quando os músicos da banda solaram Os outros (Leoni, 1985) e À noite sonhei contigo (Kevin Johansen em versão em português de Paula Toller, 2007), a grande canção do melhor disco solo de Paula, o já mencionado SóNós.
Em contrapartida, houve momentos mornos. A recriação em clima de samba-rock do funk Não vou ficar (Tim Maia, 1969) – lançado por Roberto Carlos e (bem) regravado pelo Kid Abelha no álbum Tudo é permitido (1991) – surtiu efeito moderado.
Já músicas como Calmaí (Paula Toller e Liminha, 2014), Eu amo brilhar (Paula Toller e Gustavo Camardella, 2020) – esta com tentativa forçada da artista de fazer o público dançar – e Perguntas (Beni Borja, 2022) provocaram certa apatia, até compreensível. Porque, afinal, e mal nenhum há nisso, todo mundo estava ali para ouvir Paula Toller cantar os hits do Kid Abelha.
Ciente disso, a cantora fez o que público queria e reciclou a fórmula pop do grupo em roteiro generoso que incluiu Alice (Não me escreva aquela carta de amor) (Leoni, Paula Toller e Bruno Fortunato, 1984), Eu tive um sonho (Paula Toller e George Israel, 1993) e Te amo pra sempre (Paula Toller e George Israel, 1996), além, claro, de Como eu quero (Paula Toller e Leoni, 1984), balada revivida com balões iluminados pelos celulares da plateia em efeito visual que evidenciou o caráter amoroso do saudoso público do Kid, para sempre súdito da Abelha Rainha do pop nacional.
Paula Toller recebe Roberto Menescal no segundo dia da gravação do show ‘Amorosa’ no Rio de Janeiro
Ricardo Nunes / Divulgação Vivo Rio
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