Entenda por que a falta de áreas verdes impulsiona a migração de enxames e ondas de calor favorecem ataques de abelhas


Em 2022, foram 414 ocorrências com o inseto em Piracicaba. Em 2023, o número passou para 679 incidentes. No dia 22 de janeiro, idoso morreu após ser atacado por abelhas em Piracicaba. Recomendação de biólogos é que, em caso de picada de abelha, o indivíduo não tente mergulhar para fugir do enxame
Gender Euphorbia/iNaturalist
A redução de espaços florestais onde as abelhas possam fazer ninhos naturais integra os fatores que impulsionam a migração dos enxames em busca de outros locais adequados. Com o desmatamento, a escassez de áreas verdes formam ilhas de calor. E, em um ambiente inadequado, de temperaturas elevadíssimas e ruídos, estressante para as abelhas, é que se tornam também mais propícios os ataques, conforme explicam especialistas.
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Os casos de ataques de abelhas registraram alta de 64% na região de Piracicaba (SP) em um ano, de acordo com levantamento do Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado de São Paulo. – Leia mais, abaixo. 👇
Em uma semana, a região registrou duas ocorrências com idosos, em uma delas, um homem de 93 anos morreu após mexer em um galho de árvore onde fica um ninho, na área central de Piracicaba.
Simone Dias é engenheira florestal e diretora operacional da GeoApis em Piracicaba
Simone Dias/Arquivo pessoal/GeoApis
O g1 conversou com a engenheira florestal e diretora de uma start up especializada em mitigação e prevenção de mortalidade de abelhas, Simone Dias.
As abelhas são essenciais para a produção agrícola e inclusive, para a segurança alimentar.
A profissional pondera que o movimento migratório é algo comum à espécie, mas pode ser influenciado pelas condições socioambientais, como o uso desenfreado de agrotóxicos e rápida mudança de paisagens, resultante do desmatamento.
“Com a diminuição de espaços nas áreas naturais, alterações de temperatura por conta das mudanças climáticas e a própria diminuição de áreas de florestas, esses enxames viajam grandes distâncias em buscas de melhores condições e eventualmente passam por áreas urbanas. Eles ficam por poucos dias e daí seguem viagem”, explica.
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Enxame de abelhas africanizadas
Reprodução/EPTV
Abelhas não atacam à toa
A profissional ressalta que as abelhas não atacam à toa. “Apesar de nos assustarmos e de se impactante ver um exame migratório, esses insetos não atacam sem motivo”, observa.
Quando ocorre alguma ocorrência com abelhas, segundo Simone, é porque alguém esbarrou, ainda que sem intenção, ou ainda cutucou, tentou removê-las ou o ambiente ficou estressante demais para elas.
“Apesar se serem muito defensivas elas não costumam atacar exceto quando se sentem ameaçadas ou o ambiente gerou algum tipo de estresse nelas. Por isso não se deve tentar removê-las ou espantá-las sem um profissional especializado”, alerta.
As mudanças climáticas impactam na migração das abelhas, mas não se pode dizer que por conta disso, esses insetos estão aparecendo mais nas cidades.
Comportamento das abelhas
É importante destacar alguns aspectos do comportamento das abelhas na cidade. Nesta época do ano, no verão, se dá a formação de novos enxames e é muito comum a ocorrência de enxames de passagens.
“Um novo enxame se forma na colmeia e sai em busca de um novo habitat para se estabelecer”, afirma. “Por isso as pessoas veem com mais frequência umas “pelotas” de abelhas nas casas, nas árvores, em postes e até em estruturas inusitadas como veículos ou máquinas em áreas industriais”, exemplifica.
Locais
Os enxames estão migrando em busca de alimento e de um local definitivo para habitar. Na natureza, buscam árvores com cavidades, cupins abandonados ou espaços entre rochas.
Por que as abelhas são importantes na cidade?
Simone aponta a existência de muitas abelhas nas cidades e que esses insetos são muito importantes na manutenção da biodiversidade urbana, a exemplo de Piracicaba (SP).
“Muitos desses enxames, inclusive, são monitorados pela GeoApis. Existem muitos criadores urbanos de abelhas nativas sem ferrão nas cidades e essas abelhas são inofensivas”, reitera.
Os enxames de passagens são de abelhas africanizadas, as chamadas “Apis mellifera”, que possuem ferrão. A criação racional dessas abelhas, que é uma espécie exótica, em área urbana não é permitida.
Casos de ataques de abelhas crescem 64% em um ano na região
Os casos de ataques de abelhas registraram alta de 64% na região de Piracicaba (SP) em um ano, de acordo com levantamento do Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado de São Paulo, divulgado pela Secretaria da Saúde nesta segunda-feira (22). De acordo com a dados da Pasta, em 2022, foram 414 ocorrências com o inseto e, em 2023, o número passou para 679 incidentes.
Neste ano, até o dia 16 de janeiro de 2024, a região de Piracicaba registrou dois casos de ataques de abelhas, segundo levantamento oficial da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo.
Nesta segunda-feira (22), um idoso morreu após mexer no galho de uma árvore onde havia um enxame de abelhas na região do Bairro Alto em Piracicaba.
Idoso morre após ataque de abelhas
Idoso de 93 anos morre após ser atacado por abelhas em Piracicaba
“Tentei de tudo, mas não consegui salvar meu pai”, disse emocionada Rosa Nunes, filha do idoso, de 93 anos, que morreu após ser atacado por abelhas em Piracicaba (SP). O caso aconteceu em um estacionamento da família dele, na região do bairro Cidade Alta nesta segunda-feira (22). – Assista no vídeo, acima👆.
“Peguei um balde de água. Mas, não consegui entrar. Quando a ambulância chegou, ninguém podia entrar, todas as abelhas estavam em cima dele”, lembrou a filha.
Rosa contou à equipe da EPTV, afiliada da Globo para Piracicaba e região, que o pai, junto dos familiares, ia diariamente ao estacionamento, que fica na Rua Aquilino Pacheco, perto do estádio do XV de Piracicaba. “Ele adorava ficar lá, no lugar que ele construiu. Gostava de conversar”, lembra.
Os familiares afirmam também desconhecer a existência do enxame. O idoso foi atacado pelas abelhas ao tentar mexer em um galho de um coqueiro onde havia um ninho dos insetos.
Idoso de 95 anos morreu após ataque de abelhas em Piracicaba
Edijan Del Santo/EPTV
Segundo a família, o idoso era o dono do estacionamento e ia diariamente cuidar do negócio. O filho dele, Paschoal Nunes, afirmou que não tinha visto antes abelhas no local e que inclusive, ainda nesta segunda, outro familiar também tinha ido até lá e não viu nada.
“Deve ser algum enxame que se movimentou, que veio de algum lugar”, afirmou.
O idoso foi encontrado por um cliente do estacionamento, o supervisor de segurança Edmir Mineli. Ele contou que quando chegou ao local na manhã desta segunda para tirar o carro já viu as abelhas voando na calçada. Ao entrar no local, viu o idoso caído no chão com os animais em volta.
“Eu peguei um pano e tentei jogar em cima dele, me abriguei no cantinho e liguei para o resgate e polícia”, contou.
Resgate
O resgate do Corpo de Bombeiros foi ao local, mas o idoso já tinha morrido. O corpo deve ser encaminhado para exame no Instituto Médico Legal (IML). As circunstâncias do ataque serão apuradas.
As equipes dos Bombeiros precisaram usar roupas e equipamentos especiais para realizar o atendimento.
Uma empresa especializada foi chamada para fazer a remoção do enxame. Um técnico responsável explicou que, talvez, as abelhas se sentiram ameaçadas quando o galho onde ficava o ninho foi mexido e atacaram o idoso.
Ele explica que o exame tinha tamanho médio e poderiam estar ali há cerca de seis meses.
Migração de abelhas
O enxame foi retirado e os insetos foram exterminados no local, de acordo com Luis Mazzero, gestor de áreas públicas em Piracicaba.
O calor excessivo e ocorrência de queimadas são alguns dos fatores que podem ocasionar a migração de abelhas de um local para o outro, segundo o especialista.
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