Como o superaquecimento prejudica o desempenho do processador?

Como o superaquecimento prejudica o desempenho do processador?Daniel Trefilio

Todo aparelho eletrônico aquece como resultado do próprio processo físico de transmissão e transformação de corrente elétrica. Entretanto, se o calor gerado for excessivo, o superaquecimento pode prejudicar o funcionamento desses equipamentos, principalmente os mais sensíveis como os processadores de PCs, resultando em lentidão ou até a inutilização do componente.

No caso específico dos computadores domésticos, vários motivos podem resultar no superaquecimento, da aplicação errada da pasta térmica até a operação em ambientes muito quentes. Por essa razão, é importante conhecer os principais problemas gerados pelo aquecimento excessivo, possibilitando reconhecer quando é a hora de abrir seu PC para uma limpeza ou levá-lo para a manutenção.

1. Thermal Throttling

O problema mais comum em PCs, principalmente notebooks, é o thermal throttling. Ele ocorre quando o processador reduz bruscamente a sua velocidade para evitar danos por superaquecimento. De maneira geral, essa limitação térmica é mais um mecanismo de segurança que um problema de fato.

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Todos os chips de computador, e isso inclui os processadores, são dimensionados para trabalhar com segurança a até uma dada temperatura em uso prolongado. Atualmente, o limite térmico dos principais CPUs, tanto Intel quanto AMD, é de 100ºC, com alguma margem de erro, mas trabalhar constantemente nessas temperaturas pode levar a outros problemas.

Quando os sensores instalados nos processadores identificam temperaturas acima do limite térmico, o thermal throttling é ativado e reduz drasticamente a corrente elétrica da CPU. De maneira geral, esse processo acontece quando ocorrem picos de no processador, que podem ser resultado de falhas de projeto, fontes de baixa qualidade ou programas muito exigentes mal otimizados para aquele sistema.

Na prática, o mecanismo de segurança é mais perceptivo em jogos, quando ocorrem alguns “engasgos”, mas eles não são necessariamente preocupantes. Geralmente, reduzir algumas configurações mais dependentes de CPU, como quantidade de elementos e personagens visíveis na tela, costuma resolver.

2. Travamentos e telas azuis (BSOD)

Os travamentos acontecem quando o sistema operacional congela completamente, não sendo possível nem encerrar os programas ou desligar o PC sem cortar a alimentação completamente. Uma variação um pouco mais comum — mas igualmente preocupante — dos travamentos são as famigeradas Telas Azuis da Morte (Blue Screen of Death / BSOD).

Desde que as fabricantes de processadores implementaram o thermal throttling como mecanismo de segurança, as telas azuis e travamentos por superaquecimento se tornaram menos comuns. Atualmente, a maioria desses erros estão relacionados a falhas específicas de outros componentes, drivers desatualizados ou falhas na instalação de atualizações do sistema.

Os travamentos por aquecimento excessivo só ocorrem quando o sistema não é compatível com thermal throttling, ou quando essa trava de segurança ainda não é suficiente para reduzir as temperaturas. Neste último caso, a tela azul é um forte indicativo de que CPU ou algum componente da placa-mãe podem estar danificados, resultando em correntes mais altas do que as configuradas para aquele processador.

Algumas ferramentas de monitoramento de temperatura podem ajudar a identificar se esse é o caso do seu sistema. Muitos notebooks mais novos, principalmente os modelos profissionais ou gamer, já trazem programas pré-instalados que auxiliam a acompanhar a temperatura, como o Alienware Control Center, Lenovo Vantage ou ROG Armoury Crate.

Para desktops ou notebooks que não trazem essas soluções de fábrica, a alternativa mais simples é utilizar softwares como o HWMonitor, da CPUID, ou AIDA64 Extreme. Os dois programas trazem monitores bastante precisos, mas o HWMonitor é gratuito, enquanto o AIDA64 oferece apenas um período de testes de 30 dias.

A vantagem do AIDA é que ele permite ativar pequenos ícones na barra de tarefas para acompanhar a temperatura em tempo real, enquanto utiliza o PC normalmente. Aí basta ficar atento aos valores da temperatura dos núcleos no momento dos travamentos.

Usuários mais experientes ainda podem realizar os testes de benchmarking do AIDA64 para verificar as temperaturas do processador em uso intenso. No entanto, se existe a desconfiança que o problema seja devido ao superaquecimento, é preciso estar ciente que os benchmarks podem agravar a situação, pois colocam os componentes em seus limites.

3. Redução da vida útil

Diferentes motivos podem causar superaquecimento do processador. Apesar de ele não ser necessariamente um problema em casos pontuais, como thermal throttling, a operação constante em temperaturas muito elevadas pode reduzir a vida útil do processador e do PC como um todo.

Além dos travamentos e telas azuis, superaquecimento constante pode danificar peças internas dos processadores, comunicação com as memórias e outras peças. Em certas condições, a temperatura pode inclusive danificar conectores de energia e até soldas da placa-mãe em casos extremos.

Independentemente do limite térmico de 100ºC, em uso normal as temperaturas do processador costumam chegar a até 70ºC, estar sempre acima desse valor pode ser um mau sinal. Mesmo a lentidão do sistema podendo ser causada por vários problemas não relacionados ao superaquecimento, sempre que ela se tornar recorrente é recomendável passar a monitorar a temperatura.

Outro sintoma que pode indicar superaquecimento constante é o “coil whine”, um zumbido mais agudo produzido pelas ventoinhas girando rápido demais. Se o sistema começa a produzir cheiro forte, isso também é um indicativo de que algum componente está aquecendo demais.

I was today years old when I learned you could solve Intel coil whine by reducing the max CPU state in Windows power settings by 1% Soo smart and soo dumb pic.twitter.com/6UEovDNVoj

— Ryan RC Rea (@volvoshine) November 8, 2020

Caso os softwares de monitoramento indiquem que, de fato, a temperatura da CPU, o ideal é buscar medidas preventivas para tentar reduzir esses números:

  • Evite utilizar o PC em áreas muito abafadas ou úmidas, buscando cômodos com boa circulação de ar.
  • Especialmente para o Brasil, que é bastante quente na maior parte de seu território, o ideal é buscar Air Coolers mais potentes, ou partir para kits de arrefecimento líquido.
  • Dê preferência para gabinetes com bom espaço interno para circulação de ar, e mantenha os cabos organizados na parte de trás da placa-mãe.
  • Escolha fontes de alimentação de qualidade. A maioria das fontes modernas com certificação 80 Plus trazem controladores de tensão bem eficientes, que ajudam a manter correntes estáveis, evitando picos de tensão.
  • Para quem utiliza nichos de escritório, certifique-se que as entradas e saídas de ar na frente, top, traseira e laterais – quando houver – não estejam obstruídas.
  • Para notebooks, sempre utilize eles em superfícies planas e rígidas, e nunca sobre almofadas, colchas, cobertores, toalhas, etc. Tecidos em geral abafam as entradas de ar e podem resultar em superaquecimento.
  • Também para notebooks, se possível utilize suportes que elevem um pouco o corpo do PC, apenas para facilitar o fluxo de ar. Bases com ventoinhas podem ajudar em situações específicas, mas geralmente têm o mesmo efeito de simplesmente ter uma pequena elevação.
  • Faça a limpeza do PC com regularidade, se possível uma vez por ano. A poeira acumulada nas aletas das ventoinhas prejudica o fluxo de ar, e dependendo o volume de sujeira, também pode afetar o rolamento, travando ou queimando as ventoinhas.
  • Substitua a pasta térmica caso nenhuma dessas medidas solucione o problema do aquecimento. Nesse caso, é recomendável levar a uma assistência técnica de confiança para garantir que o processo será realizado com segurança.

4. Queima do componente

Não se atentar a possíveis problemas de temperatura do processador pode, sim, resultar na queima do componente, e em muitos casos o estrago é bem maior que apenas a CPU. O processador se comunica diretamente com uma série de outras peças, mas mais especificamente com as memórias, placa de vídeo e dispositivos de armazenamento.

O superaquecimento recorrente, especialmente o gerado por problemas de corrente elétrica excessiva, pode sobrecarregar também a tensão desses outros componentes. Isso pode resultar na queima das trilhas elétricas que interligam essas peças com a CPU, ou mesmo na queima das peças em si.

Pensando em notebooks, o cenário é ainda mais grave, pois grande parte das peças são soldadas diretamente na placa-mãe, e perder o processador por superaquecimento é quase sempre perda total. Sendo assim, é preciso estar atento aos sinais de que seu PC possa estar esquentando demais, evitando prejuízos ainda maiores do que o preço da manutenção preventiva.

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