
A manutenção da Selic em 15% para 2025, segundo o Boletim Focus divulgado nesta semana, um sentimento que já circula entre analistas e agentes do mercado: o Brasil deve conviver com juros elevados por mais tempo do que se previa. Ainda que a inflação projetada para o ano que vem tenha permanecido em 5,65%, o cenário econômico inspira prudência — e a política monetária deve seguir vigilante.
Para muitos economistas, a leitura do Focus vai além dos números: é o retrato de uma economia que tenta encontrar equilíbrio entre inflação resistente, crescimento econômico moderado e uma política fiscal cercada de incertezas.
“Selic alta por mais tempo” é o novo normal?
Segundo Pedro Ros, CEO da Referência Capital, a alta dos juros encarece o crédito, especialmente no setor imobiliário, o que tende a frear aquisições e financiamentos. Por outro lado, ele destaca que a inflação mais estável ajuda a controlar os custos da construção civil. “O cenário segue desafiador, mas há oportunidades para quem investe com visão de longo prazo e estratégia”, avalia.
Essa visão de equilíbrio cauteloso é compartilhada por Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, que vê o Banco Central adotando uma abordagem de ajustes graduais. “O Copom deve manter uma política monetária vigilante, com altas menores ou estabilidade nas próximas reuniões, à medida que a inflação se mostre mais resiliente”, afirma.
Crescimento revisto, fiscal no radar
O PIB para 2025 foi revisado para 1,97%, terceira redução consecutiva, reforçando a leitura de desaceleração. O câmbio, por sua vez, caiu para R$ 5,92, refletindo um movimento de realinhamento após os choques externos recentes.
Para Felipe Uchida, da Equus Capital, os números reforçam a cautela do mercado. “O Focus mostra uma economia que ainda busca um rumo, em meio às incertezas fiscais e a um ambiente internacional volátil. A Selic está em 15% pela 12ª semana, o que mostra a força dessa postura restritiva”, explica.
Selic em alta: fim do aperto está próximo?
A última alta de 1 ponto percentual na Selic reacendeu o debate sobre quando esse ciclo deve terminar. Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, projeta ainda dois aumentos menores, enquanto a inflação não der sinais mais firmes de convergência. “O mercado já precifica esse aperto, o PIB recua, o câmbio cede, e a bolsa anda de lado. O Focus reflete esse processo de ajuste”, observa.
Já Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, vê um cenário que exige atenção redobrada. “O Banco Central deve manter o tom firme, mas o mercado começa a antecipar uma desaceleração da inflação a partir de abril. Ainda não há espaço para cortes, mas o ciclo pode estar perto do fim”, avalia.
Enquanto isso, a política fiscal segue no centro das discussões. A dívida líquida do setor público segue elevada, em 75,91% do PIB, e qualquer sinal de fragilidade nas contas públicas tende a limitar a margem de manobra do BC.
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