
O mercado global de petróleo pode enfrentar uma nova reviravolta, caso o presidente Donald Trump implemente a tarifa sobre o petróleo russo. Contudo, segundo Pedro Rodrigues, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), a implementação de uma tarifa ao petróleo da Rússia teria um impacto reduzido, principalmente nos preços globais de combustíveis e na transição energética mundial.
Rodrigues, um dos especialista No setor de energia, avaliou, em conversa com a BM&C News, que a aplicação de uma tarifa nos moldes sugeridos por Trump não causaria grandes modificações na dinâmica global do petróleo. “Essa tarifa seria aplicada ao petróleo russo importado pelos Estados Unidos, mas os EUA já não compram petróleo russo de forma significativa desde o início do conflito com a Ucrânia. Então, na prática, essa tarifa não teria impacto real”, explicou Rodrigues.
A Rússia, apesar de ser um dos maiores produtores de petróleo do mundo, não tem mais o mercado americano como seu principal comprador, o que diminui as implicações diretas dessa medida no mercado global. Além disso, o país segue sendo uma fonte crucial para a oferta mundial de petróleo, o que torna qualquer restrição ou embargos à sua exportação mais desafiadores e ineficazes, como ficou claro no início da guerra, quando a tentativa de imposição de um embargo ao petróleo russo não foi bem-sucedida.
“Quando a guerra entre Rússia e Ucrânia começou, a tentativa de embargo ao petróleo russo não teve êxito, já que o petróleo da Rússia passou a ser negociado de maneira indireta, com um teto de preço de US$ 60 por barril. Se essa política for alterada, pode até ocorrer uma alta no preço do barril de petróleo, mas isso não deve ser atribuído a uma tarifa do Trump em si”, avaliou Rodrigues.
Petróleo russo: efeito indireto sobre o mercado global e a energia
Rodrigues também ressaltou que, mesmo que a tarifa sobre o petróleo russo fosse implementada, ela não impulsionaria a transição energética, algo que muitos esperavam que acontecesse com a escassez de combustíveis fósseis. “Na verdade, as políticas de Trump não buscam aumentar a transição energética para fontes renováveis, mas sim estimular a produção de petróleo nos EUA, inclusive em terras federais”, disse Rodrigues.
A visão do especialista é de que o mercado global ainda depende consideravelmente dos combustíveis fósseis e, portanto, forçar uma mudança tão rápida em direção a fontes alternativas poderia ter um efeito contraproducente. “O que vimos nos últimos anos é que a dependência mundial de petróleo ainda é muito grande. A transição energética precisa ser feita com planejamento, e forçar essa agenda sem um plano de contingência poderia ser prejudicial“, completou.
Porém, o especialista acredita que, embora o discurso político sobre energias renováveis esteja crescendo, as ações de países como os EUA continuam a seguir a lógica da produção e consumo de petróleo, uma necessidade imposta pela realidade geopolítica e econômica atual. “Há uma percepção de que, por mais que se fale sobre energias renováveis, ainda há uma grande dependência dos combustíveis fósseis, e qualquer esforço para acelerar a transição sem a devida infraestrutura pode ser mais danoso que benéfico“, ponderou Rodrigues.
Brasil: impactos no preço do petróleo e nas receitas de exportação
Com relação ao Brasil, um dos maiores produtores e exportadores de petróleo do mundo, a possível tarifa de Trump sobre o petróleo russo teria consequências indiretas, mas ainda relevantes para a economia brasileira. O Brasil, como grande exportador de petróleo, depende do preço global da commodity para gerar receitas com a venda de petróleo e com os royalties provenientes da extração de petróleo.
“Se a tarifa levar à redução do preço global do petróleo, o Brasil poderá enfrentar uma diminuição em sua receita com a exportação. Isso ocorre porque a queda no preço do petróleo tende a reduzir a arrecadação com royalties e participações especiais”, afirmou Rodrigues. No entanto, o especialista também destacou que essa diminuição de receita pode ter efeitos paradoxais, já que ela também pode ajudar a reduzir a pressão sobre o preço dos combustíveis no mercado interno, o que, por sua vez, poderia reduzir a inflação no Brasil e aliviar o custo de vida para os consumidores.
“Se o preço do petróleo cair, a política brasileira sobre combustíveis pode ser mais favorável para o governo, já que a pressão sobre os preços de combustíveis e a inflação seriam menores. Portanto, o efeito líquido para o governo pode ser positivo em termos de controle inflacionário”, completou Rodrigues.
No entanto, ele alerta que o cenário global de oferta e demanda por petróleo continua altamente volátil, com o Brasil enfrentando um equilíbrio delicado entre suas exportações e a necessidade de proteger o mercado interno. A política de preços dos combustíveis, adotada no Brasil para reduzir a volatilidade do mercado, pode ser testada dependendo dos desdobramentos da guerra da Rússia e da Ucrânia e das possíveis mudanças nas rotas comerciais com os EUA.
Impactos limitados e um cenário incerto
A tarifa sobre o petróleo russo proposta por Trump, na visão de Pedro Rodrigues, pode não ter o impacto esperado sobre os preços globais dos combustíveis ou sobre a transição energética global. O efeito mais significativo seria uma redução indireta do preço do petróleo, o que poderia beneficiar países como o Brasil, embora com efeitos mistos na receita de exportação e no controle da inflação.
Em um cenário global instável e com o aumento das tensões geopolíticas, é difícil prever os desdobramentos de medidas como essa. No entanto, fica claro que, para o Brasil, o cenário continua desafiador, com a necessidade de equilibrar as necessidades internas e externas para manter a estabilidade econômica. O futuro das políticas energéticas no Brasil e no mundo dependerá de uma série de fatores, incluindo a continuidade da guerra na Ucrânia, o comportamento do mercado de petróleo e as estratégias de transição energética.
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O post O que a tarifa de Trump no petróleo russo significa para o Brasil e o mercado de energia apareceu primeiro em BM&C NEWS.