
O cenário de juros voltou ao centro das atenções do mercado financeiro. Em entrevista ao programa BM&C News, o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz, avaliou que um eventual corte da taxa Selic ainda em 2025 dependerá menos dos fundamentos econômicos e mais de pressões políticas. A possibilidade de flexibilização monetária, segundo ele, não encontra espaço técnico diante das condições atuais da inflação e do crescimento econômico.
“Se a resposta for puramente econômica, não vai ter corte. Não dá para atingir a meta de inflação de 3% nos próximos anos se já começarmos a cortar no fim de 2025”, afirmou Cruz.
Pressão política pode antecipar corte nos juros
Na visão do estrategista, a expectativa de baixo crescimento econômico em 2025 pode gerar pressões políticas para a redução dos juros já no final deste ano. Isso porque os efeitos da política monetária demoram a se refletir na atividade, e parte dos agentes públicos já enxerga a necessidade de estímulo antecipado.
“Há uma pressão muito grande para que o Banco Central ajude a criar um ambiente melhor no ano que vem. E isso só seria possível se os cortes começassem já no final deste ano, porque política monetária tem defasagem”, explicou.
Possível corte de juros e os riscos para a credibilidade do BC
Cruz também alertou para o risco de desgaste institucional. Para ele, se o Banco Central decidir cortar juros sem que haja espaço real para isso, a credibilidade da autoridade monetária pode ser afetada — especialmente após um período em que a inflação se manteve consistentemente fora do centro da meta.
“O Banco Central está há um tempo sem conseguir entregar inflação no centro da meta. Isso não ajuda sua reputação. Se começar a cortar os juros sem ter espaço real para isso, a credibilidade pode piorar ainda mais”, afirmou.
Comparações com o exterior não se aplicam
O estrategista também comentou o cenário internacional, onde países como os Estados Unidos já avaliam encerrar o ciclo de aperto monetário. No entanto, Cruz avalia que o Brasil não está na mesma posição para discutir cortes com segurança.
“Nos EUA, talvez faça sentido começar a discutir cortes. Aqui, não. A inflação ainda está acima do ideal, e a resposta da economia aos juros é mais lenta. Além disso, a percepção de risco é muito maior”, ponderou.
Copom mais imprevisível
Por fim, Gustavo Cruz destacou que as decisões do Copom ao longo do ano devem ganhar mais imprevisibilidade e peso político, com o crescimento da influência de nomes próximos ao governo dentro da estrutura do Banco Central.
“Não dá mais para dizer que uma reunião é igual à outra. A disputa entre o que é técnico e o que é político deve crescer”, concluiu.
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