
Alguns desafios da Região Metropolitana também continuam da época da fusão até hoje. Fusão do estado do Rio com o da Guanabara completa 50 anos em março
A fusão dos estados da Guanabara e Rio de Janeiro completou 50 anos no último dia primeiro. O período em que a cidade do Rio foi um outro estado durou cerca de 15 anos, mas durante esse marco e imediatamente depois foram feitas algumas obras que ainda têm grande impacto na cidade.
O Estado da Guanabara nasceu em 1960, como uma espécie de compensação: quando a capital passou a ser Brasília, a cidade do Rio de Janeiro virou um estado – o pequeno estado da Guanabara.
“Surge principalmente de uma coisa equivocada, das lideranças políticas da cidade quererem muito uma representação própria, ou seja, vão parar de ter prefeito indicado. Então, surge a ideia do estado da Guanabara”, lembra o urbanista Carlos Fernando Andrade.
Era um estado pequeno, mas com dinheiro no bolso. Só de impostos sobre mercadoria, por exemplo, a Guanabara arrecadava três vezes mais que o Estado do Rio. Foi um período marcado por muitas obras.
“Eu acho que no governo [Carlos] Lacerda a gente pode citar várias obras icônicas. Uma delas é o Aterro [do Flamengo], se a gente for falar de Zona Sul, a outra é a obra do [Sistema] Guandu. Que, na verdade, pegaram água da Baixada Fluminense, mas só beneficiaram a cidade do Rio de Janeiro”, diz o economista da UFRJ Mauro Osório.
“Dessa época também são as grandes obras rodoviárias, que vão dar inclusive na expansão para Barra da Tijuca nos anos 20, com a criação do Plano Lúcio Costa, para expandir para lá. (…) É também o momento de criação dos túneis, por exemplo, do Santa Bárbara”, diz Osório. O arquiteto e urbanista Vicente Loureiro lembra ainda o início do metrô, que veio logo depois da fusão.
Bandeira do Estado da Guanabara era semelhante a da cidade do Rio
Reprodução/RJ2
Hino e bandeira familiares e o fim
Assim como os outros estados brasileiros, a Guanabara também tinha bandeira e hino. A bandeira era a mesma que a da cidade do Rio hoje e o hino era a marchinha “Cidade Maravilhosa”, de André Filho, que tinha sido criada para o carnaval de 1935.
De um lado, o estado da Guanabara era visto como rico, avançado, cosmopolita, enquanto o estado do Rio era considerado pobre, rural, atrasado. Quando, em 1974, o governo militar decidiu pela fusão, muita gente não gostou.
“O problema não é a fusão, o problema é o momento em que a fusão foi feita, sem discussão, sem debate com a sociedade, de forma autoritária, feita pelos militares e logo depois vem a crise dos anos 80. Com a crise dos anos 80, a crise na cidade e no estado do Rio de Janeiro se aprofundam e a fusão de alguma forma leva a culpa sobre isso”, diz Mauro Osório.
Alguns estudiosos acreditam que a fusão foi, principalmente, um gesto político da ditadura para enfraquecer opositores. Outros veem razões econômicas: uma certa estagnação econômica da Guanabara, que precisava dos recursos do estado do Rio para se desenvolver.
A fusão entre os dois estados foi concluída em março de 1975, 50 anos atrás. “Era uma forma mais adequada de tratar questões muito comuns já à vida da população dos dois estados. A obtenção de água potável, o destino do lixo, serviços de saneamento. Transportes, eram questões como eu disse mais de 70 por cento dos dois estados já vivia nesse aglomerado metropolitano e essas questões eram muito presentes e precisava de uma gestão um pouco mais uniforme, mais adequada”, diz o arquiteto e urbanista Vicente Loureiro.
Outra mudança importante é que Niterói deixou de ser a capital do estado do Rio. A fusão dos estados trouxe ainda um outro marco: a criação oficial da Região Metropolitana do Rio.
Desafios da época da fusão continuam
Cinquenta anos depois, a agenda para toda a região segue cheia de desafios. “Acho que, para além da questão da segurança e saúde que são sempre levantadas, o desafio principal é o da mobilidade. A gente precisa encontrar uma fórmula de governar os serviços de transportes dos municípios que compõem a região metropolitana principalmente”, diz Vicente.
“O que a gente precisa é integrar esse estado, o Rio de Janeiro precisa ser o hub de uma economia regional. Precisa de muito investimento em infraestrutura, precisa resolver segurança pública. A crise do estado é institucional. É um estado muito pequeno, urbano, fácil de resolver na medida em que você consiga entender para onde a gente quer ir e a gente consiga renovar a política.”