Durante entrevista ao programa BM&C News, o economista VanDyck Silveira afirmou que o atual patamar elevado da taxa Selic é consequência direta da expansão fiscal promovida pelo governo. Em meio às críticas recentes do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do vice-presidente Geraldo Alckmin contra os juros altos, Silveira destacou que o real problema da inflação no Brasil está na ausência de responsabilidade fiscal e no excesso de gastos públicos.
“A gente vive uma esquizofrenia entre governo e Banco Central. O BC reage à inflação, e a inflação é alimentada pelo excesso de gastos. Não há equilíbrio quando o gasto cresce 15%, a arrecadação 9% e o PIB apenas 3%”, alertou Silveira.
Inflação estrutural não se combate com retórica do governo
Para o economista, o governo federal tenta desviar o foco ao afirmar que juros altos não reduzem o preço de commodities como petróleo. Ele argumenta que a pressão inflacionária atual é reflexo de políticas fiscais expansionistas iniciadas ainda no governo Bolsonaro e mantidas sob novos formatos, como a PEC da Transição e o uso crescente de instrumentos parafiscais.
Silveira também criticou o histórico recente do Banco Central ao lembrar da política monetária excessivamente expansionista em 2020, quando a Selic foi reduzida a 2% ao ano. “Foi um erro estratégico. Somos um país diferente do mundo desenvolvido. Ainda pagamos a conta dessa decisão”, completou.
Risco de recessão e dominância fiscal no horizonte do governo
Ao analisar o cenário macroeconômico de 2025, o economista demonstrou preocupação com a desaceleração em setores como serviços e varejo, mesmo com o impulso do agronegócio no primeiro semestre. Para ele, há indícios claros de esgotamento da atividade econômica, principalmente entre as famílias de baixa renda, que já enfrentam alto endividamento e dificuldades de consumo.
“A percepção que tenho é de uma recessão no fim do ano. A inflação não vai cair com o governo gastando como está. Se o BC for sério, o juro precisa subir para 15,5% ou até mais. Mas isso empurra o país para a recessão”, disse Silveira.
Ele também alertou sobre o risco de o Brasil caminhar para um cenário de dominância fiscal, quando o endividamento elevado impede a eficácia da política monetária. “Ainda não vejo isso como iminente, mas estamos perto. O varejo é o ‘canário na mina de carvão’ — e os números estão ruins”, afirmou.
Inflação prejudica mais os mais pobres
VanDyck encerrou sua análise com um alerta social. Para ele, a inflação representa o pior mal para a população, especialmente para os mais vulneráveis, que perdem poder aquisitivo de forma generalizada. “O povo não consegue lidar com inflação. A classe média até suporta desemprego por um tempo, mas inflação corrói tudo — salário, dignidade e comida no prato”, concluiu.
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