Mudança de sexo e besouro ‘amigo’: descubra como as vitórias-régias se reproduzem


Flor feminina aprisiona inseto por uma noite para depois soltá-lo já “transformada” em masculina. Jardim botânico realiza polinização artificial da planta. Relembre reportagem gravada pelo Terra da Gente em setembro de 2015
Típica da Amazônia, a vitória-régia (Victória amazônica) é um dos símbolos da região Norte do país. No entanto, o Jardim Botânico Plantarum, em Nova Odessa (SP), conseguiu realizar o plantio e a reprodução artificial da espécie no Sudeste.
Ao se abrir pela primeira vez, a flor das Américas nasce com estrutura feminina. Segundo a equipe do Plantarum, esse é o único momento em que isso acontece na vida do organismo.
Vitória-régia é polinizada pelo besouro Cyclocefalo casteneacea
Mário Gomes
Neste dia, a flor libera um odor que vai atrair um besouro específico, cuja presença é essencial no processo de reprodução, o Cyclocefalo casteneacea. Mas sua breve visita se transforma em pernoite, uma vez que a flor aprisiona o inseto dentro dela e só solta no dia seguinte.
Por estar com o corpo coberto de pólen de outras flores de vitória-régia (no caso, as masculinas), o besouro promove a fertilização da espécie. No entanto, ao liberar o inseto no dia posterior, a flor que era feminina se torna masculina e seu pólen é levado pelo Cyclocefalo casteneacea para uma nova flor feminina.
Desse modo, a planta evitar ser fertilizada pelo próprio pólen, o que aumenta a variabilidade genética da espécie. Isso é chamado de polinização cruzada. Vale lembrar que, no geral, todas as flores de plantas angiospermas possuem estruturas femininas e masculinas.
Jardim Botânico Plantarum, em Nova Odessa (SP)
Reprodução/TG
“Tentamos por vários anos mantê-la até que a gente finalmente descobriu o segredo, e agora a gente consegue produzir nossas próprias mudas de vitória-régia”, comenta a educadora ambiental do Plantarum, Vitória Brochini.
Polinização artificial
Para criar mudas de vitória-régia, o engenheiro agrônomo Harri Lorenzi, idealizador do jardim botânico, retira as pétalas de uma flor masculina e coleta o pólen com uso de uma faca. Em seguida, deposita o composto na abertura de uma flor feminina. Tudo é feito durante a noite, quando o evento normalmente acontece na natureza.
Feito isso, a flor feminina se fecha, afunda e começa a se transformar para dar forma às novas plantas. “Toda aquela flor ela vira um saco, parece um saco plástico, e começa o processo de maturação dos óvulos que vão se transformar em sementes”, explica Vitória.
Extração da semente para plantio de mudas em tanque de água
Reprodução/TG
Quando estão prontas, as sementes são retiradas e levadas para um tanque para criar as mudas. Assim, de forma sucessiva, a planta vai sendo transplantada de tanque em tanque, até que chega ao lago onde ficam as vitórias-régias adultas.
Maior planta aquática do mundo
A vitória-régia é a maior planta aquática do mundo e que tem a maior flor das Américas. Ela também é conhecida pelo nome popular de jaçanã. Esta planta é encontrada no Brasil, Bolívia e Guianas. No território brasileiro ela é típica da região Norte, na bacia do Rio Amazonas.
Sua folha de formato circular pode medir até 2,5 metros e e suportar até 40 quilos, se forem bem distribuídos em sua superfície.
A floração ocorre desde o início de março até julho. A flor é branca e se abre apenas à noite, ficando assim até aproximadamente às 9h da manhã seguinte. No segundo dia, ela ganha um tom rosado. O fruto amadurece em torno de seis semanas e as sementes são flutuantes. Estas, em época de vazante, fixam-se no solo, germinando uma nova planta.
Quando jovem, a vitória-régia possui o formato de coração. Outra curiosidade sobre a planta é que esta possui espinhos na parte inferior para evitar predadores.
Vitória-régia 14
Mário Gomes
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