Opinião: “Eduardo Bolsonaro será ouvido nos EUA?”

Os americanos são conhecidos por formarem uma sociedade que se interessa muito pouco pelos problemas internacionais. Enquanto vários governos dos Estados Unidos interferiram, ao longo das últimas décadas, seus cidadãos preferem uma distância mais que regulamentar do exterior. Não é à toa, portanto, que 60% dos americanos nunca viajaram ao exterior (tirando México e Canadá desta conta) e 11% jamais deixaram o estado onde nasceram.

É uma cultura que eles mesmos chamam de “self-absorved”, ou egocêntrica. O próprio presidente Donald Trump, em seu segundo mandato, imprimiu essa dinâmica ao promover um tarifaço sem precedentes que desagradou até aliados e parceiros de longa data. E qual seria a razão desta política agressiva? “America first”, ou “os Estados Unidos em primeiro lugar”.

Em algumas regiões, inclusive, as pessoas não se preocupam nem com o que acontece fora de sua própria cidade. Neste sentido, é notória a capa da revista “New Yorker” que mostra a visão de um habitante de Manhattan sobre a geografia daquilo que está além da Décima Avenida. Após o rio Hudson, há uma pequena faixa escrito “Jersey”; depois, um quadrilátero no qual estão inclusos localidade como os estados de Utah e Texas e cidades como Los Angeles, Chicago, Las Vegas e Kansas City. Após esse território, temos o Oceano Pacífico e, ao se final, China, Japão e Rússia. A capa é de 1976 e é de autoria do artista Saul Steinberg.

Dentro deste contexto, como deve ser interpretada a intenção do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro de promover uma cruzada nos EUA sobre uma suposta perseguição política da qual ele seria vítima aqui no Brasil?

Até agora, o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro conseguiu capturar a solidariedade de congressistas como Rich McCormick (Geórgia) e Maria Salazar (Flórida), além do senador estadual Shane Jett (Oklahoma), casado com uma brasileira. Ao lado deles, figuras importantes na constelação republicana, como o estrategista Steve Bannon e o ex-deputado Matt Gaez, também estão entre aqueles que podem reverberar suas ideias.

Mas, dentro de uma sociedade como a americana, há espaço para um parlamentar brasileiro destilar sua pendenga com um juiz de seu país? O ministro Alexandre de Moraes até pode ser conhecido por alguns americanos, já que estrelou uma briga, através das redes sociais, com o bilionário Elon Musk. Mas esse assunto está longe de ser um tema palpitante para o cidadão médio dos Estado Unidos.

O presidente Trump poderia alavancar a posição de Eduardo Bolsonaro e tentar algum movimento para pressionar o governo brasileiro. Mas Trump é movido a audiência e pelo buzz que cria nas redes sociais. A cruzada do deputado brasileiro engajaria os militantes trumpistas, tão alinhados com a proposta de retomar a grandeza dos EUA, como é proposta da Casa Branca? Dificilmente. Estamos falando de pessoas que podem incorporar o estereótipo de que a capital do Brasil é Rio de Janeiro ou Buenos Aires e que por aqui se fala espanhol e não português.

Dessa forma, Eduardo Bolsonaro corre o risco de, passada a novidade de sua mudança para território americano, ficar falando sozinho – ou melhor, apenas com seus apoiadores brasileiros, via rede social.

Será que esse fuzuê todo vale a pena?

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