
A ata da mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta quarta-feira (25), trouxe uma novidade importante na avaliação do mestre em economia Roberto Dumas: a preocupação explícita do Banco Central com o impacto do aumento do crédito — sobretudo o crédito direcionado — sobre o comprometimento da renda das famílias e a eficácia da política monetária.
Dumas chama atenção para os parágrafos 7, 8 e 9 do documento, que destacam um ponto até então pouco abordado em atas anteriores: o risco de que o aumento das concessões de crédito, especialmente aquelas com viés parafiscal, como o consignado, comprometa ainda mais a renda das famílias e limite a atuação da política monetária tradicional.
“Essa foi a real novidade da ata”, afirma o economista. “O Banco Central praticamente diz que, com o aumento do crédito, a renda das famílias segue cada vez mais comprometida, o que reduz a potência da política monetária.”
A conta que não fecha: mais crédito, menos efeito dos juros
O Copom reconhece que houve uma inflexão recente nas concessões de crédito bancário, com redução do ritmo de liberação de recursos e aumento das taxas de juros. No entanto, o cenário ainda projeta elevado comprometimento da renda com o serviço da dívida, como destacado no item 7 da ata.
Já no item 8, a autoridade monetária reforça que, para que a política de juros cumpra seu papel de conter a inflação, os canais de transmissão – como o crédito – não podem estar obstruídos por estímulos paralelos, como políticas de incentivo ao consumo.
Por fim, no item 9, o documento alerta que o aumento do crédito direcionado e as incertezas fiscais podem elevar a taxa de juros neutra da economia — ou seja, o patamar em que os juros não estimulam nem retraem a atividade econômica. Para Dumas, esse é um recado direto ao governo.
“O BC está dizendo, nas entrelinhas, que políticas como o consignado e o uso do FGTS para estimular consumo pioram o quadro fiscal e minam a eficácia da Selic. No limite, isso obriga o Copom a manter os juros mais altos por mais tempo”, explica.
Crédito em alta vs política monetária em xeque?
Na avaliação de Dumas, ainda que a ata tenha repetido pontos conhecidos — como a preocupação com o cenário externo e as incertezas fiscais —, o recado mais relevante está justamente nesse alerta sobre o crédito.
“O que o BC está sinalizando é que não adianta subir os juros de um lado se o governo continua liberando crédito de outro. Isso neutraliza os efeitos da política monetária e pode até piorar o problema”, diz.
A mensagem do Banco Central, segundo ele, é clara: o equilíbrio fiscal e a coordenação entre política monetária e política fiscal (e parafiscal) são fundamentais para reduzir a inflação de forma sustentável.
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