“Progresso 007”: fugitivo da Papuda liderou roubo a banco por WhatsApp

Com fuzil e armas de uso restrito, bandidos invadiram uma agência bancária em Carmo do Rio Verde (GO) na madrugada de 24 de março de 2018. O município é pequeno, com apenas 9 mil habitantes, e o tamanho era um dos interesses do grupo, que mirava em locais pacatos e com menor força policial.

A ação típica de grupos do Novo Cangaço tinha como objetivo roubar a instituição financeira, repetindo o assalto milionário que ocorreu em outra cidade do interior goiano por parte do grupo semanas antes.

Os bandidos, no entanto, foram surpreendidos por policiais militares e civis de Goiás que já esperavam o ataque. A ação resultou em três minutos de troca de tiros e na morte de três envolvidos no crime.

A quadrilha agia na madrugada e era liderada, por meio do WhatsApp, pelo mesmo homem que fugiu do Complexo Penitenciário da Papuda nessa sexta-feira (3/1).

Também antes de raiar o dia, Argemiro Antonio da Silva, de 62 anos, serrou as grades do banheiro da ala de idosos da penitenciária no Distrito Federal e escapou.

Ele cumpria 125 anos de cadeia por penas somadas, incluindo outro roubo a banco e latrocínio.

Uma investigação policial apontou que Argemiro, vulgo “Costelinha”, era chefe de uma quadrilha de roubo a bancos na época do crime em Carmo do Rio Verde. Dias antes, em Crixás, o bando de criminoso liderado pelo atual fugitivo levou R$ 1.346.467,08 em espécie da agência bancária.

Na época, Argemiro estava detido no complexo prisional de Aparecida de Goiânia por outros delitos. Da cela, orquestrou o assalto à agência do Banco do Brasil de Crixás e a Carmo do Rio Verde, municípios a 340 km e a 207 km de distância dele respectivamente.

Os bandidos recebiam instruções direto do WhatsApp em um grupo chamado “Progresso 007”, que dividia a operação em duas equipes: uma responsável por entrar na agência bancária e outra, pela locação de imóveis e pelo deslocamento.

A organização criminosa ainda levou dois revólveres calibre 38 e 20 munições que pertenciam à equipe de vigilância.

Essas informações constam na denúncia feita pelo Ministério Público de Goiás (MPGO) naquele mesmo ano. O roubo bem-sucedido provocou uma investigação que acabou por desmantelar a quadrilha.

Na sentença que condenou Argemiro a 17 anos de prisão, a Divisão Antirroubo a Bancos, da Polícia Civil de Goiás (PCGO), detalhou como chegou ao mandante que operava a rede criminosa.

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Polícia pede ajuda para denunciem fuga de preso

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Argemiro Antonio da Silva, de 62 anos fugiu de madrugada

Seape/Divulgação

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Polícia pede ajuda para denunciem fuga de preso

Seape/Divulgação

Investigação

A Divisão Antirroubo a Bancos, da Polícia Civil de Goiás (PCGO) teve o apoio de um informante. Ele avisou que haveria um novo roubo no fim do mês, em outra cidade. Os investigadores identificaram que Argemiro programava o crime para a data prevista em Carmo do Rio Verde (GO).

Segundo a polícia, os criminosos escolhiam uma cidade no interior por conta da quantidade pequena de viaturas no município. Eles contaram com o apoio de Daniela Rodrigues da Silva, que seria responsável por alugar uma casa e um carro.

A quadrilha, que recebia ordens de Argemiro por meio de um grupo de WhatsApp intitulado “Progresso 007”, estava dividida em dois grupos: uma responsável por entrar na agência bancária e outra, pela locação de imóveis e pelo deslocamento.

Sabendo o local do próximo crime, os policiais mapearam todas as agências bancárias, traçaram possíveis rotas de fuga e acompanharam carros com placas de outras cidades ou que tivessem sido alugados.

Equipes ficaram de campana a partir de 23 de março em pontos diferentes na cidade. A estratégia era surpreender o grupo na noite do crime.

Ação dos bandidos

Por volta das 22h de 24 de março, uma intensa movimentação começou na porta da agência do Banco do Brasil. A polícia identificou que três carros que já eram monitorados passaram na frente da agência.

Na madrugada, uma das criminosas envolvidas simulou uma discussão na porta do banco. O intuito era ver se alguém por perto alertaria a polícia ou se uma viatura passaria naquele horário.

Às 3h, um veículo estacionou nas proximidades da instituição bancária, e os bandidos desembarcaram do carro.

Eles começaram a furar as paredes do banco. Os bandidos acionaram um equipamento bloqueador de sinais para desabilitar tanto o alarme da agência quanto os celulares próximos. Por conta disso, os dispositivos da polícia sofreram alteração.

Segundo os investigadores, o objetivo do bloqueio era impedir que alguma testemunha acionasse a polícia. Arilson Eduardo da Conceição era o responsável pelo dispositivo e saiu de Cuiabá (MT) para operar o equipamento.

Os criminosos tinham maçarico, ferramenta para quebrar a parede da agência e o bloqueador de sinal. Eles ainda estavam armados com um fuzil e duas pistolas de uso restrito (veja abaixo a lista dos materiais).

Flagrante e tiroteio

Os bandidos ainda não sabiam, mas as equipes policiais tinham fechado todo o cerco em volta do banco. Após ordem da Delegacia Antirroubo, a Polícia Militar de Goiás entrou em ação e abordou os criminosos. Eles tentaram fugir pelos fundos, mas viram que os policiais os encurralavam,

Segundo a investigação, os bandidos revidaram, o que culminou em três minutos de troca de tiros, com três pessoas mortas, todas da quadrilha.

A polícia apreendeu os celulares dos criminosos e identificou o grupo “Progresso 007”, com conversas relacionadas a crimes contra instituições financeiras, com fotos e áudios dos suspeitos apontando os obstáculos na ação.

Um dos envolvidos conseguiu avisar no grupo a ação da polícia. Em seguida, todos foram excluídos. As investigações comprovaram que o grupo era administrado por Argemiro de dentro da cadeia.

Por esse processo, Argemiro cumpria pena de 17 anos e 6 meses.

Além dele, Laurêncio Francisco da Silva, conhecido como Véi Lourenço, também estava preso e integrava a quadrilha. Ele ainda não tinha sido condenado quando morreu.

Os dois foram apontados na investigação como tendo forte ligação a uma facção do Rio de Janeiro, mas sem detalhes sobre qual.

Fuga de presídio

Nessa sexta-feira (3/1), Argemiro serrou as grades do banheiro da cela para fugir da cadeia. Apesar de ser de alta periculosidade, ele estava em um bloco com presos do semiaberto que não tem o controle tão rígido quanto em outros locais.

Por conta da idade, Argemiro se encontrava na ala de idosos, do Centro de Internamento e Reeducação (CIR), quando escapou.

De acordo com a Secretaria de Administração Penitenciária do DF (Seape/DF), a fuga foi constatada por volta das 7 horas desta sexta, em conferência de rotina feita pelos policiais penais.

“Prontamente, a equipe efetuou buscas no perímetro e realizou ocorrência policial, solicitando a perícia da Polícia Civil (PCDF) no local”, informou a Seape em nota.

De acordo com a nota, equipes de recaptura da Polícia Penal estão realizando diligências em todo o Distrito Federal.

Qualquer informação sobre o paradeiro de foragidos do sistema penitenciário deve ser repassada à Polícia Penal do DF pelo telefone (61) 99666-6000, à PMDF pelo 190 e à PCDF no 197. A denúncia é feita de forma anônima.

Veja a lista do que foi apreendido com os criminosos 

  • 1 marreta grande;
  • 1 extensão de energia;
  • 1 mochila contendo um aparelho bloqueador de sinal de aparelhos celulares com dezesseis antenas;
  • 2 esmeriladeiras;
  • 89 discos de corte;
  • 5 discos de corte para cerâmica;
  • 1 maleta contendo um aparelho martelete perfurador/rompedor SH60101;
  • 1 furadeira, com 10 brocas
  • 1 carregador de bateria;
  • 1 fonte de energia;
  • 1 talhadeira de cor verde;
  • 1 ferro de solda, Fox Lux;
  • 1 uma parafusadeira, com um cabo de energia acoplado;
  • 1 cabo de energia vermelho;
  • 1 uma mochila preta contendo um transformador de energia
  • 8 celulares;
  • 1 pistola marca Taurus, calibre .40, com 6 munições intactas;
  • 1 pistola marca Glock calibre 9mm, com 8 munições intactas;
  • 1 fuzil com luneta, calibre 7 mm, sem marca e numeração aparente;
  • 1 bolsa de viagem;
  • 2 pés de cabra;
  • 1 barra de aço ligada a um cabo de energia;
  • 1 barra de aço curva;
  • 1 mochila contendo 3 chaves de fenda, 3 luvas de borracha, 1 chave-inglesa, 1 alicate, 1 alicate de corte, 1 marreta, 2 pontas de pé de cabra;
  • 1 cilindro de oxigênio, com aferidor de pressão e duas mangueiras acopladas;
  • 4 mangueiras de cobre para solda;
  • 2 carros.

 

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