Mortes e sequelas: 2024 deixa alerta sobre plásticas e procedimentos

O mercado da estética e das cirurgias plásticas vive um momento de aquecimento e aumento da demanda no Brasil. Ao mesmo tempo, casos de mortes e vítimas de intercorrências em procedimentos diversos têm se tornado frequentes, servindo de alerta sobre quais cuidados tomar ao decidir se submeter a algo do tipo. Exemplos trágicos não faltaram em 2024.

O ano começou com a notícia da morte da cantora Danielle Fonseca Machado, conhecida como Dani Li. Ela faleceu no dia 24 de janeiro deste ano, aos 42 anos, por complicações após uma cirurgia estética. Ela estava internada havia seis dias em Curitiba (PR), mesma cidade onde realizou o procedimento.

A confirmação da morte da cantora foi o primeiro caso de uma série de ocorrências semelhantes no país, em 2024. Meses depois, no dia 7 de maio, a notícia trágica veio de Goiás. A empresária Fábia Portilho, de 52 anos, morreu após passar por uma mamoplastia e uma lipoaspiração em Goiânia (GO). Ela teve tromboembolismo pulmonar gorduroso e choque obstrutivo.

A morte ocorreu quatro dias após as cirurgias e quando Fábia já havia recebido alta médica. A família denunciou o caso à polícia. Conforme o relatado, ela começou a sentir fortes dores abdominais e chegou a “gritar de dor”. Familiares pediram, no hospital, que fosse feita uma tomografia, mas os médicos disseram que ela estava só com anemia e precisava apenas de bolsas de sangue. A empresária morreu na UTI.

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Dani Li teve complicações após uma cirurgia estética

Dani Li era conhecida como a Musa da Amazônia
A mulher morreu após cirurgias plásticas, em Goiânia
Era proprietária de um hotel em Goianésia (GO)
Segundo prima, Fábia era apaixonada por motocicletas
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Dani Li morreu aos 35 anos

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Dani Li teve complicações após uma cirurgia estética

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Dani Li era conhecida como a Musa da Amazônia

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A mulher morreu após cirurgias plásticas, em Goiânia

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Era proprietária de um hotel em Goianésia (GO)

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Segundo prima, Fábia era apaixonada por motocicletas

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Henrique da Silva Chagas, que morreu após ser submetido ao procedimento peeling de fenol

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Morte em peeling de fenol

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Aline Maria Ferreira, influencer morta do DF após aplicação de PMMA, posa de roupa de praia

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Modelo e influencer que morreu após aplicação de PMMA

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Em meio ao luto, família acompanha desenrolar das investigações policiais sobre o caso e critica conduta da falsa profissional

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Família de Aline detalhou que ela teve uma infecção generalizada após aplicação de polimetilmetacrilato (PMMA)

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Brasiliense morreu na última terça-feira (2/7), após procedimento estético para aumentar os glúteos

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Parentes e amigos durante velório da influenciadora digital Aline Maria Ferreira

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Peeling de fenol e PMMA

O ano prosseguiu e mais dois casos trágicos, em um intervalo de um mês, repercutiram no país. Em 3 de junho, o empresário Henrique da Silva Chagas, de 27 anos, morreu na clínica da esteticista e influencer Natália Becker, em São Paulo, quando era submetido ao que ficou conhecido como peeling de fenol.

Cerca de uma hora após o início do procedimento, ele começou a passar mal e a morte foi confirmada no local, com a chegada dos paramédicos. O fenol é uma substância corrosiva que vinha sendo utilizada em tratamentos dermatológicos para, supostamente, restaurar e rejuvenescer a pele.

O caso levou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a proibir o uso para fins estéticos.

No mês seguinte, em 2 de julho, a modelo e influenciadora digital Aline Maria Ferreira, de 33 anos, morreu após passar por um procedimento na clínica Ame-se, em Goiânia. A jovem teve infecção generalizada após aplicação de polimetilmetacrilato (PMMA) nos glúteos. O gel preenchedor é conhecido no mercado da estética pelo custo baixo e pelos riscos associados, com reações diversas.

O procedimento foi feito por Grazielly Barbosa, que se dizia biomédica, mas a investigação policial constatou que ela não possuía formação na área. Ao todo, foram aplicados 30 ml de PMMA em cada glúteo da influenciadora. A investigada chegou a negar a aplicação do produto, alegando que, na verdade, era um bioestimulador. Ela acabou presa por exercício ilegal da medicina.

Exercício ilegal da medicina

O vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), o médico Marcelo Sampaio, avalia que a demanda por cirurgias plásticas e procedimentos “ditos cosméticos” tem aumentado a cada ano no Brasil. Além de refletir uma questão comportamental, essa procura crescente, muitas vezes, ignora riscos e cuidados necessários que precisam ser tomados.

Um deles envolve a formação e o preparo adequado do médico ou profissional contratado. Em determinados casos que resultaram em morte e prisão no Brasil, como o da influenciadora Aline Maria Ferreira, foi constatado o exercício ilegal da medicina e até a situação irregular de clínicas ou o uso de substâncias não autorizadas pela Anvisa.

Levantamento feito pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e divulgado este ano revelou que, nos últimos 12 anos, houve uma média de pelo menos dois casos diários de exercício ilegal da medicina, no Brasil, registrados pela Justiça ou por inquéritos das polícias civis dos estados.

Formações distintas

Do ponto de vista da formação e do estudo, Marcelo Sampaio aponta que o quadro, na área da estética, é “muito díspar”. Ao mesmo tempo em que existem profissionais que estudaram até 12 anos para atuar na cirurgia plástica, sendo seis anos de faculdade, três de residência em cirurgia geral e três de residência em cirurgia plástica, existem aqueles que buscaram a qualificação por meio de “atalhos”.

“São cursos de finais de semana, cursos de pós-graduação… Isso faz com que as formações sejam muito distintas. Evidentemente, existem profissionais mal formados. Só que, quando cai no âmbito da cirurgia plástica e do procedimento cosmético, a população acha que todo mundo está no mesmo balaio, e as mídias sociais contribuem para essa confusão na hora de selecionar um determinado profissional. As pessoas, hoje, buscam no Instagram ou em sites na internet”, expõe o médico.

imagem colorida de marcelo sampaio, vice-presidente da sociedade brasileira de cirurgia plástica
Médico Marcelo Sampaio, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP)

“Qualquer procedimento envolve riscos”

Um outro ponto que precisa ser levado em consideração, segundo Marcelo Sampaio, é o fato de que “qualquer procedimento médico e qualquer intervenção cirúrgica envolve riscos”. O aumento da procura e até certa banalização dos procedimentos, nos últimos anos, contribuíram para o fortalecimento da visão de que não há riscos associados. Na prática, é um pouco diferente.

“É importante salientar que, no imaginário comum, as pessoas entendem que um procedimento estético e mesmo uma cirurgia plástica é isenta de risco. A pessoa até imagina que, por ser cosmético ou um pouco mais simples, não há risco. Qualquer procedimento, no entanto, envolve riscos”, diz ele.

O “ponto de estresse”, na visão do médico, é a correta indicação cirúrgica, e isso acontece na consulta feita de forma adequada, na avaliação clínica do paciente e na realização de exames. “Cabe ao profissional, na indicação da cirurgia, determinar o mínimo risco possível”, aponta ele. Tudo isso faz parte de parâmetros e padrões de segurança, estabelecidos pelos protocolos de medicina e ciência.

Empresária morreu após seis cirurgias plásticas

Em setembro deste ano, por exemplo, a empresária Viviane Lira Monte, de 24 anos, morreu na cidade de Sobral (CE), após passar por seis cirurigas plásticas simultâneas. Ela teve complicações, passou mal em casa e foi internada, fincando mais de 20 dias na UTI. A família denunciou o médico por negligência.

Segundo o marido da empresária, ela pretendia fazer apenas dois procedimentos – redução da mama e lipoaspiração na barriga -, mas voltou para casa da consulta convencida a fazer mais coisas, pois o médico teria feito “um preço melhor e garantiu que tudo daria certo”, declarou ele à época.

“O profissional qualificado e referenciado é fundamental. Antes das mídias sociais, em 1997, anos 2000, até 2005, o paciente chegava ao cirurgião plástico, porque, normalmente, tinha um familiar ou amigo que já havia feito com ele ou por indicação de outro profissional médico, um ginecologista etc. Com as mídias sociais, o paciente vai lá, digita o nome do profissional ou o nome do procedimento que deseja fazer e busca na internet, onde todo mundo só mostra o lado positivo, o que deu certo ou ficou perfeito”, aponta Marcelo.

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Informe da morte e velório da empresária Viviane Lira Monte, em Sobral (CE)

Paloma Lopes Alves, de 31 anos, morreu após fazer uma hidrolipo
Ela contratou a cirurgia pelas redes sociais
Paloma Lopes Alves tinha 31 anos
Danielle Mendes teve choque anafilático, seguido de parada cardiorrespiratória, após passar por aplicação de substância no rosto
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Viviane Lira Monte, empresária que morreu após cirurgias plásticas no Ceará

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Informe da morte e velório da empresária Viviane Lira Monte, em Sobral (CE)

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Paloma Lopes Alves, de 31 anos, morreu após fazer uma hidrolipo

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Ela contratou a cirurgia pelas redes sociais

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Paloma Lopes Alves tinha 31 anos

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Danielle Mendes teve choque anafilático, seguido de parada cardiorrespiratória, após passar por aplicação de substância no rosto

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Segundo a PCGO, clínica tinha diversas irregularidades

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Dona da clínica foi presa em flagrante

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Duas mortes em cinco dias

Os últimos dois casos do ano ocorrem em um intervalo de cinco dias. Paloma Lopes Alves, de 31 anos, sofreu uma parada cardiorrespiratória na Clínica Maná Day, em São Paulo, no dia 26 de novembro, após fazer uma hidrolipo. O local foi autuado e interditado por exercício irregular da atividade. De acordo com a investigação, a vítima contratou o médico Josias Caetano pelas redes sociais.

Em 1º de dezembro, a servidora pública Danielle Mendes, de 44 anos, morreu em Goiânia após passar por um procedimento estético numa clínica, com aplicação de hialuronidase, que é um tipo de enzima produzida de forma manipulada para corrigir preenchimentos com ácido hialurônico. Ela sofreu choque anafilático e teve uma parada cardiorrespiratória no local.

O produto foi aplicado no rosto de Danielle. A Polícia Civil instaurou inquérito para apurar o caso e descobriu que a substânica não é autorizada pela Anvisa. A clínica apresentava diversas irregularidades e a dona foi presa em flagrante por vender serviços e mercadorias impróprios ao consumo, executar serviço de alta periculosidade sem autorização legal e exercício ilegal da medicina.

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