Como foram os últimos momentos do prisioneiro executado com nitrogênio nos EUA, segundo pastor


Segundo o pastor Jeff Hood, conselheiro espiritual do condenado, Kenneth Eugene Smith se contorceu na maca e sofreu durante execução ocorrida na noite de quinta-feira (25), no Alabama. ONU também repudiou o procedimento com base na possibilidade do prisioneiro ter sofrido. Alabama executa condenado à morte com gás nitrogênio
Conselheiro espiritual de Kenneth Eugene Smith, o prisioneiro executado por asfixia com nitrogênio nos Estados Unidos, disse que Smith aparentava estar em sofrimento durante a execução. Condenado por assassinar uma mulher em 1988, ele foi o primeiro prisineiro a ser executado por asfixia com nitrogênio, no Alabama, nos Estados Unidos, na noite de quinta-feira (25).
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A fala de Jeff Hood, que é pastor evangélico e acompanhou Smith durante a execução, contradiz a afirmação do governo do Alabama, que afirmou que o condenado perderia a consciência em segundos.
Para a execução, uma máscara foi colocara no rosto de Smith, fazendo com que ele inalasse gás nitrogênio puro, o que resultou em uma morte por falta de oxigênio.
“O que vimos foram minutos de alguém lutando pela vida, contorcendo-se para frente e para trás. Vimos saliva. Vimos a máscara amarrada à parte de trás da maca o mais apertado possível, e ele balançando a cabeça para frente repetidamente. E também vimos agentes penitenciários na sala que estavam visivelmente surpresos com o quão mal a execução ocorreu”, disse Smith em coletiva.
Além de criticar a execução, Hood contou que Smith tentou acalmar o pastor quando percebeu nervosismo por parte de seu guia espiritual.
“Quando entrei e o vi, mesmo quando já estava amarrado a todo esse aparato, ele ainda me dizia: ‘Está tudo sob controle, Jeff. Está tudo sob controle.’ Isso vindo de alguém prestes a ser executado. Ele viu que eu estava sofrendo com a cena e continuava dizendo: ‘Está tudo sob controle'”, relatou o conselheiro espiritual.
Há um contraste entre o tempo esperado para a duração da execução de Smith e o quanto realmente durou. O escritório do procurador-geral do Alabama disse à Justiça que o gás nitrogênio “causará inconsciência em questão de segundos e causará a morte em questão de minutos”.
Entretanto, os cinco jornalistas que acompanharam o procedimento afirmaram que o prisioneiro pareceu consciente por vários minutos, começando a tremer na sequência.
A porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Ravina Shamdasani, condenou nesta sexta-feira (26) a execução de Smith e lamentou a possibilidade dele ter sofrido durante o procedimento.
“Lamentamos profundamente a execução de Kenneth Eugene Smith no Alabama, apesar de sérias preocupações de que esse método inovador e não testado de asfixia por gás nitrogênio possa configurar tortura, tratamento cruel, desumano ou degradante. Há relatos de que a execução pode ter levado até 25 minutos, (a duração) não está clara exatamente. E ele estava se contorcendo e claramente sofrendo”, disse Ravina em coletiva.
Segundo Ravina, a preocupação do órgão de Direitos Humanos da ONU é que a asfixia por nitrogênio seja adotado como um método aceito de execução de pessoas.
“Já vimos alguns outros estados dos EUA que aprovaram o uso do nitrogênio, e pedimos que não o utilizem para executar pessoas e trabalhem em direção a uma moratória. Em vez de buscar métodos novos e não testados para executar pessoas, vamos simplesmente pôr fim à pena de morte”, finalizou.
A execução
A execução começou às 19h53, pelo horário local (22h53, em Brasília). Além dos jornalistas, parentes do prisioneiro acompanharam o procedimento através de um vidro.
Antes do início da execução, Smith fez uma declaração final afirmando que a humanidade estava dando um passo para trás, em referência ao método usado para a morte.
Ele também mandou um recado para os parentes: “Vou embora com amor, paz e luz”, disse ele, segundo uma das testemunhas. “Amo todos vocês.”
Smith foi declarado morto às 20h25 (23h25, em Brasília).
Estado do Alabama, nos EUA, deve executar homem com método considerado cruel
Morte
As testemunhas disseram ainda que Smith se contorceu na maca em que estava por cerca de dois minutos. Depois, ele começou a respirar fundo, até que começou a desacelerar.
“Parecia que Smith estava prendendo a respiração o máximo que pôde”, disse o comissário penitenciário do Alabama, John Hamm.
Antes da execução, autoridades do Alabama disseram em documentos judiciais que esperavam que Smith ficasse inconsciente em menos de um minuto e morreria pouco depois.
No entanto, Hamm afirmou que Smith tentou lutar e enfrentou uma “respiração agoniante”. Segundo o comissário, tudo o que aconteceu estava dentro do esperado.
Método polêmico
O caso de Smith ganhou repercussão pelo ineditismo do uso de nitrogênio para a pena de morte e foi alvo de questionamentos por órgãos que defendem os direitos humanos.
Muito do que está registrado em revistas médicas sobre a morte por exposição ao nitrogênio vem de acidentes industriais — onde vazamentos ou confusões com nitrogênio mataram trabalhadores — e tentativas de suicídio.
O método de execução por hipóxia desse gás seria aceitável sob certas condições para porcos, e mesmo assim poderia ser um método cruel.
Os advogados de Smith tentaram reverter a execução até o último momento. No entanto, a Suprema Corte dos Estados Unidos negou os recursos e determinou que a operação prosseguisse.
O caso
Comissário do Alabama John Hamm cumprimenta Mike Sennett, filho da mulher assassinada por Kenneth Smith
REUTERS/Micah Green
Smith foi condenado à morte pelo assassinato de Elizabeth Sennett. O crime aconteceu em 1988 e foi encomendado pelo marido da vítima, que era um pastor.
Segundo os promotores, Smith e um outro homem receberam US$ 1 mil cada pelo serviço. O pastor mandante do crime acabou se suicidando.
Em novembro de 2022, Smith foi submetido à execução com injeção letal, mas os funcionários responsáveis pela operação tiveram dificuldades para encontrar uma veia e falharam.
Após a execução do prisioneiro nesta quinta-feira, Mike Sennett, filho de Elizabeth Sennett, afirmou que a justiça havia sido feita.
“Nada do que aconteceu aqui hoje vai trazer minha mãe de volta. É um dia meio agridoce. Não vamos ficar pulando e comemorando, porque não somos assim. Mas estamos felizes que esse dia acabou”, disse.
Kenneth Smith, homem condenado à pena capital no estado do Alabama, nos EUA
Reuters
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