‘Vi como meu bebê começou a congelar’ pelo frio, diz mãe de recém-nascido que morreu em Gaza

O recém-nascido Ali al Batran, cujo irmão gêmeo morreu de hipotermia em um hospital em Deir al Balah, centro da Faixa de Gaza, em 29 de dezembro de 2024Eyad BABA

Eyad Baba

Yahya al Batran agarra-se às roupas minúsculas do seu filho, Jumaa, poucos dias depois de o recém-nascido ter morrido de frio em uma barraca na Faixa de Gaza devastada pela guerra.

“Estamos vendo nossos filhos morrerem”, lamenta o homem de 44 anos.

Seu bebê foi uma das sete crianças que morreram de frio no pequeno território palestino em apenas uma semana, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, governado pelo movimento islamista Hamas.

“Fugimos dos bombardeios de Beit Lahia para que ele morresse de frio aqui?”, pergunta Noura al Batran, a mãe do bebê, de luto, referindo-se à sua cidade natal, no norte da Faixa, de onde a família fugiu devido aos incessantes bombardeios israelenses.

A mulher, de 38 anos, ainda está se recuperando do parto prematuro de Jumaa e do seu irmão gêmeo, Ali, que atualmente recebe tratamento em uma unidade de cuidados intensivos em um hospital no sul de Gaza.

A família Batran, deslocada várias vezes pela guerra entre Israel e o Hamas, sobrevive atualmente sob uma barraca improvisada em Deir el Balah, feita de cobertores e tecidos gastos.

Assim como centenas de outras pessoas deslocadas que agora moram em acampamentos, eles lutaram para se manter aquecidos e secos em meio a fortes chuvas e temperaturas que caíram para 8 ºC.

“Não temos cobertores suficientes ou roupas adequadas. Vi como meu bebê começou a congelar, sua pele ficou azul e então ele morreu”, lembra Noura al Batran.

Os gêmeos nasceram prematuros e, segundo ela, o médico decidiu retirar os bebês da incubadora mesmo que a família não tivesse acesso à calefação.

Em um tapete encharcado de chuva, o pai abraçou firmemente os filhos mais velhos com cobertores e panos em um canto da barraca.

– “Tudo leva à morte” –

Assim como milhares de outras famílias, os pais do bebê falecido sobrevivem em meio a uma grave escassez de alimentos, combustível e medicamentos. As Nações Unidas já alertaram para o colapso iminente do sistema de saúde em Gaza.

Em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, Mahmoud al Fasih também diz que encontrou a sua filha, Seela, “congelada pelo frio” na sua pequena barraca perto da praia de al Mawasi.

O homem, deslocado da Cidade de Gaza, levou-a rapidamente para o hospital local, mas sua filha já estava morta.

Ahmad Al Farra, médico e diretor do serviço de emergência e pediatria do Hospital Nasser, disse à AFP que o bebê de três semanas chegou ao hospital com “hipotermia grave, sem sinais vitais e com parada cardíaca que causou sua morte”.

Outro bebê de 20 dias, Aisha al Qassas, também morreu de frio na região, segundo sua família.

“Em Gaza, tudo leva à morte”, diz o tio do bebê, Mohamed al Qassas. “Aqueles que não morrem sob o bombardeio israelense sucumbem de fome ou de frio”, lamenta.

A assessoria de imprensa do governo do Hamas em Gaza emitiu um alerta na segunda-feira sobre as condições climáticas esperadas para os próximos dias. Representam uma “ameaça real para dois milhões de pessoas deslocadas”, a maioria das quais vive em barracas de campanha, sublinhou.

“A vida nas barracas é perigosa devido ao frio e à escassez de fontes de energia e calefação”, explicou Al Farra.

Este médico teme que o mau tempo provoque “a morte de um maior número de crianças, bebês e idosos”.

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