
As últimas decisões do Federal Reserve (Fed) e do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil indicam que os dois bancos centrais seguem monitorando os riscos econômicos com prudência. Nos Estados Unidos, o Fed manteve a taxa de juros entre 4,25% e 4,50%, enquanto no Brasil, o Copom elevou a Selic para 14,25%, com possibilidade de novo ajuste.
Especialistas avaliam que, apesar das direções distintas, as decisões refletem preocupações comuns, como a incerteza global, a trajetória da inflação e os impactos da política monetária sobre o crescimento econômico.
Fed mantém juros e alerta para cenário de incerteza
O Fed optou por não alterar a taxa de juros, mantendo a projeção de dois cortes de 25 pontos-base em 2025. Entretanto, houve revisões para baixo no crescimento econômico e um leve aumento na projeção de inflação do núcleo para o próximo ano.
Segundo Andressa Durão, economista do ASA, a decisão foi interpretada como dovish pelo mercado, uma vez que o Fed retirou do comunicado a menção ao equilíbrio entre riscos de inflação e emprego, destacando maior incerteza sobre o cenário econômico.
“Em um cenário sem recessão, esperamos que as tarifas impactem a inflação de maneira que o Fed não consiga realizar os cortes de juros esperados para este ano”, afirma Durão.
Apesar de a mediana das projeções indicar estabilidade na trajetória de cortes, a distribuição do gráfico de pontos (Dots) mostra que mais membros do comitê passaram a considerar a necessidade de manter os juros elevados no curto prazo.
Copom mantém aperto monetário, mas sinaliza preocupação com crescimento
No Brasil, o Copom elevou a Selic para 14,25%, seguindo a expectativa do mercado. O comunicado trouxe poucas mudanças em relação à reunião anterior, mas indicou que o Banco Central já observa sinais iniciais de desaceleração econômica.
Para Leonardo Costa, economista do ASA, o tom do Copom foi ligeiramente mais dovish do que na última reunião, pois há um reconhecimento de que a atividade econômica pode estar perdendo força.
“O comunicado trouxe sinais incipientes de preocupação com a atividade doméstica, o que pode indicar uma desaceleração no ritmo de alta dos juros”, explica Costa.
A projeção de inflação do Banco Central para o horizonte relevante foi reduzida para 3,9% no terceiro trimestre de 2026, ante 4,0% da última reunião. O comitê segue atento a riscos inflacionários, como a inflação de serviços e a desancoragem das expectativas, mas também considera fatores que podem reduzir pressões sobre os preços, como uma possível desaceleração mais forte da economia global.
Com esse cenário, Costa avalia que o Copom pode encerrar o ciclo de alta da Selic em 14,75%, abaixo da projeção anterior de 15,25%.
Bancos centrais reforçam postura cautelosa
As decisões do Fed e do Copom mostram que, embora em momentos distintos do ciclo monetário, os dois bancos centrais seguem cautelosos frente aos desafios econômicos. Nos EUA, a expectativa de cortes de juros permanece, mas a trajetória pode ser mais incerta do que o mercado esperava. No Brasil, a política monetária segue restritiva, mas há um reconhecimento crescente dos impactos sobre a atividade econômica.
O mercado seguirá atento às próximas reuniões para avaliar se novas mudanças serão feitas nas projeções de juros ao longo de 2025.
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