Lua pode ser mais antiga do que se pensava, dizem astrônomos

A Lua fotografada em fase crescente em 2 de setembro de 2019 em Tours, na FrançaGuillaume Souvant

GUILLAUME SOUVANT

A Lua é mais antiga do que se pensava, segundo um estudo de astrônomos que utiliza a mecânica celeste para confirmar que o satélite da Terra nasceu pouco depois da formação do Sistema Solar.

Quase ninguém contesta mais as circunstâncias de seu nascimento: a colisão da Terra, então recém-formada, com outro protoplaneta, um impacto que lançou ao espaço fragmentos que se aglomeraram para formar a Lua.

No entanto, sua idade continua sendo objeto de debate. Normalmente, ela é estimada com base nas rochas que se cristalizaram quando o oceano de magma original se resfriou e formou a crosta lunar. Essas rochas foram datadas em 4,35 bilhões de anos.

A Lua “pareceria ter se formado muito tarde, 200 milhões de anos após o início do Sistema Solar”, há 4,56 bilhões de anos, observa Alessandro Morbidelli, professor do Collège de France e coautor do estudo publicado na revista Nature.

“Tarde demais”, contesta este especialista em formação e evolução de sistemas planetários.

Esse atraso é problemático por duas razões: primeiro, não se encaixa bem nos modelos de formação planetária; segundo, contradiz a presença de cristais de zircão – os mais resistentes – datados em mais de 4,5 bilhões de anos.

Uma discussão sobre o tema no ano passado entre outros dois autores do estudo, Thorsten Kleine, do Instituto Max Planck, e Francis Nimmo, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, resultou em uma “ideia muito simples”… Ao menos na teoria.

“A Lua passou por uma segunda fusão provocada pela Terra”, explica Morbidelli.

Nesse cenário, a Lua teria se formado cerca de 55 milhões de anos após o início do Sistema Solar, e não 200. Pouco depois, adquiriu sua primeira crosta no transcorrer de alguns milhões de anos.

– Uma fase “um pouco louca” –

Posteriormente, devido à mecânica celeste, a Lua começou a se afastar gradualmente de sua “mãe”, a Terra. Durante esse processo, passou de uma órbita alinhada ao equador terrestre para uma alinhada à órbita da Terra ao redor do Sol.

Nessa transição, atravessou uma fase “um pouco caótica e dinâmica, um pouco louca”, descreve Morbidelli. Esse ajuste orbital gerou forças de maré “enormes” que afetaram o interior da Lua.

Provocadas pela gravidade terrestre, essas forças fizeram com que o manto lunar, situado abaixo da crosta, derretesse parcialmente cerca de 200 milhões de anos após a formação do Sistema Solar, tornando a crosta lunar menos rígida.

A Lua então sofreu erupções vulcânicas que remodelaram parcialmente sua superfície, enquanto algumas áreas afundaram devido ao derretimento.

Esse fenômeno de forças de maré não é incomum. Por exemplo, ainda ocorre em Io, uma das luas de Júpiter, que passa por erupções vulcânicas constantes.

No caso da Lua, as forças de maré foram suficientemente intensas para causar uma “refusão parcial” da crosta, “reiniciando os relógios radioativos” das rochas.

Isso explica, por exemplo, por que as rochas basálticas de diferentes profundidades nessa crosta “refundida” parecem ter a mesma idade quando datadas usando métodos baseados na desintegração atômica de certos elementos.

“Quando as rochas se refundem e recristarizam, só se pode medir a idade da última cristalização”, esclarece Morbidelli.

– Impacto na história lunar –

Segundo os autores do estudo, esse fenômeno também pode explicar certas características físicas da Lua, como um déficit de bacias de impacto de meteoritos em comparação com o previsto pelos modelos. Essas bacias teriam sido preenchidas pelo magma durante a segunda fusão.

Em última análise, a proposta dos pesquisadores parece uma solução engenhosa, semelhante ao famoso “Ovo de Colombo”. Mas Morbidelli enfatiza que chegar a essa conclusão exigiu um pouco de “modelagem dinâmica e térmica”.

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