Real desvaloriza 21,52% em 2024, nível próximo ao da crise da pandemia

Em 2024, o real enfrenta um dos piores desempenhos em relação ao dólar dos últimos 25 anos. Até segunda-feira (17/12), a moeda brasileira acumulava desvalorização de 21,52%, patamar próximo do registrado em 2020, ano da pandemia, quando ela recuou 22,44% (de acordo com o dólar Ptax, calculado pelo Banco Central). “A diferença entre os dois períodos é de 0,92 ponto percentual, refletindo um cenário de pressão cambial persistente e desafios econômicos”, diz Einar Rivero, sócio da consultoria Elos Ayta e autor da estimativa.

Desde o ano 2000, observa Rivero, o desempenho do real frente ao dólar mostra uma trajetória marcada por oscilações intensas e predomínio de quedas. “Nos últimos 25 anos, a moeda brasileira se desvalorizou em 15 oportunidades, com valorizações ocorrendo em apenas 10 anos”, afirma o consultor.

A maior desvalorização anual do período ocorreu em 2002, quando o real recuou 34,33%. O cenário naquele momento refletia a incerteza política durante o processo eleitoral, associado à preocupação do mercado com a possível mudança de governo. Naquele momento, Luiz Inácio Lula da Silva estava prestes a assumir seu primeiro mandato.

Em contrapartida, 2009 marcou o melhor desempenho do real nos últimos 25 anos, com uma valorização de 34,22%, impulsionada pela recuperação global após a crise financeira de 2008 e pelo crescimento robusto do Brasil no período.

Valorização de dois dígitos

A análise da Elos Ayta mostra que uma valorização anual de dois dígitos frente ao dólar ocorreu em apenas cinco oportunidades no período analisado, nos anos:

2003: 22,29%

2005: 13,40%

2007: 20,70%

2009: 34,22%

2016: 19,81%

“Esses anos coincidem, em sua maioria, com períodos de recuperação econômica após crises internas ou externas”, diz Rivero. “Em 2016, por exemplo, a valorização de quase 20% ocorreu após o impeachment presidencial, quando o mercado reagiu positivamente à perspectiva de um ajuste econômico.”

Desvalorização de dois dígitos

Se a valorização de dois dígitos foi rara, o mesmo não ocorre com a desvalorização intensa. Em dez anos, o real recuou mais de 10% frente ao dólar. Os piores anos incluem:

2002: -34,33% (crise eleitoral);

2015: -31,98% (recessão e crise fiscal);

2020: -22,44% (pandemia);

2008: -24,21% (crise global).

Na avaliação do consultor, a desvalorização do real em 2024 reflete uma combinação de fatores. Eles incluem as incertezas em torno da questão fiscal, com a desconfiança do mercado em relação à trajetória das contas públicas. “O pacote fiscal do governo, divulgado no final de 2023, não conseguiu convencer os investidores”, diz o consultor. “Os juros mais altos nos EUA atraiu capitais para os títulos do Tesouro americano, pressionando moedas emergentes como o real.”