Exame aponta que vizinho que ameaçou humorista Eddy Jr. tem deficiência intelectual leve, mas com ‘entendimento preservado’


Em outubro de 2022, Elisabeth Morrone e o filho dela se envolveram em confusão em condomínio de São Paulo. Ministério Público quer que aposentada, que chamou humorista de ‘macaco’, e o filho sejam condenados. Caso ainda corre pela Justiça. Humorista Eddy Jr. (à esq.), o filho da vizinha com faca (meio) e Elisabeth Morrone com garrafa (à dir.)
Reprodução
Um laudo do Instituto de Medicina Social e de Criminologia de São Paulo (Imesc) apontou que o então vizinho que chegou a ir com uma faca até a porta do apartamento do humorista Eddy Jr., em 2022, tem deficiência intelectual leve, mas com capacidade de entendimento e foi considerado “imputável” — ou seja, capaz de responder penalmente por um crime.
Vídeos da época mostraram Elisabeth Morrone, que era vizinha de Eddy, chamando o artista de “macaco”, e ela e o filho armados de garrafa e faca em mãos em frente ao apartamento do artista. O caso foi investigado pela Polícia Civil e encaminhado à Justiça, que pediu os exames complementares sobre a saúde mental do rapaz, que alegava que passava por tratamento psicológico desde 2008 no Caps. Ele já é interditado e fica sob os cuidados da mãe.
Um atestado médico em outra ação na Justiça que a aposentada tinha contra o condomínio apontava que ela tem um misto de ansiedade e depressão e que faz acompanhamento.
No dia 10 deste mês, o Ministério Público analisou o exame do Imesc e se manifestou pela condenação de mãe e filho. O MP pede que:
O rapaz seja, ao fim do processo, condenado duas vezes pelo crime de ameaça;
E a mãe, pelo artigo 11 na lei de 5 de janeiro 1989, que diz sobre crimes de preconceito de raça ou cor, no qual se refere a impedir o acesso “às entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais e elevadores ou escada de acesso aos mesmos”, por ameaça, injúria racial e a pagar indenização.
O que apontou o exame
Elisabeth acompanhou o filho no dia do exame, mas teve que esperar na recepção. Durante o procedimento, o réu disse que tinha um vizinho que fazia barulho frequentemente em seu apartamento “atrapalhando o sono do periciado e de sua mãe”.
Questionado sobre ter ofendido a vítima, ele negou ter falado palavras ofensivas de cunho racial ou feito ameaças.
“É capaz de compreender a natureza reprovável de eventual ameaça realizada, bem como suas possíveis repercussões”, detalha o laudo.
Segundo apurado pela TV Globo, ele disse que faz tratamento ambulatorial no Caps Itaim desde 2008, com consultas com um psiquiatra a cada dois meses. Afirmou também que toma remédio, mas não apresentou nenhuma comprovação, como receituário ou relatório médico.
O médico descreveu no laudo que ele apresentava discurso organizado e colaborativo:
Apresenta quadro psiquiátrico compatível com deficiência intelectual leve;
Capacidades de entendimento e autodeterminação preservadas, ao tempo dos fatos;
Capacidade de entendimento preservada, na atualidade;
Imputável, sob a ótica médico-legal psiquiátrica.
A TV Globo procurou a defesa de mãe e filho, mas não houve retorno até a última atualização desta reportagem.
Relembre o caso
Justiça aceita denúncia contra aposentada e filho que ameaçaram o humorista Eddy Jr
Em outubro do ano passado, Eddy Jr. gravou um vídeo sendo xingado pela vizinha, no prédio em que mora, no bairro da Barra Funda, na Zona Oeste. Na sequência do registro, Elisabeth disparou várias ofensas contra o rapaz, como “imundo”, “cai fora, macaco”, “cai fora, bandido”, “cagão, bundão”.
A aposentada foi proibida pela Justiça de frequentar o mesmo ambiente que Eddy Jr. e foi alvo de uma investigação na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), onde o artista prestou depoimento após os xingamentos que recebeu na entrada do elevador.
Em dezembro, o youtuber publicou nas redes sociais que, ao ver pela primeira vez Elisabeth e o filho dela na rua depois dos ataques racistas, acabou agredindo o rapaz, que tem deficiência intelectual leve. Em nota, na ocasião, a produção de Eddy Jr. afirmou que o artista não iria se manifestar sobre o ocorrido.
Segundo uma manifestação do MP no processo, o filho dela cometeu o crime de ameaça quando foi até o apartamento de Eddy com uma faca, chutou a porta e gritou: “seu arrombado, você vai morrer seu desgraçado, eu vou te matar”. O caso foi registrado por câmeras de segurança.
Na mesma semana, Elisabeth cometeu o crime de ameaça quando foi novamente ao imóvel do vizinho com uma garrafa nas mãos.
Sobre a injúria racial, em 18 de outubro, o artista foi passear com o cachorro e encontrou Elisabeth na garagem. Entre os xingamentos, ela o teria chamado de “macaco” e “ladrão”.
Eddy gravou quando ela disse: “Cai fora, macaco”. Em exame de locução, a perícia concluiu que ela disse os termos.
Eddy e a aposentada saem de casa
Reprodução
Os dois vão ao térreno do prédio
Reprodução
Eddy anda com a cachorra quando a aposentada aparece ao fundo
Reprodução
Eddy começa a filmar a situação
Reprodução
Investigação
Anteriormente, o advogado de Elisabeth Morrone enviou uma nota pelo celular. Disse que a cliente é inocente.
Segundo o advogado, as desavenças com o músico jamais tiveram relação com racismo ou qualquer preconceito.
A defesa da aposentada disse que Eddy costumava fazer barulhos e que já foi multado diversas vezes e que naquela terça-feira, Elisabeth, que é idosa, estava de roupão porque era de madrugada e ela foi acordada.
Segundo a nota, ela reagiu às provocações do músico e que o vídeo publicado em redes sociais foi editado.
Adicionar aos favoritos o Link permanente.