Ex-governador do TO nega plano de fuga internacional e diz que passaporte italiano era para férias


Mauro Carlesse foi detido em cumprimento a ordem de prisão preventiva da 3ª Vara Criminal de Palmas. Ele afirmou que documentos uruguaios encontrados pela polícia eram para ‘comércio’ e negócios. Ex-governador do Tocantins, Mauro Carlesse nega suposto plano de fuga para o exterior
O ex-governador Mauro Carlesse (Agir) negou o plano de fuga internacional durante entrevista à TV Anhanguera. Ele afirmou ter passaporte e cidadania italiana para viagens de férias. Segundo ele, a identidade uruguaia que conseguiu está relacionada a transações comerciais. O político é alvo de diversas investigações e teve a prisão preventiva decretada por suposto risco de fuga ao exterior.
“Por ser um cidadão italiano eu posso ter casa lá. Tinha que ter uma casa lá, tinha não, tenho. Pra quando eu for de férias, por algum motivo, ter onde ficar. O Uruguai é comércio, negócio. Fui várias vezes, vou várias vezes se precisar. É do Mercosul, nós temos muito interesse, inclusive do estado aqui, de levar produto e trazer produto”, disse Carlesse em entrevista à TV Anhanguera.
Entre os inquéritos dos quais o ex-governador é alvo estão as operações Hygea e Éris, que apuram supostos pagamentos de propina no plano de saúde dos servidores públicos e aparelhamento da Polícia Civil. Ele também responde por investigações relacionadas a fraudes e desvios.
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Ex-governador Mauro Carlesse em entrevista à TV Anhanguera
Reprodução/TV Anhanguera
Mauro Carlesse foi preso no domingo (15) pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), em uma fazenda em São Salvador, após decisão da 3ª Vara Criminal de Palmas, autorizada pelo juiz Márcio Soares da Cunha. Ele passou por audiência de custódia e foi transferido para uma carceragem no quartel do Comando Geral da Polícia Militar, em Palmas.
Mauro Carlesse foi governador do Tocantins entre 2018 e 2021, até ser afastado do cargo pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) e renunciar para evitar um processo de impeachment.
Na noite deste domingo (15), o Tribunal de Justiça do Tocantins (TJTO) negou um pedido de habeas corpus para o ex-governador. A defesa informou que ele sempre esteve à disposição da Justiça e assim permanecerá (veja nota abaixo).
Segundo o juiz, foram encontrados diálogos e indícios que comprovam um possível risco de fuga para o exterior de Mauro Carlesse e do sobrinho dele Claudinei Quaresemin, ex-secretário de Parcerias e Investimentos do Tocantins, que também teve a prisão decretada.
“Evidencia-se a necessidade de se resguardar a instrução criminal e a aplicação da lei penal através da prisão cautelar antes que os acusados empreendam fuga para o exterior”, diz a decisão.
Queresemin, inclusive, está preso desde o dia 10 de dezembro em cumprimento a um mandado da Justiça Federal em outra operação, da Polícia Federal.
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Antoniel Cavalcante/Ronda Policial Tocantins
Passaporte e contas no exterior
Para os investigadores, Carlesse e Claudinei Quaresemin estavam prontos para fugir para Itália ou para o Uruguai. A decisão aponta que foram encontrados diálogos apontando que o ex-secretário teria providenciado documento de identidade e autorização para residência fixa no Uruguai para ambos.
Segundo a decisão, no dia 23 de abril de 2024, Quaresemin “remeteu a Mauro Carlesse uma foto da carteira de identidade uruguaia do ex-governador, expedida em 3 de abril de 2024”.
Em 4 de junho de 2024, o ex-secretário remeteu outra mensagem comunicando “que o pedido de residência permanente, formulado pelo ex-governador, havia sido deferido pela República Oriental do Uruguai no dia 24 de maio de 2024”.
Outras conversas mencionadas na decisão mostraram diálogos dos investigados de como enviar dinheiro para o exterior.
“Depois, trava-se diálogo entre Mauro Carlesse e Claudinei Aparecido Quaresemin a respeito das contas e uma forma para mandarem dinheiro para uma conta no exterior, fato que pode constituir novos crimes de lavagem de ativos, tendo Claudinei sugerido que fosse feito pelo “câmbio” (câmbio paralelo, o que, além de lavagem, pode constituir crime de evasão de divisas)”.
Mais um indício apontado é que o ex-secretário teria feito tratativas para alugar uma casa na Itália usando o nome de uma intermediária. A investigação apontou ainda que Carlesse também vinha usando um endereço italiano para supostamente constituir advogados e requerer documentos para família.
“Apurou-se que Mauro Carlesse já está com seu passaporte italiano nas mãos, pronto para deixar o Brasil, tendo declarado residência em Marsciano (Perugia), onde o vilarejo de Pieve Caina está encravado”, diz a decisão.
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Investigações e renúncia
Mauro Carlesse assumiu o Poder Executivo do Tocantins em 2018. Ele era presidente da Assembleia Legislativa e acabou na cadeira de governador porque Marcelo Miranda (MDB) e Cláudia Lelis (PV), então governador e vice, foram cassados por decisão do Tribunal Superior Eleitoral, após condenação por uso de caixa dois na campanha eleitoral de 2014.
Carlesse assumiu o mandato de forma interina e conseguiu se manter no cargo em uma eleição suplementar e depois novamente na eleição geral de 2018.
Ele ficou no cargo até outubro de 2021 quando foi afastado pelo Superior Tribunal de Justiça por suspeita de corrupção. Na época, a Polícia Federal apontou que Carlesse estava envolvido em um esquema de recebimento de propinas e também interferência política na Polícia Civil.
Ele renunciou o cargo antes da votação pelo impeachment na Assembleia Legislativa. Com a renúncia, Wanderlei Barbosa (Republicanos), seu vice, assumiu o cargo.
Neste ano, Carlesse teve seu nome envolvido em investigação sobre crimes de fraudes em licitações na extinta Secretaria de Infraestrutura, Cidades e Habitação do Estado do Tocantins, ocorridas no ano que assumiu o governo. Foram cumpridos mandados de prisão nos endereços do político e houve inclusive a apreensão de um veículo de luxo.
Íntegra da nota da defesa de Mauro Carlesse
O ex-governador Mauro Carlesse informa à população tocantinense que recebeu a notícia da prisão com indignação, pois não é condenado em nenhum processo e nem possui qualquer proibição de ir e vir, estando em pleno gozo de todos os seus direitos fundamentais, principalmente o de ir e vir.
Quando requisitado, sempre responde à Justiça com advogado constituído e colabora com as informações solicitadas.
Mauro Carlesse sempre esteve à disposição da Justiça e assim permanecerá. A defesa irá apresentar o pedido de revogação da prisão.
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