Apoio de público a Luigi Mangione levanta debate nos EUA sobre ressentimento contra planos de saúde e violência

Jovem é suspeito de ter assassinado CEO de um dos maiores planos de saúde do mundo no começo de dezembro. Quem é Luigi Manglioni? O assassino de Brian Thompson, CEO de uma empresa da área da Saúde
A polícia americana prendeu na última segunda-feira (9) Luigi Mangione, o homem suspeito de ter matado a tiros, em Nova York, o presidente de uma das maiores empresas de saúde do mundo.
A morte do executivo levantou um grande debate nos Estados Unidos, porque, em vez de solidariedade à vítima, quem está recebendo o apoio da opinião pública é o suspeito.
O jovem virou celebridade nas redes sociais, nos programas de televisão e até em festas.
O caso de Mangione trouxe à tona um grande debate na sociedade americana sobre o ressentimento contra empresas de saúde e sobre violência.
A deputada federal americana Alexandra Ocasio Cortez foi às redes sociais comentar o crime.
“Eu não quero dizer que um ato de violência seja justificado, mas acho que qualquer pessoa que esteja confusa, chocada ou horrorizada precisa entender que as pessoas vivenciam seus pedidos negados por seguros de saúde como um ato de violência contra elas”, afirmou a democrata.
Tudo começou com uma morte à queima roupa, em frente a um hotel de luxo em Nova York. O assassinato foi no dia 4, pouco antes das 7 horas da manhã, em uma das regiões mais ricas da cidade.
O CEO Brian Thompson, de 50 anos, estava sozinho, a caminho de um hotel onde falaria em uma conferência para os acionistas da United Healthcare, maior seguradora de saúde do país e quarta maior empresa americana.
Um dos primeiros sinais de que tinha sido detalhadamente planejado surgiu quando os policiais encontraram as cápsulas das armas usadas. Elas tinham palavras escritas: defender, negar e derrubar.
Depois de realizar os disparos, o assassino saiu correndo e atravessou a rua. No quarteirão seguinte, ele virou à direita e chegou a uma das avenidas mais movimentadas de Manhattan, a sexta avenida, onde pegou uma bicicleta elétrica.
As câmeras de segurança da cidade registraram o assassino na bicicleta, mas ele entrou no Central Park e sumiu. Horas depois, os policiais encontraram a mochila dele.
A polícia de Nova York divulgou essas imagens com o rosto do homem, de quando ele se hospedou com uma identidade falsa num albergue da cidade, e recebeu centenas de denúncias.
Uma delas, da polícia de São Francisco, que informou ao FBI que tinha um boletim de ocorrência da família do suspeito por desaparecimento desde julho.
Na última segunda-feira, cinco dias depois do crime, Mangione foi identificado numa lanchonete de beira de estrada em uma cidadezinha da Pensilvânia.
A polícia encontrou com ele a arma do crime, um silenciador e um texto de três páginas escrito a mão, onde criticava severamente a ganância das seguradoras de saúde, principalmente a United Healthcare, e admitia que tinha feito tudo sozinho.
Na primeira audiência, Mangione voltou a defender seu ato:
“Isso é completamente injusto e é um insulto à inteligência do povo americano e ao que ele passa nas mãos dessas empresas.”
Apesar de seu crime, ele conquistou o apoio de muitos americanos.
Amigos e parentes ficaram perplexos com a transformação de um jovem que parecia destinado a uma vida próspera. Luigi Mangione cresceu em Baltimore, no estado de Maryland.
Ele era bastante popular, chegou a ser orador da turma dele. Depois, cursou engenharia em uma das universidades mais conceituadas do país, na Pensilvânia.
O advogado criminal Thomas Marronick trabalhou durante 20 anos na estação de rádio da família Mangione. Ele explicou ao “Fantástico” que lá eles são uma espécie de realeza.
“Eles tem uma rádio, uma casa de repouso de muito prestígio. Eles têm o nome no centro aquático da Universidade de Maryland”, diz Marronick.
“Então, no começo, eu não acreditei. Pensei que não podia ser a mesma família Mangione. Não combina. Não suspeitaria nunca”, completa.
Antes de se isolar da família, Luigi Mangione era muito ativo nas redes sociais. Inclusive, postou um raio-X da coluna, onde aparecem 4 pinos na região lombar.
Em outras redes, ele aparece sorrindo em algumas viagens. Uma dessas foi para o Havaí, onde chegou a morar um tempo entre 2022 e 2023.
As palavras escritas nas cápsulas das balas usadas no crime, defender, negar e derrubar, lembram o título de um livro lançado em 2010: “Atrasar, negar, defender: por que as seguradoras não pagam sinistros e o que você pode fazer a respeito”.
O autor, o professor de direito Jay M. Feinman, argumenta que a indústria prioriza os lucros em restrição às necessidades dos assegurados, muitas vezes usando táticas como atrasar ou negar reivindicações legítimas para reforçar o desempenho financeiro.
E talvez esteja aí um possível motivo para que Luigi Mangione tenha escolhido Brian Thompson como alvo.
Thompson trabalhava na United Healthcare havia 20 anos. Desde 2021, dirigia a divisão de seguros.
O CEO do grupo a que pertence a seguradora, Andrew Witty, descreveu a vítima ao jornal “New York Times” como alguém profundamente empenhado em melhorar o sistema de saúde americano.
Em um vídeo corporativo feito para os investidores, Brian explica que em 2023 o lucro da empresa que dirigia aumentou de US$ 12 bilhões para US$ 16,5 bilhões.
A gigante americana já operou no Brasil. Em 2012, comprou a Amil por mais de R$ 6 bilhões. Onze anos depois, vendeu o grupo por R$ 11 bilhões para um empresário brasileiro.
Nos EUA, a United Healthcare é campeã em número de negativas para tratamentos e cirurgias entre seus segurados.
Um problema que voltou às paginas dos jornais e aos debates na televisão americana na última semana e que os conterrâneos de Mangione, em Baltimore, conhecem muito bem.
Melanie Dixon conta que teve um problema grave de saúde em 2024. Ela tem uma empresa de tecnologia e é cliente de um plano de saúde caro. Mesmo assim, foi internada quatro vezes no hospital antes de ter a cirurgia aprovada.
Na recuperação, cada médico que entrava no quarto dela se tornava um custo extra. “Até agora eu recebo cobranças. US$ 200 aqui, US$ 200 ali.”
Os americanos reclamam que falta transparência, mas, nas ruas, muitos concordam: a violência nunca é a resposta justa.
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