‘Choque de juros’ do Copom antecipa gestão Galípolo à frente do BC

A avaliação de gestores do mercado é que a decisão do Banco Central de dar um “choque de juros” já foi praticamente a primeira de Gabriel Galípolo e não a última de Roberto Campos Neto no comando do Comitê de Política Monetária.
O BC não só elevou a taxa Selic em um ponto percentual, como sinalizou que mais duas altas da mesma magnitude podem ser feitas se o atual cenário não se modificar, pressionando ainda mais a inflação.
Na avaliação de interlocutores do governo Lula, o comunicado do Copom mostrou que Roberto Campos Neto foi generoso ao praticamente passar o bastão para Gabriel Galípolo, quando o comunicado já definiu os próximos passos da autoridade monetária.
“Não faria sentido quem está saindo deixar o próximo amarrado”, comentou um interlocutor do governo.
Um outro interlocutor destacou que Roberto Campos Neto votou pela alta de um ponto percentual e deixou claro, nas últimas colocações, que o BC teria de aumentar ainda mais a dose do aumento de juros num cenário de dúvidas sobre a aprovação do ajuste fiscal proposto pelo governo.
O mercado vinha apostando numa alta de 0,75 ponto percentual, mas nos últimos dias começou a migrar para um ponto percentual diante das dificuldades do governo em aprovar o seu pacote fiscal, que o mercado não considera suficiente para zerar o déficit primário no ano que vem.
Esse interlocutor afirmou ainda que, agora, o presidente Lula e o PT não poderão culpar Roberto Campos Neto pelo aumento de um ponto percentual, já que o Copom já indicou que os juros vão continuar subindo se a inflação não der sinais de queda no que eles chamam de cenário relevante, que aponta para taxas em 2025 e 2026.
“Diante de um cenário mais adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões”, diz o comunicado divulgado nesta quarta-feira (11) à noite.
A taxa Selic passou de 11,25% para 12,25% e pode chegar no início do próximo ano a 14,25% se forem feitas duas novas altas de um ponto percentual.
O fato é que a decisão unânime do Banco Central em dar um “choque de juros” sinaliza tanto para o governo como para o Congresso que agora a bola está com eles. Se o ajuste fiscal não for aprovado, o BC terá de seguir apertando sua política monetária, o que vai levar a uma forte desaceleração da economia, com riscos de uma recessão.
“O pior seria deixar a inflação ficar fora de controle, isso pune mais o presidente de plantão, como ocorreu na eleição dos Estados Unidos”, acrescenta um interlocutor do governo Lula.
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