O brilho do Basalt

O brilho do BasaltEduardo Rocha

Leis da atração

Citroën C3 Basalt Shine aposta no design e no bom custo/benefício

por Eduardo Rocha

Auto Press

A Citroën passou por maus bocados no Brasil. A marca francesa tinha por aqui uma imagem associada à inovação e ao requinte, mas perdeu o rumo quando a antiga controladora PSA resolveu fazer dela uma marca de entrada. Na indústria, porém, nada é tão imediato. Desde a decisão, em 2014, até que os primeiros produtos nessa nova filosofia começassem a chegar ao mercado se passou uma geração automotiva inteira, de sete anos.

No Brasil e em diversos mercados periféricos, essa mudança foi concretizada com a chegada do C3 hatch em 2022. No ano seguinte, foi apresentado o SUV C3 Aircross. Nesse quarto trimestre de 2024, foi a vez do SUV cupê Basalt, que funciona como um fechamento de ciclo, com preços bem agressivos. A versão de entrada Feel 1.0 sai a R$ 96.990 e a topo de gama, Shine Turbo 200, a R$ 115.890.

Com o Basalt, a Citroën passa a atuar no segmento de SUVs cupês compactos ainda novo no mercado. Nele estão apenas o Volkswagen Nivus e o Fiat Fastback, ambos a R$ 119.990 na versão mais simples – nas mais completas passam de R$ 150 mil. Além do preço, o Basalt traz como atrativos um desenho imponente e moderno, espaço interno generoso e bom nível de equipamentos. Mas boa parte desse bom custo/benefício se deve à redução quase ao limite legal mínimo dos recursos de segurança. Além de airbags frontais, ABS e controle de estabilidade, que são obrigatórios, o modelo traz apenas airbags laterais.

Mesmo sem a designação C3, o modelo segue o conceito da gama. Além de plataforma e motorizações, o Basalt compartilha elementos de acabamento e diversas peças de carroceria. As semelhanças também chegam na assinatura luminosa bifurcada envolvendo o farol, nos para-lamas projetados e as linhas combinando traços geométricos e orgânicos, com vincos e musculatura nas laterais.

Na parte mecânica, ele traz o mesmo motor Turbo 200 gerenciado por um câmbio CVT presente na gama C3 e em outros modelos do Grupo Stellantis, como o Peugeot 2008 e o próprio Fiat Fastback. Com 1.191 kg e o propulsor com 125/130 cv e 20,4 kgfm com gasolina/etanol, ele cumpre o zero a 100 km/h em 9,7/10,2 segundos. A máxima fica em 194 km/h e o consumo prometido é de 7,4/10,6 km/l na cidade e 8,4/12,0 km/h na estrada, com etanol/gasolina.

Em relação ao conteúdo, o Basalt traz câmera de ré com sensor traseiro, ar-condicionado digital, banco do motorista e volante com regulagem de altura, vidros elétricos, rodas de liga-leve diamantadas com pneus 205/60 R16, controle de cruzeiro, revestimento em couro sintético nos bancos e volante e skidplate dianteiro e traseiro, travas elétricas com telecomando na chave, painel digital colorido de 7 polegadas, central multimídia com tela de 10,25 polegadas com espelhamento sem fio por Android Auto e Apple Carplay. O único opcional é a pintura em duas cores, que pode acrescentar até R$ 3 mil ao valor do modelo (Fotos de Eduardo Rocha, Auto Press).

Ponto a ponto

Desempenho – O motor do Basalt é o GSE 1.0 turbo de três cilindros, de origem Fiat. Ele lida bem com os mais de 1.190 kg do SUV cupê e oferece boas acelerações e recuperações, em parte por conta do bom câmbio CVT com sete marchas pré-programadas. A imagem mais esportiva encontra respaldo no razoável zero a 100 km/h em 9,4/10,2 segundos. Em baixos giros, há um pequeno turbolag, mas não chega a atrapalhar a dinâmica do modelo e com o botão Sport acionado, o modelo fica um pouco mais agressivo, tanto no desempenho quanto no consumo. Nota 8.

Estabilidade – O Basalt tem um acerto de suspensão bem firme, que controla bem a carroceria e encara bem buracos e desníveis. Esse acerto obviamente rouba parte do conforto dos ocupantes, mesmo com pneus 205/60 R16, com 12,3 cm de flanco. Como a proposta é andar no asfalto e na cidade, não chega a ser um problema. A direção elétrica é muito leve e agradável de manusear. Nota 8.

Interatividade – A central multimídia Uconnect com tela de 10 polegadas e conexão sem cabo é o ponto alto do habitáculo do Basalt. A tela não tem controle físicos, mas como é ampla, tem comandos permanente na própria tela, o que facilita o uso. O painel digital de sete polegadas é pouco configurável (não é possível ter dados de consumo e conta-giros ao mesmo tempo), mas traz as informações mais importantes. A versão tem câmera e sensor de ré, mas apesar de ser topo de gama não traz itens já popularizados como chave presencial, alerta de colisão. Nota 7.

Consumo – O InMetro ainda não divulgou oficialmente os dados de consumo do Basalt, mas as médias apresentadas pela Stellantis são idênticas às do C3 Aircross, 7,4 e 8,6 km/l com etanol na cidade e na estrada e 10,6 e 12,0 km/l com gasolina. É pouco eficiente para um compacto. Tanto que recebeu notas C na categoria e no geral. Nota 6.

Conforto – O interior do Basalt é espaçoso, mas o caimento acentuado do teto alto rouba um pouco o espaço para a cabeça de quem vai atrás. Como é alto e tem boa distância para o solo, consegue encarar bem os desníveis, mas a suspensão é rígida e transfere para os ocupantes boa parte das irregularidades. Os bancos seguram bem o corpo, mas poderiam ser mais macios. O isolamento acústico é deficiente e dificulta as conversas em um tom de voz normal. Nota 7.

Tecnologia – A segurança não é um dos pontos altos do Basalt. Ele é construído em uma versão simplificada da arquitetura CMP, menos segura que a versão usada pela marca na Europa. O modelo ainda não foi testado pelo Latin NCap, mas o C3 Aircross com airbag duplo, estruturalmente semelhante, recebeu zero estrelas nos testes de impacto – com airbags laterais, pode chegar a duas estrelas. O item mais tecnológico do modelo é mesmo a central multimídia de 10 polegadas e espelhamento sem cabo. O motor Turbo 200 é moderno, mas faltou o sistema de bloqueio eletrônico do diferencial, disponível no Fastback com a mesma motorização. Nota 7.

Habitabilidade – A boa altura da cabine do Basalt oferece uma postura mais ereta dos ocupantes, mas o caimento acentuado do teto pode incomodar passageiros mais altos atrás. Já o espaço transversal é a esperada em um compacto. Atrás, três adultos ficam pouco confortáveis. Entrada e saída é facilitada pela altura do modelo e o porta-malas oferece bons 490 litros. Nota 8.

Acabamento – O interior do Basalt é semelhante ao da gama C3. A combinação de texturas e cores é de bom gosto, mas não transmite a ideia de qualidade ou de refinamento. Ao contrário: os materiais deixam clara a preocupação com custos de produção. Na versão de topo, os carpetes e os revestimentos em couro sintético são pouco refinados. Nota 6.

Design – O Basalt tem porte e linhas ousadas, que distinguem o modelo nas ruas. As proporções são bem equilibradas e dão bastante personalidade ao SUV cupê. O ponto alto é mesmo o perfil, com o teto com um caimento leve em curva. A frente segue o face-family da marca, enquanto a traseira traz lanternas com relevo também bastante originais. O conjunto é bem atraente. Nota 9.

Custo/benefício – Como o objetivo da Citroën é aumentar a participação no mercado brasileiro, o preço é uma ferramenta fundamental. Pelo mesmo preço, o Basalt Shine é mais equipado que os rivais diretos, Fastback e Nivus. Numa decisão racional, o modelo da marca francesa leva vantagem. Nota 8.

Total – O Citroën Basalt Shine T200 somou 74 pontos em 100 possíveis.

Impressões ao dirigir

Pragmatismo básico

A primeira coisa que chama a atenção no Citroën Basalt é a imponência de suas proporções. A linha de cintura alta e o capô altos, combinados com a reduzida área envidraçada lateral, valorizam o caimento do teto e o aspecto esportivo do modelo. Com a frente robusta, para-lamas largos e a boa altura dão um aspecto de solidez ao modelo. Essas características são confirmadas parcialmente pelo zero a 100 km/h abaixo de 10 segundos (9,7 s com etanol e 10,2 s com gasolina). Um desempenho convincente para um SUV cupê que tem preço semelhante ao de alguns hatches com equipamentos semelhantes.

A posição de dirigir é típica de SUV, em que o condutor tem ampla visão do entorno, mas carece de um ajuste de profundidade do volante – efeito colateral do controle de custos no projeto. Por dentro, a ideia de despojamento é levada a sério: materiais são rústicos, há um excesso de plásticos duros nos revestimentos e até o couro sintético dos bancos é pouco refinado.

Essa economia atinge também materiais fonoabsorventes e até a tinta – parte menos visíveis, como o interior do cofre do motor, não recebem a pintura de acabamento e ficam no prime. Nesse segundo caso, o único incômodo é estético, mas a questão do isolamento acústico causa incômodo, já que em velocidades mais altas fica difícil estabelecer uma conversa em tom normal.

Por outro lado, o Basalt é bastante generoso em relação ao espaço para pernas e cabeças – apenas pessoas bem altas podem sofrer com o caimento acentuado do teto no banco traseiro. O porta-malas é também muito espaçoso, com seus 490 litros bem utilizáveis. Em relação aos equipamentos, o modelo se equilibra bem na relação custo/benefício. Como a central multimídia Uconnect com 10 polegadas e o painel digital. Além disso, traz airbags laterais, câmera e sensor de ré, controle de cruzeiro e rodas de liga leve.

Sob o capô, o Basalt traz o motor GSE T200, a versão turbinada do Firefly 1.0 de três cilindro, aqui chamado de Turbo 200. Trata-se de um propulsor extremamente moderno, com válvulas de admissão controladas pelo sistema eletro-hidráulico Multiair, comandado por um câmbio CVT. Ele rende 125/130 cv e 20,4 kgfm. O conjunto tem uma programação intermediária, para combinar desempenho e economia. Há um turbolag evidente – o torque só está a pleno em 1.750 rpm – mas não chega a incomodar em condições normais de uso.

Ficha técnica

Citroën Basalt Shine Turbo 200 AT

Motor: Gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 999 cm³, três cilindros em linha, sobrealimentado por turbocompressor com wastegate elétrica e quatro válvulas por cilindro. Comando de válvulas no cabeçote por sistema eletro-hidráulico MultiAir na admissão e por eixo comando simples no escape. Injeção direta de combustível sequencial e acelerador eletrônico.

Potência máxima: 125/130 cv a 5.750 rpm com gasolina/etanol.

Torque máximo: 20,4 kgfm a 1.750 rpm com gasolina/etanol.

Transmissão: Câmbio CVT com acoplamento por conversor de torque com 7 velocidades pré-programadas à frente e uma a ré. Tração dianteira.

Aceleração 0-100 km/h: 9,7 e 10,2 segundos com etanol e gasolina.

Velocidade máxima: 194 km/h com etanol e gasolina.

Diâmetro e curso: 70,0 mm X 86,5 mm. Taxa de compressão: 10,5:1

Suspensão: Dianteira do tipo McPherson independente com barra estabilizadora, molas helicoidais e amortecedores hidráulicos telescópicos pressurizados a gás. Traseira com travessa deformável, molas helicoidais e amortecedores hidráulicos telescópicos pressurizados a gás.

Pneus: 205/60 R16.

Freios: A disco ventilado na frente e tambor na traseira com ABS e EBD.

Carroceria: Utilitário esportivo cupê em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,34 metros de comprimento, 1,82 m de largura, 1,59 m de altura e 2,65 m de distância entre-eixos. Altura mínima do solo de 19,2 cm. Oferece airbags frontais e laterais.

Peso: 1.191 kg.

Capacidade do porta-malas: 490 litros.

Tanque de combustível: 47 litros.

Produção: Porto Real, Brasil.

Lançamento no Brasil: outubro de 2024.

Preço da versão Shine Turbo 200: R$ 115.890.

Opcionais: Pintura em duas cores (R$ 3.000).

Preço da versão testada: R$ 118.890.

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