Equipe do filme sobre primeiro bebê de proveta espera aumentar conscientização e gerar debate

Louise Brown, o primeiro bebê de proveta, no lançamento do filme “Joy” em Londres, em 15 de outubro de 2024ADRIAN DENNIS

Adrian Dennis

A equipe de “Joy”, um filme sobre os pioneiros britânicos da fertilização in vitro (FIV), espera conscientizar sobre o status “frágil” desta técnica de reprodução assistida, quando ela está sendo contestada pelos conservadores dos EUA.

“Joy”, que estreou nesta sexta-feira (22) na Netflix, relata a feroz oposição que os cientistas que desenvolveram esta técnica enfrentaram nos anos 1960 e 1970, período que nasceu Louise Joy Brown (1978), o primeiro bebê de proveta.

A fertilização in vitro foi difamada pela Igreja e pela mídia, conforme relembrado nesse longa-metragem, com um elenco de prestígio, incluindo a atriz neozelandesa Thomasin McKenzie e o ator britânico Bill Nighy.

Louise Joy Brown, de 46 anos, disse à AFP estar muito feliz com o lançamento do filme, que dá aos cientistas “o reconhecimento que eles merecem”.

Apesar de mais de 10 milhões de nascimentos por meio da FIV, a técnica é cada vez mais atacada, principalmente nos EUA, por conservadores que querem restringir seu uso.

Em outros países, incluindo alguns europeus, o conservadorismo religioso e as dificuldades financeiras dos sistemas de saúde pública limitaram o acesso ao procedimento.

A situação continua “muito frágil”, afirma à AFP o ator James Norton.

– Pioneira esquecida –

Para o diretor Ben Taylor, que tem dois filhos concebidos pela FIV, o objetivo do filme não é focar nas controvérsias atuais.

“Nossa história também é uma história de oposição”, destaca. “Fala de medo, de ignorância e de pessoas que tentaram obstruir algo que foi desenvolvido com o objetivo de dar esperança às famílias”, acrescenta.

O diretor decidiu centralizar a história ma experiência da personagem de Jean Purdy. Esta enfermeira e embriologista falecida em 1985 desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento da FIV, no entanto não foi reconhecida por décadas.

Apenas em 2015 seu nome foi acrescentado a uma placa fixada ao hospital no norte da Inglaterra onde trabalhou durante anos.

Até então, a placa só homenageava seus colegas homens, Robert Edwards (ganhador do Prêmio Nobel de Medicina em 2010 e falecido três anos depois), e Patrick Steptoe (que morreu em 1988).

Além de seu diretor, várias pessoas associadas ao filme utilizaram fertilização in vitro.

Entre eles, os co-roteiristas Jack Thorne e Rachel Manson, que tiveram um filho desta forma, e que, com a estreia do filme, buscaram conscientizar o público de que este tratamento é cada vez menos inacessível na Inglaterra.

Segundo Rachel Manson, o serviço de saúde pública do país (NHS), com pouco dinheiro, está reduzindo cada vez mais o uso dessa técnica.

“As pessoas que hoje têm acesso à FIV são as que podem pagar”, denuncia Thorne.

“Isso é um erro… E espero que este filme ajude a abrir o debate”, acrescenta.

Para Louise Joy Brown, limitar a fertilização in vitro é contra a “ética” de seus inventores.

“Bob (Robert Edwards), Patrick (Steptoe) e Jean (Purdy) queriam que todos pudessem se beneficiar disso e eu concordo”, diz a primeira bebê de proveta.

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