
Bashar TALEB
Explosões, ambulâncias e corpos nas ruas. Os moradores da Faixa de Gaza reviveram, nesta terça-feira (18), o caos da guerra dos últimos meses, após os bombardeios israelenses mortais lançados durante a madrugada contra o devastado território palestino.
“O chão está repleto de cadáveres e pedaços de carne, e os feridos não encontram um médico que os atenda”, conta Ramiz al Amarin, um deslocado palestino, no hospital al Ahli, na Cidade de Gaza.
“Reacenderam o fogo do inferno em Gaza”, acrescenta este palestino de 25 anos, que acordou sobressaltado quando começou a ouvir as explosões.
“Transportei vários filhos dos meus vizinhos que estavam feridos”, continua. “Mas não há leitos para recebê-los”.
Dezenas de corpos, alguns cobertos com uma manta, jazem enfileirados em frente ao hospital al Ahli. O centro opera de forma limitada pelo desbloqueio por parte de Israel da ajuda humanitária e do combustível.
Sentados perto dos cadáveres, familiares permanecem com semblante sério, às vezes perdido.
“Não esperava que os combates fossem retomados, sobretudo depois de [o presidente americano, Donald] Trump dizer que não queria a guerra”, diz al Amarin.
Israel lançou os ataques mais intensos contra o território palestino desde que começou a trégua com o Hamas, em 19 de janeiro.
O governo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, acusou o Hamas de bloquear os diálogos para estender a trégua e se negar a libertar os reféns retidos em Gaza.
O movimento islamista palestino, no entanto, desmente esta informação e acusa Israel de não respeitar o acordo.
– “É uma guerra de extermínio” –
O Ministério da Saúde de Gaza ressaltou que pelo menos 413 pessoas morreram nos ataques.
A agência da Defesa Civil, que costuma prestar os primeiros socorros, alerta há semanas que carece do necessário para ajudar os 2,4 milhões de habitantes de Gaza.
“Não há socorristas!”, grita Jihan al Nahal, uma mãe residente no noroeste da Cidade de Gaza.
Alguns familiares de seu bairro, Al Nasr, morreram ou ficaram feridos nos bombardeios. As explosões começaram enquanto ela preparava a comida do Ramadã, o mês de jejum sagrado do islã.
“Houve enormes explosões, como se fosse o primeiro dia da guerra, ouviam-se gritos por todas as partes, havia chamas e as vítimas eram, em sua maioria, crianças”, descreve.
“Esta é uma guerra de extermínio”, afirma, antes de condenar Israel.
Perto de sua casa, em Beit Hanun, os moradores decidiram fugir. Com bolsas e cobertores, o fizeram inclusive antes de o exército ordenar a evacuação das zonas fronteiriças.
Na Cidade de Gaza, grupos de habitantes deixaram uma escola transformada em centro de deslocados. Alguns prédios desmoronaram após os ataques.
Uma mulher observava os destroços em meio às ruínas. Os moradores que falaram com a AFP se disseram chocados. Para alguns deles, é como se o tempo tivesse parado.
No hospital indonésio de Beit Lahia, ao lado de Beit Hanun, uma menina surge com as duas mãos cobertas por vendas. Seu rosto está cheio de arranhões.
Em silêncio, ela observa o rosto de seu irmão mais novo, envolto em uma bolsa para cadáveres, deitado em uma maca.
Ao seu redor, os adultos chegam, muitos choram. Uma jovem desaba aos gritos entre os corpos.