Faxineiro que levou soco de morador em prédio é afastado: ‘psicológico abalado’; VÍDEO


Funcionário receberá atendimento psicológico após receber um encaminhamento do Centro de Atenção Psicossocial (Caps). Condomínio disse ter prestado apoio ao faxineiro, mas que ele “perseguiu” o casal de moradores pelo edifício em Praia Grande, no litoral de São Paulo. Faxineiro é agredido a socos por morador de condomínio após discussão em Praia Grande (SP)
Publio Neto, o faxineiro de 25 anos que foi agredido por um morador do prédio onde trabalha em Praia Grande, no litoral de São Paulo, ficará afastado do serviço até sexta-feira (8) por estar “psicologicamente abalado” e, também, por recomendação do Centro de Atenção Psicossocial (Caps), que o encaminhou a um atendimento com especialista.
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O caso aconteceu no Condomínio Edifício Residencial Vinhas, no bairro Guilhermina. As imagens, obtidas pela equipe de reportagem, mostram o profissional levando socos após discutir com o homem e a esposa dele pelo uso indevido de trajes de banho na entrada social do edifício.
Ao g1, ele contou que tem sentido fortes dores de cabeça e pelo corpo após as agressões. Nesta quarta-feira (6), receberá atendimento psicológico para uma avaliação. Ele foi encaminhado pelo Caps. “Estou ali trabalhando no prédio, uma coisa justa e digna, e sou tratado dessa maneira. Estou muito mal com isso tudo”, afirmou o faxineiro, sobre o afastamento.
Em nota, o condomínio citou que os vídeos mostram o faxineiro “perseguindo” e “importunando” a mulher após a discussão. Apesar disso, o edifício ressaltou que não compactua com qualquer tipo de violência e, se “qualquer agressão tiver de fato ocorrido, serão os condôminos penalizados” (leia o posicionamento completo no fim da reportagem).
O g1 entrou em contato com a moradora do prédio e ela não quis se pronunciar sobre o ocorrido até a última atualização desta reportagem. O marido dela e a empresa responsável pela limpeza do edifício ainda não foram localizados.
Faxineiro afastado
Ao g1, Publio disse sofrer com fortes dores pelo corpo após as agressões, precisando ir ao pronto-socorro duas vezes nos últimos dias. Além dos desconfortos físicos, ele afirmou que também passa por dificuldades psicológicas por conta do ocorrido.
“Não estou conseguindo dormir de noite. Estou com o psicológico abalado porque não é fácil ouvir que a gente é ‘faxineiro’ e a pessoa é ‘proprietária’. Não é fácil passar por uma agressão […]. Quando eu começo a lembrar disso, me sinto inferior”, desabafou ele.
O rapaz ressaltou que precisa do trabalho porque não tem família na cidade e paga pelo aluguel da casa onde mora com a esposa. O faxineiro saiu de Salvador (BA) há três meses em busca de serviço no litoral paulista. Publio disse ter conseguido o emprego no prédio assim que chegou à Baixada Santista, embora a mulher ainda esteja sem trabalhar.
Faxineiro é agredido a socos após discussão com morador de condomínio em Praia Grande (SP)
Publio Neto
Discussão
Segundo Publio, a situação começou após ele ter orientado o casal a sair do prédio pela porta lateral, uma vez que é proibido circular pela entrada principal usando trajes de banho. “Ele [morador] olhou para a minha cara e falou: ‘Eu não estou sujo e nem estou com cooler. Vai para merda, vai procurar cagar. Fica aí limpando'”, afirmou o faxineiro.
Publio acrescentou que, após as ofensas, entrou em contato com o síndico, que o orientou a registrar a ocorrência junto ao número do apartamento do casal no caderno do condomínio.
O funcionário afirmou que, quando o casal voltou da praia, tentou entrar no elevador junto com eles para descobrir o número do apartamento. É nesse momento que Publio começa a seguir e filmar o casal. Ele chega a colocar o pé na porta do elevador para entrar, mas é impedido pelo morador.
A situação causou nova discussão. O casal, portanto, resolveu deixar o elevador e seguir até o apartamento pelas escadas. E, mais uma vez, o faxineiro os seguiu filmando os moradores. No vídeo, o homem aparece puxando, sem sucesso, o celular da mão de Publio.
Sem conseguir pegar o aparelho, o morador desiste de impedir a gravação e continua em direção ao apartamento. A esposa, porém, permanece no local discutindo com o funcionário. Ela pediu: “Para de me atormentar”.
E continuou: Por que você não vai [não completou a frase]? Porque eu sou proprietária e você é faxineiro. Eu posso dividir [o elevador], só que com você eu não posso”, disse a moradora.
Faxineiro seguiu os moradores para descobrir número de apartamento
Publio Neto
A mulher voltou para as escadas, com o faxineiro ainda atrás dela. A moradora disse que ele “não conhece o marido dela”, e o rapaz questionou se a fala havia sido uma ameaça. Ambos ficaram em silêncio até chegarem em frente ao apartamento.
‘Importunação’ e socos
O morador, que já estava na porta do imóvel, correu em direção ao faxineiro, mas escorregou em um cooler. Em seguida, ele alcançou o funcionário e aplicou diversos socos nele.
“Socorro! Socorro! Socorro!”, gritou o faxineiro, enquanto era agredido pelo morador.
Após se desvencilhar do morador, Publio foi até a Central de Polícia Judiciária (CPJ) da cidade, onde registrou um boletim de ocorrência de ‘lesão corporal e injúria’ contra o casal.
Condomínio
Em nota, o Condomínio Edifício Residencial Vinhas afirmou que o síndico prestou apoio imediato ao faxineiro. Ele teria perguntado se o funcionário precisava de algo e se estava em condições para trabalhar, mas Publio respondeu que a situação era “chata”, embora não visse a necessidade de suspender o serviço.
Ainda segundo o condomínio, o faxineiro alegou ter sido agredido verbalmente e fisicamente pelo morador. “O que vemos nas imagens é o funcionário praticando verdadeiro ato de perseguição e importunação em desfavor da condômina, que encarecida e repetidamente pedia para não ser seguida”, pontuou o edifício.
Por fim, o condomínio ressaltou que não compactua com nenhuma ação de violência e está empenhado na apuração dos fatos. “Se qualquer agressão tiver de fato ocorrido, serão os condôminos penalizados na forma da convenção coletiva e da lei positivada”, concluiu.
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