Criador do sanduíche bauru, radialista, estudante de direito e jogador de sinuca: quem foi Casimiro Pinto Neto


Sanduíche é um dos mais famosos do Brasil e teve sua receita consolidada como patrimônio cultural imaterial de Bauru (SP). Modo de fazer oficial do lanche agora consta no Livro de Registro de Saberes. Casemiro Pinto Neto protagonizou a criação do lanche
Ponto Chic/Divulgação
O bauruense Casimiro Pinto Neto foi o responsável pela criação de um dos sanduíches mais tradicionais do Brasil: o bauru.
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Nascido em 5 de abril de 1914, na cidade de Bauru (SP), Casimiro se mudou para São Paulo na década de 1930, onde cursava a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), no Largo de São Francisco.
Foi no Ponto Chic, um tradicional bar e lanchonete paulistano, que ele inventou o lanche que se popularizaria a ponto de carregar o nome de sua cidade natal.
Em 1936, Casimiro estava no local, que é famoso por atrair estudantes da cidade, quando surgiu a ideia do sanduíche. Como ele tinha uma partida de sinuca para jogar, estava com fome e pressa.
“Era um dia que eu estava com muita fome. Cheguei para o sanduicheiro Carlos e falei para abrir um pão francês, tirar o miolo e botar um pouco de queijo derretido dentro. Depois disso, o Carlos já ia fechando o pão e eu falei: ‘Calma, falta um pouco de albumina e proteína nisso’. Eu tinha lido em um opúsculo de alimentação para crianças da Secretaria de Educação e Saúde, escrito pelo ex-prefeito Wladimir de Toledo Pisa, também frequentador do Ponto Chic, que a carne era rica nesses dois elementos. Então falei para botar umas fatias de rosbife junto com o queijo. E já ia fechando de novo quando eu tornei a falar: ‘Falta vitamina, bota aí umas fatias de tomate’. Este é o verdadeiro Bauru”, explicou o inventor enquanto vivo.
Sanduíche bauru é patrimônio cultural do estado de SP
Ponto Chic/Divulgação
O sanduíche rapidamente se espalhou entre os clientes do Ponto Chic. Após provar o novo lanche, um amigo de Casimiro, Antônio “Quico” Boccini Júnior, gostou tanto que pediu um igual ao garçom. A combinação simples, mas inovadora, logo se popularizou, com o nome bauru sendo associado ao lanche.
“Quando estava comendo o segundo sanduíche, chegou o ‘Quico’, Antônio Boccini Júnior, que era muito guloso, e pegou um pedaço do meu sanduíche e gostou. Aí ele gritou para o garçom: Me vê um desses do Bauru”, relatou o criador do lanche.
Balcão do restaurante onde foi originário o sanduíche bauru
Ponto Chic/Divulgação
Em entrevista ao g1 no aniversário de 90 ano do Ponto Chic, o proprietário, José Carlos de Souza, contou que o sanduíche teve um papel fundamental na vida do bar.
“Desde sua criação, se tornou o carro-chefe do cardápio e contribuiu para que o bar se tornasse ponto de encontro de jornalistas, políticos, esportistas, entre outros profissionais, provocando ainda mais a reunião de pessoas formadoras de opinião que ajudaram a escrever a história da cidade de São Paulo. A divulgação do nome Bauru teve reflexos colaterais também na situação econômica da região noroeste do estado de São Paulo, principalmente para o município de Bauru”, contou.
Famoso sanduíche bauru foi criado no restaurante Ponto Chic, que fica na região central de SP
Divulgação
Advogado e radialista
Além de ser o criador do famoso sanduíche, Casimiro teve uma vida marcada pela trajetória na advocacia, no jornalismo e até na Revolução Constitucionalista de 1932, na qual foi combatente.
Ele também foi o primeiro “Repórter Esso” de São Paulo e exerceu funções públicas, como auxiliar de gabinete do secretário da Justiça César Lacerda de Vergueiro e oficial de gabinete do governador Adhemar de Barros.
Casimiro morreu em dezembro de 1983, aos 69 anos.
Fachada da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, onde Casimiro Pinto Neto se formou
Marcos Santos/USP Imagens/Divulgação
Receita original é patrimônio imaterial
Hoje, o bauru é feito com pão francês sem miolo na parte de cima, rosbife, queijo amarelo derretido, tomate e picles. Porém, a versão original, criada por Casimiro em 1936, não levava picles – o ingrediente foi acrescentado ao lanche na década de 1950, influenciado pelos fast foods americanos.
Conheça a história do “Sanduíche Bauru” criado por Casimiro Neto em 1936
“Uma das particularidades do sanduíche bauru é que, além do rosbife, ele se tornou tradicional também pelo picles. No entanto, o picles foi uma adição dos donos do Ponto Chic, influenciados pelos lanches norte-americanos. O próprio Big Mac, por exemplo, leva picles. Assim, o picles não fazia parte da receita original, mas foi incorporado na versão tombada”, contou ao g1 Lilian Henrique de Azevedo, secretária do Codepac de Bauru.
Em 2018, o bauru foi reconhecido como patrimônio cultural imaterial do estado de SP, e, em outubro de 2023, foi oficialmente registrado como patrimônio cultural de Bauru. O lanche agora faz parte do Livro de Registro de Saberes, que documenta práticas culturais tradicionais da cidade.
O caso do ‘Bauruzinho’
Para eternizar um dos símbolos da cidade, uma estátua do lanche, apelidada de “Bauruzinho”, foi colocada no Parque Vitória Régia nos anos 2000, mas acabou sendo furtada por estudantes, que a utilizaram para enfeitar sua república.
Os suspeitos foram detidos e, em 2008, a estátua foi recuperada e reinaugurada no Terminal Rodoviário de Bauru, onde permanece até hoje.
Cidade paulista de Bauru tem monumento do ‘Bauruzinho’
Carlos Hinke/Machine Cult
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