Mãe de comerciante morto a facadas pede respeito após receber fotos do corpo na web: ‘Não quis ver até hoje’


Igor Peretto, de 27 anos, foi morto a facadas em Praia Grande (SP). Rafaela Costa, a viúva, Mario Vitorino, o sócio, e Marcelly Peretto, a irmã da vítima, foram presos. Rosemary Ronconi fez publicação nos stories do Instagram sobre imagens do filho morto
Redes sociais
Rosemary Ronconi, a mãe do comerciante Igor Peretto, pediu respeito nas redes sociais após receber fotos do filho morto. A vítima, de 27 anos, foi assassinada a facadas em Praia Grande, no litoral de São Paulo, em 31 de agosto. “Se eu não quis ver até hoje é porque me dói”, afirmou a mulher.
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Três pessoas próximas a Igor foram presas: Rafaela Costa (viúva), Marcelly Peretto (irmã) e Mario Vitorino (cunhado e sócio). O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) concluiu que o trio premeditou a morte de Igor, dentro do apartamento de Marcelly, porque ele era um “empecilho no triângulo amoroso”.
Rafaela Costa e Marcelly Peretto se entregaram em 6 de setembro. Mario, por sua vez, foi detido após ser encontrado escondido na casa de um tio de Rafaela, em Torrinha (SP), no dia 15 do mesmo mês.
Por meio do Instagram, a mãe da vítima afirmou que muitas pessoas não demonstraram empatia diante da perda dela e, inclusive, enviaram imagens do corpo de Igor.
“Estou muito chateada com esse pessoal sem noção que tem capacidade de mandar as fotos do meu filho no IML [Instituto Médico Legal]”, desabafou Rosemary. “Tenham respeito por mim! Se eu não quis ver até hoje é porque me dói”.
A mãe de Igor também pediu desculpas a quem gosta de acompanhá-la na internet. Em seguida, ela anunciou que vai tornar a conta privada. “Infelizmente me dói e, no momento, vou me afastar dessa rede social”, escreveu Rosemary.
Imagens do corpo
Casais estavam dentro do apartamento onde Igor Peretto foi encontrado morto em Praia Grande (SP)
Yasmin Braga/g1 e Reprodução/Redes Sociais
Segundo o advogado criminalista Matheus Cury, o vilipêndio de cadáver [ato de ultrajar ou tratar com desprezo] consta no artigo 212 do Código Penal.
“A divulgação pode ser por mostrar imagem, compartilhamento ou qualquer outro meio. Desde que tenha dolo de menosprezar, desrespeitar”, afirmou o especialista.
De acordo com o advogado, caso isso aconteça, os familiares devem reunir as provas, preservando-as por ata notarial [documento lavrado em cartório], perícia técnica ou serviço de verificação de provas.
Em seguida, segundo ele, a orientação é entregar as provas à polícia para identificar os autores, seja pelo nome ou por meio do endereço IP [número atribuído a cada dispositivo na internet] caso não sejam identificados.
O g1 entrou em contato com Rosemary, mas não obteve retorno até a última atualização da reportagem. O vereador Tiago Peretto, irmão da vítima, informou que ela não deseja falar sobre o assunto.
‘Traição tripla’
Mãe de Igor Peretto diz que filho sofreu ‘traição tripla’
Arquivo Pessoal e Reprodução/Redes Sociais
De acordo com depoimentos dos envolvidos, o casal Mario e Marcelly teria um envolvimento amoroso com Rafaela, a viúva de Igor, o que teria motivado o assassinato.
Em ocasião anterior, Rosemary disse ao g1 que o filho sofreu uma “traição tripla” de Rafaela, Marcelly e Mario Vitorino. Ela afirmou que os três estavam entre as pessoas que a vítima mais amava.
“O que mais me dói e dilacera o coração é que ele foi morto por pessoas que amava”, desabafou Rosemary. “Estou destruída e inconformada”.
Veja, a seguir, o que se sabe e o que falta saber sobre o caso:
Como aconteceu o crime?
Igor Peretto foi morto no dia 31 de agosto, no apartamento da irmã, Marcelly Peretto.
De acordo com a promotoria do MP-SP, Igor teria sido atraído por Rafaela e Marcelly até o apartamento onde foi moto a facadas por Mário.
No imóvel estavam a vítima, Marcelly (irmã) e Mário Vitorino (cunhado e sócio de Igor). Rafaela Costa (viúva) chegou com Marcelly ao apartamento, mas o deixou 13 segundos antes do marido chegar com o suspeito pelo assassinato.
De acordo com os depoimentos do trio e dos advogados, a viúva Rafaela tinha um caso com Mário. Além disso, o advogado de Marcelly chegou a dizer que a cliente e Rafaela tiveram um envolvimento amoroso no local antes da chegada de Igor e Mario no apartamento.
Segundo o MP-SP, apesar de Rafaela, a esposa de Igor, ter sido filmada deixando o imóvel antes do crime, ela participou do “plano mortal” e até fez pesquisas sobre em “‘quanto tempo o corpo demora a feder?”.
Imagens mostram Marcelly, Rafaela, Mário e Igor momentos antes do crime em Praia Grande (SP)
Reprodução
Ainda de acordo com o MP-SP, Rafaela deixou o apartamento, mas permaneceu em seu veículo nas proximidades, aguardando o desfecho do homicídio e a fuga dos comparsas”.
Quando trio foi preso?
Rafaela e Marcelly se entregaram para a polícia em 6 de setembro. No dia 15 do mesmo mês, Mario foi detido após ser encontrado escondido na casa de um tio de Rafaela, em Torrinha (SP).
A prisão de Mario só foi possível graças às informações que o irmão da vítima, o vereador Tiago Peretto, recebeu em forma de denúncia anônima sobre o paradeiro do cunhado.
No início de outubro, a prisão temporária de Rafaela, Marcelly e Mario foi prorrogada. Na ocasião, a defesa de Rafaela chegou a entrar com pedido de habeas corpus, que foi negado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
A Justiça de Praia Grande (SP) converteu as prisões do trio para preventivas, após a denúncia feita pelas promotoras Ana Maria Frigerio Molinari e Roberta Bená Perez Fernandez, do MP-SP.
A esposa, irmã e o cunhado de Igor Peretto podem ser levados a júri popular.
O que disseram as testemunhas?
Em depoimento à Polícia Civil, duas vizinhas contaram detalhes sobre a discussão que ouviram no dia do crime.
Segundo a denúncia do MP-SP, Igor entrou no apartamento desconfiado de uma traição e demonstrou estar decepcionado com a irmã e o cunhado. “Do que adiantou eu fazer tudo? Eu me esforço tanto, eu fiz isso sempre por todos, seus traíras, p***”, teria dito a vítima antes de ser morta a facadas.
Uma delas relatou que Igor declarou amor pela esposa:
“Vocês sabem o quanto eu amo aquela mulher, [o] quanto sou louco por ela”, disse Igor, de acordo com uma testemunha. “Vocês tudo contra mim, tudo armando contra mim. Eu era o único que não sabia de nada.”
Vídeos mostram momentos antes e depois do assassinato de comerciante que descobriu traição
O que diz o laudo?
O laudo pericial, obtido pelo g1, detalha as lesões de Igor: sete facadas na região do peitoral: uma na testa, uma no lado direito do rosto, uma próxima à orelha direita e uma nas costas.
A PM foi acionada pela síndica do prédio após ela ter ouvido muito barulho e não ter conseguido contato com Marcelly, a dona do apartamento.
No local, os policiais precisaram forçar a entrada no imóvel e se depararam com um cenário de violência, de luta corporal, com muito sangue e o corpo de Igor no quarto.
Segundo o laudo, as manchas de sangue foram os principais vestígios encontrados pela perícia. Elas estavam no corredor do prédio e dentro do apartamento.
No interior do apartamento, as manchas estavam espalhadas por vários cômodos, principalmente na sala, na cozinha, no corredor e na suíte, onde o cadáver foi encontrado.
Mario Vitorino abraça Marcelly Peretto (à esq.) após assassinato do irmão dela; faca usada no crime (à dir.)
Reprodução
A faca, considerada pela perícia como provável instrumento usado no crime, estava coberta de sangue e foi encontrada no chão do banheiro social. Ela tem 36 cm de comprimento total, 23 cm de lâmina pontiaguda e uma largura máxima de 5 cm.
O documento revelou, ainda, que a ponta da lâmina estava ligeiramente entortada, o que sugere que a faca pode ter sido usada com força considerável durante o ataque.
Outro aspecto que chamou a atenção: os danos nos batentes das portas do banheiro e do quarto entre o banheiro e a suíte. Eles apontam, de acordo com o documento, para uma tentativa de arrombamentos. Entretanto, não foram encontrados fragmentos de madeira, o que pode dar a entender que os danos seriam anteriores.
O que Marcelly disse à polícia?
Segundo o advogado Leandro Weissmann, Marcelly estava “à vontade” e sozinha no apartamento após Rafaela deixar o imóvel.
Leandro Weissmann acrescentou que Marcelly estava nua e descansando no próprio quarto, após ingerir bebidas alcoólicas e fazer uso de ecstasy, quando Igor e Mario chegaram. “Os dois subiram [de elevador] e já entraram no apartamento discutindo”, afirmou.
De acordo com o advogado, Marcelly disse à Polícia Civil que estava “totalmente desnorteada” por conta do efeito do entorpecente.
“Ela [Marcely] falou que o Igor, quando brigava ou discutia, não deixava ninguém entrar nas discussões dele. Sabendo disso, nem se envolveu, pois achou que seria um ‘bate-boca’. Não imaginava que chegaria a esse ponto”, complementou Weissmann.
Igor Peretto foi encontrado morto com 11 facadas no quarto do apartamento da irmã, em Praia Grande, SP
Laudo pericial e reprodução
Marcelly também disse à polícia ter visto Igor quebrando um espelho com um chute durante a discussão. Neste momento, ainda de acordo com o advogado, a mulher saiu do quarto em direção a outro cômodo, com o objetivo de se vestir.
“Quando ela saiu e foi para o outro quarto, ainda não tinha agressão nenhuma”, afirmou o advogado. Por fim, Weissmann afirmou que Marcelly encontrou o irmão já esfaqueado quando deixou o segundo cômodo.
O que disse Mario?
Para o advogado Mario Badures, o cliente Mario Vitorino agiu em legítima defesa.
Badures apresentou à imprensa imagens que mostram que, 16 dias após o caso, o cliente ainda tinha hematomas da luta corporal que teve com Igor.
De acordo com ele, o rosto do cliente ficou inchado e a palma da mão foi atingida pelo espelho (veja abaixo).
Advogado de cunhado de comerciante assassinado mostra imagens dos hematomas no corpo de Mario 16 dias após o crime
Reprodução
“Marcelly, que é a testemunha presencial, que estava no local dos fatos, fala que o Igor, na posse de um espelho, de um vidro quebrado, que era um espelho, foi na direção de Mario. Isso é a investigação que diz”, disse.
O advogado afirmou que existem testemunhas e moradores que relatam que houve pancadaria e gritos de socorro. “Existe um porteiro que interfona para o apartamento e a vítima Igor que atende o interfone e fala que está tudo bem”.
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