Beiju feito por quilombolas no ES desde o século XIX ganha selo de reconhecimento histórico e cultural


Alimento a base de mandioca é de origem indígena e a forma da sua produção é passada de geração em geração. Produto é feito na região de Sapê do Norte, em São Mateus e Conceição da Barra. Selo reconhece Beiju como produção e cultura quilombola de São Mateus e Conceição da Barra
O beiju produzido por quilombolas na região de Sapê do Norte, em São Mateus e Conceição da Barra, no Norte do Espírito Santo, ganhou um Selo de Identificação Geográfica (IG) que atesta a qualidade e a origem do produto.
Fabricado desde o século XIX, o alimento a base de mandioca é de origem indígena e a forma da sua produção é passada de geração em geração, além de servir como fonte de renda de aproximadamente 21 famílias.
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O reconhecimento veio em uma publicação do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) em agosto deste ano.
Além de ajudar na economia local, a produção do beiju é um símbolo de resistência e reafirmação da identidade quilombola.
“Hoje com esse selo, vai dar uma alavancada muito grande nas produções, não só das comunidades quilombolas, mas de todo território de Sapê do Norte que abrange Conceição da Barra e São Mateus”, pontuou a presidente da Associação Sapê do Norte, Domingas Verônica.
Beiju é feito por quilombolas em São Mateus e Conceição da Barra, no Espírito Santo, desde o século XIX
Reprodução/TV Gazeta
Para conseguir ganhar o reconhecimento nacional, todo o processo do beiju, desde o seu plantio, precisa ser feito na comunidade e as tradições precisam ser mantidas em cada etapa até a finalização do alimento.
Com o selo, o produto que é fabricado na região contemplada se torna único e ganha uma importância histórica na hora de ser vendido também. Quem mantêm a tradição, comemorou o selo adquirido.
“Agora a gente tem mais poder, reconhecimento”, comentou a quilombola Marlete Graciano Alves.
O que é um Selo de Identificação Geográfica (IG)?
Em uma das etapas de preparação do beiju, a mandioca é descascada em roda de conversa em comunidade quilombola no Norte do Espírito Santo
Reprodução/TV Gazeta
O registro de Indicação Geográfica (IG) ou indicação de procedência, é conferido a produtos ou serviços que são característicos do seu local de origem, o que lhes atribui reputação, valor intrínseco e identidade própria, além de os distinguir em relação aos seus similares disponíveis no mercado.
São produtos que apresentam uma qualidade única em função de recursos naturais como solo, vegetação, clima e saber fazer.
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O Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) é a instituição que concede o registro legal de IG no país. O selo é concedido a partir de algumas premissas analisadas: a Indicação de Procedência e a Denominação de Origem.
A Indicação de Procedência é o nome geográfico de país, cidade, região ou localidade de seu território, que se tenha tornado conhecido como centro de extração, produção ou fabricação de determinado produto ou de prestação de determinado serviço.
Beiju produzido por comunidades quilombolas de Sapê do Norte, no Norte do Espírito Santo, ganha selo de Identificação Geográfica
Reprodução/TV Gazeta
Já a Denominação de Origem é o nome geográfico de país, cidade, região ou localidade de seu território, que designe produto ou serviço cujas qualidades ou características se devam exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico, incluídos fatores naturais e humanos.
Para conseguir o selo, cada produtor precisa manifestar o interesse e receber uma visita da Associação Sapê do Norte.
O beiju
Beiju produzido por comunidades quilombolas de Sapê do Norte, no Norte do Espírito Santo, ganha selo de Identificação Geográfica
Reprodução/TV Gazeta
O beiju é produzido a partir da goma e da massa de mandioca. Seu plantio é feito em período propício para o melhor desenvolvimento da safra, considerando as fases da lua e fatores climáticos, como chuva e umidade.
Após doze meses de cultivo, é realizada a colheita da mandioca. O alimento é direcionado à casa de farinha, ou quitungo (como o espaço é chamado pelos nativos), para as etapas que consistem em descascar e ralar.
Muitas vezes a mandioca é descascada em uma roda de conversa utilizando uma farinheira tradicional de um quilombo.
“Eu aprendi vendo a minha mãe fazer, desde pequena. A gente via e a gente também foi aprendendo. Passei para as filhas, sobrinhas, isso aqui é geração de pai para filha. A gente vivia disso aqui, de beiju. Toda a casa que a gente chegava, a gente encontrava um prato de beiju para tomar café”, disse a quilombola Beatriz dos Santos.
Produção do beiju em comunidades quilombolas no Norte do Espírito Santo é passada de geração em geração
Reprodução/TV Gazeta
Em seguida, são realizadas as etapas referentes à extração da massa da mandioca, ao descanso para a eliminação de toxinas e à manipulação da goma e polvilho, até, finalmente, chegar ao processo de preparo do beiju.
A matéria-prima do beiju é lavada, cortada, prensada e triturada até virar a goma. O próximo passo já é peneirar e deixar a massa pronta para a fase final do beiju.
“Antigamente era manual. Hoje a gente não usa nada disso mais, tudo máquina”, disse o quilombola Domingos Rodrigues.
O alimento pode ser finalizado e enriquecido com outros produtos, como coco e amendoim.
Beiju é feito por quilombolas em São Mateus e Conceição da Barra, no Espírito Santo, desde o século XIX
Reprodução/TV Gazeta
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