Evandro Teixeira, um dos maiores fotojornalistas do Brasil, morre no Rio de Janeiro


Inúmeras vezes premiado, Evandro foi testemunha ocular da ocupação do Forte de Copacabana, em 1º de abril de 1964. Ele driblou a segurança para registrar o começo do golpe. Evandro Teixeira, um dos maiores fotojornalistas do Brasil, morre no Rio de Janeiro
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Morreu nesta segunda-feira (4), no Rio de Janeiro, aos 88 anos, Evandro Teixeira, um mestre do fotojornalismo no Brasil.
Qual o melhor ângulo para se contar uma história? Qualquer um escolhido pelas lentes do fotógrafo Evandro Teixeira. Foram as lentes dele que mais imortalizaram a luta contra os horrores da ditadura no país. Como a da multidão de cariocas na Passeata dos Cem Mil, em 1968, na Cinelândia, centro do Rio de Janeiro.
“Foi um dia glorioso, foi um dia memorável. Você está ali de frente, na Cinelândia, chegando ali aquela gente famosa, intelectuais, artistas, mas também tinha um outro lado. A fotografia tem essa função de contar a história, de ficar para a história”, disse Evandro Teixeira.
Fotografia Passeata dos Cem Mil, de Evandro Teixeira
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Evandro foi testemunha ocular da ocupação do Forte de Copacabana, em primeiro de abril de 1964.
“Nós batemos continência, já conhecido, fardado, eu com a câmera escondida debaixo da camiseta. Entramos. Essa foi uma foto exclusiva, único fotógrafo a entrar no Forte de Copacabana no golpe militar”, contou.
Evandro foi testemunha ocular da ocupação do Forte de Copacabana, em primeiro de abril de 1964.
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Suas marcas estão no flagrante preciso do estudante em fuga na Sexta-feira Sangrenta, no Centro do Rio.
Flagrante preciso de Evandro Teixeira do estudante em fuga na Sexta-feira Sangrenta, no Centro do Rio.
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O baiano, nascido em 1935, no povoado de Irajuba, ainda muito jovem, fez um curso de fotografia, à distância. Desembarcou no Rio em 1957, com muito talento e uma carta de recomendação para trabalhar no “Diário da Noite”. De lá, veio o convite para o “Jornal do Brasil”, onde ficou por 47 anos.
E seu trabalho cruzou fronteiras. Em setembro de 1973, Evandro Teixeira mirou suas lentes para o golpe militar do Chile. Alguns registros foram feitos no Estádio Nacional, onde Evandro conseguiu, mais uma vez, driblar a polícia do ditador Augusto Pinochet e provar a violação de direitos humanos.
Ainda no Chile, somente Evandro fotografou o corpo do poeta Pablo Neruda, no hospital, sendo velado pela família.
“Foi muita emoção. Meu trabalho, talvez o mais importante, porque foi um furo internacional”, contou Evandro Teixeira.
No Chile, somente Evandro fotografou o corpo do poeta Pablo Neruda, no hospital, sendo velado pela família
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Em quase 70 anos de atividade, não era apenas estar no lugar certo, na hora certa. Evandro Teixeira construía seus movimentos para estar dentro da notícia e sabia como se posicionar para um enquadramento perfeito. Mago das câmeras e das lentes, com uma escadinha estratégica que o deixava acima do chão, no ponto certo, um cuidado extra com a luz e muitas doses de sensibilidade. Ele era muito mais do que um fotógrafo entre tantos outros. Suas obras eram arte.
O sol é um dos elementos entre as bailarinas do Cantagalo. O olhar atento encontrou libélulas na ponta das baionetas. Suas lentes denunciaram a fome e a pobreza no sertão do Nordeste e valorizaram as festas populares.
Sol é um dos elementos entre as bailarinas do Cantagalo, fotografia de Evandro Teixeira
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Não foi à toa que ganhou, em vida, uma honraria. Uma poesia escrita só para ele por um admirador do seu trabalho.
“Dois olhos não são bastantes para captar o que se oculta no rápido florir de um gesto. É preciso que a lente mágica enriqueça a visão humana. Fotografia é o codinome da mais aguda percepção”, assinado, Carlos Drummond de Andrade.
Poesia escrita por Carlos Dummond de Andrade a Evandro Teixeira
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